A favor do debate livre e contra a intolerância de ideias
Noam Chomsky, Steven Pinker, Margaret Atwood e Francis Fukuyama apelam ao “debate livre” em carta publicada na Harper’s
No documento, mais de 150 artistas e pensadores aplaudem os apelos à “igualdade e inclusão” nos protestos desencadeados pela morte de George Floyd, mas manifestam preocupação pelo “novo conjunto de atitudes morais e compromissos políticos” que enfraquecem as “normas de debate livre e tolerância”.
O sociólogo Noam Chomsky, as escritoras Margaret Atwood e J.K. Rowling, o ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov, o psicólogo Steven Pinker, o filósofo Francis Fukuyama e a activista Nadine Strossen, ex-presidente da União Americana pelas Liberdades Civis, são alguns dos signatários, apoiantes de diferentes ideologias políticas e representantes de diversos sectores de acção e pensamento. Argumentando que “o ‘iliberalismo’ está a ganhar força” e que este terá no Presidente Donald Trump “um aliado poderoso”, os autores sustentam que “a inclusão democrática que todos queremos só pode ser conseguida se nos manifestarmos contra o clima intolerante que se instalou nos vários lados da barricada”
Os signatários defendem que “a troca livre de informação e ideias, que é vital numa sociedade liberal”, está cada vez mais em risco, sugerindo que a censura, da “intolerância a visões opostas” ao clima de sede por “humilhação pública e ostracismo” que as redes sociais potenciam, está a “espalhar-se amplamente na nossa cultura”. “Nós defendemos o valor de uma contra-resposta robusta — e às vezes até corrosiva — de todos os quadrantes. Mas agora é demasiado comum ouvirmos exigências de castigos rápidos e severos em resposta a supostas transgressões de discurso ou pensamento”, sublinham.
“Líderes institucionais estão a atribuir castigos precipitados e desproporcionados em vez de aplicarem reformas estruturais com consideração”, salientam. “Editores de publicações estão a ser despedidos por publicarem artigos controversos”, “jornalistas estão a ser impedidos de escrever sobre determinados tópicos” e “responsáveis por organizações estão a ser afastados por incidentes que, às vezes, são apenas erros descuidados”, exemplificam os escritores da carta, concretizando que, “quaisquer que sejam os argumentos em cada incidente particular”, os “limites daquilo que pode ser dito sem a ameaça de represálias” estão a ficar progressivamente mais “estreitos”. “A restrição do debate, quer por um governo repressivo quer por uma sociedade intolerante, invariavelmente prejudica aqueles que não têm poder”, concluem. “Devemos derrotar as más ideias através de exposição e persuasão, não através de silenciamento.”
... O que se passa, sugere, é que “já existe há algum tempo um clima que nos preocupa a todos”.
“Há muitas pessoas que parecem pensar que o debate livre é uma coisa que não é saudável”, complementa, similarmente, Nicholas Lemann, autor na revista New Yorker e um dos signatários da carta que é também citado pelo New York Times. “Eu passei a minha vida inteira a discutir vigorosamente com pessoas que têm visões com que não me identifico, e não quero pensar que estamos a sair dessa realidade.”
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