April 04, 2020
Porquê 4 de Maio? Por cobardia política
O primeiro ministro está farto de dizer que 4 de Maio é o limite para haver 3º período presencial. Porquê 4 de Maio? Por causa dos exames.
Vejamos: o que é preferível? Os alunos terem possibilidade de concluir o ano lectivo, darem a matéria em falta, terem oportunidade de subir as notas, concluir as disciplinas semestrais, etc. ou não terem nada disso e o ano que vem ser muito complicado por ter de se dar programas extensíssimos, mas fazerem exames? Acho que a resposta é óbvia e não é o terem exames.
A decisão de empurrar o fim do ano lectivo e declarar este ano como um ano sem exames, é um decisão política que o primeiro ministro não tem coragem de tomar.
O ensino à distância não é uma nova forma de ensinar, como agora leio nos muitos emails que as editoras me mandam para comprar pacotes disto e daquilo. Se eu partir a perna de uma cadeira e conseguir que ela se aguente com fita cola até poder levá-la a uma loja de reparação, não é mau, mas não posso dizer que arranjei uma nova forma de construir pernas de cadeiras, não. Apenas desenrasquei, temporariamente, uma situação complicada.
O ensino à distância, sobretudo na escolaridade obrigatória não-universitária (embora aí, também) não tem qualidade e já tanta gente escreveu sobre isso, sobre a importância da presença física do professor para estabelecer uma relação que sustente a aprendizagem, pois educar e ensinar não é passar instruções e informações de um lado para outro, que não vou insistir nisso.
Portanto, que se perceba que este desenrascanço, que serviu para o governo ver, 'claramente visto', que as desigualdades de condições entre as famílias prejudica o sucesso dos alunos e que serviu para os pais perceberem que ensinar não é fazer de babysitter, mas antes requer estratégias e conhecimentos especializados, não substitui o ensino presencial, nem é um progresso ou uma nova forma de ensinar. Pelo contrário.
Já agora, outra questão que ficou bem à vista foi o erro das disciplinas semestrais. Disciplinas semestrais fazem sentido quando não têm continuidade - são uma espécie de curso intensivo. Como nas escolas isso não acontece e as disciplinas semestrais prolongam-se por anos e são interrompidas, muitas vezes, por um ano ou mais e, como estamos a falar de miúdos que não têm as aprendizagens consolidadas, não são do interesse dos alunos: passam muito tempo sem contacto com a disciplina (nas línguas já estamos a ver que é um desastre) e causam complicações nas avaliações, sendo que os miúdos têm poucas oportunidades de subir as notas. É preciso ver que os miúdos em idade escolar não têm um desenvolvimento estável e linear estruturado, mas de grandes saltos, porque estão, justamente, a construir a estrutura e, portanto, é bom que haja três períodos no ano lectivo, para permitir a acomodação desses saltos de desenvolvimento.
Concluindo: mais valia empurrar o fim do ano lectivo e declarar este, um ano sem exames, do querer à força declarar o ano findo com simulacros que não são do interesse dos alunos.
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