The Babylonian Story of the Flood [trans. W. G. Lambert and A. R. Millard] contains the lines:
“When the land extended and the peoples multiplied […]
The god got disturbed with their uproar.
Enlil heard their noise
And addressed the great gods,
‘The noise of mankind has become too intense for me,
With their uproar I am deprived of sleep...’”
The god got disturbed with their uproar.
Enlil heard their noise
And addressed the great gods,
‘The noise of mankind has become too intense for me,
With their uproar I am deprived of sleep...’”
Na Antiguidade o silêncio aparece como o primeiro sinal de uma situação em que o homem se encontra no limite, entre o impossível e o desconhecido. Aparece, por exemplo, quando alguém experencia um sofrimento tão terrível que os sentidos, a certa altura, deixam de conseguir registá-lo. Falamos de uma dor mental, mais que física.
Ovídio mostrou-o em, Metamorfoses. A personagem, Hecuba, mulher de Priam, Rei de Tróia, tinha como fado experienciar o pior de tudo, em tudo. Tendo sido uma rainha cheia de orgulho e mãe de muitos filhos, viu a destruição de Tróia, a morte de seu marido e filhos e a desonra das filhas e noras, violadas e levadas como cativas pelos gregos vitoriosos. Viu a morte de seu neto, Astyanax, atirado da muralha da cidade conquistada. Viu a filha, Polyxena, sacrificada no túmulo de Aquiles. Viveu na esperança de que, pelo menos um dos seus filhos tivesse sobrevivido à exterminação, pois antes da guerra tinha enviado o jovem Polydorus para o seu amigo, o Rei da Trácia.
Pois o seu filho também foi morto traiçoeiramente e o seu corpo atirado ao mar. O momento em que Hecuba toma conhecimento deste facto é descrito por Ovídeo: [trad. A. S. Kline]: "Ela viu o corpo de Polydoro na praia, coberto das feridas abertas infligidas pelas lanças trágicas. As mulheres troianas choravam mas ela estava imóvel de dor. A dor retirava-lhe ao mesmo tempo, o poder da palavra e as lágrimas que jorravam interiormente e ela mantinha-se imóvel como uma rocha, com o olhar, ora fixo no chão, ora virado para o céu. Ora olhava o rosto de seu filho morto, ora as suas feridas..."
O poeta contrasta os gritos desesperados das mulheres troianas com o silêncio com que a mãe olha o corpo morto do seu último filho. Para pessoas criadas no ruído constante este silêncio é o sinal de um sofrimento para além de todos os limites. Não admira que o silêncio tenha sido transferido para lá dos limites humanos, para o mundo dos deuses.
Na Antiguidade o silêncio tem 3 dimensões metafísicas: existe no mundo dos mortos, o Hades, no mundo dos sonhos, Hipnos para os gregos (Somnus para os latinos) e no mundo do Norte com os seu frios ventos. Para o mundo mediterrâneo o Norte aparece como uma terra de trevas e frio. As florestas profundas e escuras, cheias de seres medonhos, bárbaros, fora dos limites da civilização. Durante meses, as terras mergulhadas no silêncio imóvel do gelo e da neve.
O Homem da Antiguidade que vivia na realidade do barulho e da comoção, por um lado desejava o silêncio, que associava aos deuses e às dimensões metafísicas, por outro lado temia-o, porque relacionava-o com a noite, o sono, a morte e o sombrio Norte. O silêncio era causa de ansiedade e de uma multitude de sentimentos contraditórios.
* In the original: “Oh Schweigen, oh todtenstiller Lärm!” – Friedrich Nietzsche, Dithyrambs of Dionysus.
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