August 27, 2020

Isto não é bem assim, JMT

 



Sim, é verdade que devemos construir os sistemas para resistirem aos homens imorais e daí haver orgãos de soberania que se vigiam uns aos outros. No entanto, não é verdade que se olhe para os problemas isoladamente: acontece é que os casos vão sendo divulgados um a um e tenta-se resolvê-los à medida que surgem. Porque resolver todo o sistema de uma só vez, só com uma revolução ou uma reforma, mas a reforma tem de ser querida pelos políticos em exercício. 

E é aqui que reside o erro de JMT quando diz que tendemos a ver a corrupção como uma falha de carácter de pessoas e que não nos cabe corrigir a natureza humana. A corrupção é mesmo uma falha de carácter e devemos denunciá-la o mais cedo possível e com veemência e tentar afastar essas pessoas dos cargos, porque o que nos diz a História é que são os políticos quem melhora ou piora os sistemas, se os cidadãos o permitirem.

George Washington declinou, em 1796, um terceiro mandato presidencial que muitos queriam, estabelecendo o precedente de dois mandatos no cargo, o que foi visto como uma salva-guarda contra o poder tirânico do género do da Coroa Britânica durante a era colonial. Nada estava escrito na Constituição a esse respeito. Mais tarde, em 1908, Theodore Roosevelt, muito pressionado para um terceiro mandato, também declinou, seguindo o precedente de Washington. 

O seu primo afastado, Franklin D. Roosevelt, decidiu, em 1940, quebrar o princípio de Washington, alegando a situação de guerra e concorreu para um terceiro mandato, que ganhou. Perdeu bastantes apoiantes-chave do Partido Democrático por causa dessa decisão. Os republicanos fizeram uma campanha muito forte centrada nos perigos de um terceiro mandato.

Em 1944, Thomas Dewey, o candidato republicano falou no perigo para a democracia se Roosevelt ficasse 16 anos no cargo. Num discurso nesse ano, Dewey disse, 'quatro termos ou 16 anos é a maior ameaça proposta à nossa democracia. Por essa razão, penso que o limite de dois termos deve ficar escrito na Constituição'. O que aconteceu: em 1947, o Congresso, de maioria republicana, aprovou a 22ª emenda impondo um limite de dois mandatos no cargo. (fonte)

Portanto, é verdade que temos que construir sistemas políticos que sejam capazes de resistir aos imorais, mas também é verdade que, se não vigiamos e afastamos os corruptos e imorais dos cargos (nenhum sistema lhes é completamente imune), eles dedicam-se a minar a democraticidade do sistema, mudando regras, para satisfazer os seus interesses imorais, até não termos volta atrás a não ser com uma revolução. 

Dito de outro modo, os Washingtons e os Trumans mudam os regimes para melhorar a democracia e os Putins mudam para a piorar. Por conseguinte, reparamos na natureza moral dos primeiros e na imoral de Putin e é uma pena que não o tenham tirado de lá a tempo. Alguém tem dúvida que, se a 22ª emenda não existisse, Trump tentaria ficar no cargo, 'à Putin?'

Não se trata de mudar a natureza humana: trata-se de criar sistemas de controlo e, ao mesmo tempo, detectar e mandar embora todos os que mostram práticas de corrupção antes que eles corrompam o sistema.





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