September 10, 2020

Perspectivas

 


Lê-se ali no 2º parágrafo que há quem insista em escrever, sem pudor, que João Costa chumbou dois alunos. Na verdade não chumbou mas mandou chumbar, embora de forma capciosa para parecer que não. De facto, a lei diz que os alunos com faltas injustificadas acima de um certo número, chumbam. No entanto, a verdade é que a prática, incentivada por este mesmo SE tem sido a de permitir que os alunos tenham centenas de faltas e que mesmo assim passem. Até se tiraram as faltas das pautas para o escândalo não ser visível, embora, muito capciosamente, digam que é na protecção de dados que pensam. Pois, claro... Já que se fala em lei, a lei diz que o Conselho de Turma é soberano nas decisões. Ora, neste caso, o Conselho de Turma decidiu (a meu ver, bem, pois pensou no interesse dos alunos, apesar da imprudência e falta de juízo dos pais em aconselharem os miúdos a faltar às aulas) passar os dois alunos. Ora, o SE foi a correr interferir e proferir despacho, dizendo, 'cumpra-se a lei'. Então, mas já se tinha cumprido, visto que o CT tem legitimidade para decidir. Mas ele fez questão de interferir e dizer, 'cumpra-se a lei', ou seja, faltaram indevidamente, não passam. É claro que não diz isto claramente porque é uma pessoa que diz sem dizer para não se comprometer. Um espertalhão com estas manobras que se inscrevem na prática de enviar ordens às escolas não assinadas, para se desresponsabilizarem, como tem sido reportado que aconteceu várias vezes durante este tempo escolar em pandemia. Pior, no mesmo despacho em que se diz, 'cumpra-se a lei', vai acrescentando, que está muito preocupado com o futuros dos dois rapazes. O cúmulo da hipocrisia. E vá-se lá ver... por magia, não é que depois do despacho dele o CT mudou a sua decisão...? Onde estão os despachos do SE a dizer, 'cumpra-se a lei' nos milhares e milhares de casos de alunos que passam com centenas de faltas, em claro desrespeito pela mesma lei...?

Quando esta Isabel Moreira fala em ódio à cidadania ou a pessoas que têm sexualidades diferentes, só mostra a sua limitação em perceber qualquer ideia com um bocadinho de complexidade. 

Vamos lá a ver: não sou a favor de ter uma disciplina de cidadania à parte. Não tem mérito suficiente que se sobreponha aos inconvenientes. É o mesmo que numa casa em que a mãe é proibida de trabalhar, ou de usar contraceptivos, haver uma hora por semana onde os pais falam dos direitos das mulheres... no básico sobrecarrega o horário dos miúdos, que já é carregadíssimo; no secundário, roubam horas de aulas, sendo que num e noutro caso, os temas de que se fala nessa disciplina, excepto os de organização política, já se abordam em outras disciplinas, devidamente tratados por professores que os enquadram em conhecimentos científicos, sistematizados. 

É mais importante termos uma escola que dê exemplo e incentive ao comportamento cívico de respeito por todos (independentemente de género, cor, raça, sexualidade, etc), de respeito pelos outros animais e pela natureza e, de respeito pela lei e pelos princípios democráticos do que ter uma disciplina de, 'dizer coisas'. 



artigo de Isabel Moreira, 

no Público de hoje

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