August 03, 2020

Ter as pessoas e não as aproveitar



Dois casos emblemáticos. O primeiro, uma bióloga que chega aos 50 anos com muito trabalho feito e prémios mas com um contrato precário de sobrevivência. Vê na internet um anuncio de um cargo na administração pública inglesa, concorre e ganha. Isso cá seria impossível. Somos um país que despreza o mérito em favor da cunha e do amiguismo e nunca na vida uma desconhecida de 50 anos conseguiria, sequer, ir a concurso. Passa-se a vida a promover amigos incompetentes e a ver os competentes fugirem ou desistirem. O segundo caso é o dos arquitectos. Somos um país pequeno mas cheio de arquitectos reconhecidos a nível mundial, só que aqui no país ninguém está interessado em valorizá-los. Há sempre um amigo pato-bravo que faz as vezes de arquitecto de borla. Um português quer é borlas. Também os médicos e os enfermeiros e os engenheiros os editores e os professores e muitos outros emigram. Vão-se embora para outro país trabalhar, pagar impostos e ter filhos porque aqui em Portugal o país está reservado para os amigos e para os outros que aceitem ganhar dois euros à hora em regime de exclusividade. 
Os políticos que temos fizeram isto, activa e passivamente.


"Portugal pagou a minha educação e a Inglaterra tem uma pessoa extremamente competente sem investir"

Bióloga marinha, investigadora, professora, dirigente na área do ambiente, Alexandra Cunha foi obrigada a emigrar aos 50 anos. Concorreu e foi escolhida entre os melhores para consultora do governo britânico.

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Precariedade: “Só conheço um arquitecto com contrato. São casos excepcionais”

Já tive uma entrevista para um estágio onde me ofereciam dois euros à hora em regime de exclusividade. E onde me disseram que ‘o que não falta são arquitectos’

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