June 15, 2020

Diário de bordo



É um facto que estou farta de estar fechada em casa. Estou aqui desde 13 de Março e fora uma vez que saí, na semana passada, para ir arejar, mais outra vez que fui ao cabeleireiro, só saí para ir a médicos e exames médicos (torturas...), fisioterapeuta, farmácia e nada mais. Dou comigo a falar alto, sozinha. E a remoer...

Faço um grande esforço para me manter bem disposta porque esta besta que mora aqui no peito, mesmo em cima do meu coração, está sempre à espreita a ver se me vê fraquejar. Tornei-me mestre na arte de transformar as não-boas notícias que me dão enviesadamente, naquele hábito que os médicos têm, e que a mim não me ajuda, de fazer gestão da informação, em boas notícias. Aprendi a focar-me nos aspectos positivos. Mas isto não é imediato e custa, é um esforço muito grande da vontade, este de calar o cão do estômago - ainda não fui à net ler o relatório da última tortura porque de cada vez que me motivo para isso, o cão rosna furiosamente. Amanhã...

E não sou uma pessoa pessimista ou que só me foque nas coisas que me deitam abaixo, antes pelo contrário, tenho uma longa lista de músicas de pôr bem disposta e de técnicas mentais de compartimentar o que me faz mal ou põe triste mas, não é fácil manter a boa disposição. 
Agora por exemplo, estamos no fim do ano e gostava de ir à escola, para as reuniões de notas. Ver os colegas, retomar aquelas rotinas, mas como, se nesta altura é uma confusão de pessoas, na salas de profs e na de DTs e de alunos e colegas na secretaria? 

E para o ano que vem, como vai ser, com a escola cheia de gente? As turmas vão diminuir de alunos, como tem de ser? Os horários vão ser um bocado desencontrados? Ver o ME não estar a trabalhar para resolver as coisas e optar pelo menor esforço, faz-me pensar que vai lavar as mãos, atirar tudo para cima das escolas para que se desenrasquem. 

Tudo isto deprime um bocado. Ontem limpei a playlist de músicas nostálgicas e tristes. Não me posso dar ao luxo de alimentar o gato de Schrödinger.

Agora, de cada vez que conheço alguém novo, o que acontece por causa da doença, é de máscara, o que significa que só vemos, uns dos outros, os olhos e a testa. Acontece as pessoas ficarem com curiosidade e ao fim de duas ou três vezes começam a inventar pretextos para tirar as máscaras e para que a gente as tire também. Isto, por exemplo, que é um bocadinho deprimente, quer dizer, conhecemos as pessoas mas se as virmos na rua não as reconhecemos, decidi transformar em algo engraçado que acho piada, para não ser mais uma realidade cinzenta da pandemia e de este ano (lectivo, só funciono por anos lectivos) que em geral, foi de arrasar.

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