October 16, 2020

Deambulações

 


Cada um de nós e todos somos o centro do universo, mas para essa posição não ser degradadora, antes rica, ela tem de ser um ponto no vértice de um cone invertido e não o oposto. A visão totalizadora tem de ser uma projecção do olhar que vê desde a base do cone invertido a sua posição no vértice inferior, abarcando a totalidade nesse olhar. Se não invertemos o universo-cone e nos pomos no topo a nossa visão fecha-se em vez de se abrir. É por isso que nem toda a gente tem capacidade para a verdade. É preciso muita revisão introspectiva, racional, muita coragem de percorrer os abismos, reconhecer os demens que aí moram, enfrentá-los e, mesmo não podendo ultrapassá-los, aceitá-los e aceitando-os, aceitar-se, sendo, com eles, numa dimensão humana, que inclui os outros que preenchem o cone que se alarga a partir de nós. Aceitar ser humano, não como desculpa, num olhar de cima para baixo, mas como uma determinação particular de natureza que tem a possibilidade de desconstruir-se a si mesmo e reconstruir-se conscientemente. Não é para a maioria que vive no topo do cone, com a máscara agarrada à cara sem nunca a tirar, nem saber que isso é possível e que uma outra existência é possível. Acho que é esta a tragédia humana de que falam tantos filósofos. 


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