Ser moderador de conteúdos do FB é mais ou menos como trabalhar num matadouro. Aqui há uns 15 anos tive um aluno que desistiu da escola no 10º ano porque tinha quase 19 anos, não estudava nada e os pais mandaram-no trabalhar. No ano seguinte bateu-me um dia à porta da sala onde estava a dar aula à antiga turma dele, perguntou se podia assistir, era o seu dia de folga. Quis saber o que ele andava a fazer. Trabalhava num matadouro. Disse que passava o dia a matar vitelas e vitelos. Que não conseguia dormir. Tinha pesadelos. Um da turma, muito parvo, chamou-lhe assassino de vitelos. Coitado do miúdo. Ele era do género de estar sempre a palhaçar e parecia outro. Muito sério. Que trabalho tão difícil e deprimente, ainda para mais para um adolescente. Ganham pouquíssimo Por acaso vi-o há menos de dois anos num supermercado. Era o encarregado da distribuição dos produtos na loja. Estive a falar um bocadinho com ele. Fiquei contente de o ver contente.
Enfim, lembrei-me dele depois de ter lido um artigo de uma rapariga que trabalha como moderadora de conteúdos do FB. É mais ou menos como trabalhar num matadouro. Ela diz que passam oito horas por dia a ver conteúdos agressivos que os utilizadores denunciaram e a decidir se os devem excluir: horas e horas a verem pessoas a serem espancadas, torturadas, pornografia violenta, violações, pornografia infantil, decapitações, humilhações... ela diz que já viu de tudo. Há dias em que começa a chorar. Ninguém faz nada porque os outros estão na mesma e há dias em que são outros que choram. Que trabalho horrível. Ganham pouquíssimo. Então, lembrei-me que era giro começar a denunciar vídeos de gatinhos e bebés para dar descanso àquela gente e um bocadinho de ânimo.
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