April 26, 2020

"Be like Sweden" - Mais alguém que vê o mesmo que eu vejo



É preciso perceber o que isso quer dizer.


Want to Discuss Sweden and COVID19? Start By Looking Backward.


A vast social experiment…”

“Committing suicide…”

“Self-inflicted nightmare…”

“Tragedy…”

A estratégia de roleta russa da saúde dos cidadãos não é assim tão roleta russa como parece. 

Aqueles títulos de jornal suecos não dizem respeito ao assunto do COVID-19 e já têm uns anos. Foram escrito a respeito do acolhimento de refugiados sírios em fuga da guerra. Há seis anos, quando a Suécia começou esse processo de aceitar refugiados, a direita sueca xenófoba começou a lamentar a perda de uma hegemonia étnica e cultural nacionais. A suposta rendição de uma mítica Disneylândia nórdica às forças da imigração foi ligada à política social democrática sueca, a uma esquerda que quereria negar a herança cultural, abraçar o feminismo radical e o fundamentalismo islâmico. Em suma, a Suécia estaria a capitular perante o multiculturalismo.

É no mínimo audaz que aqueles que tanto criticavam as políticas suecas naqueles termos, pelo mundo fora, venham agora citar a Suécia como um exemplo na luta contra o COVID-19, por ter rejeitado o confinamento e ter confiado na racionalidade dos cidadãos. Be Like Sweden, é uma frase que podemos ler nos cartazes dos que nos EUA protestam contra o confinamento obrigatório.

No seis anos que mediaram a abertura de fronteiras aos refugiados e a luta ao COVID-19, não foram só os políticos que pressionaram certas estratégias, mas também a imprensa, supostamente liberal e progressiva. Os refugiados eram vistos e anunciados como riscos sociais e económicos que iriam matar a 'nação mais generosa da Terra'.

O anuncio de não confinamento com o argumento de que os cidadãos suecos fazem o que é correcto sem necessitar de constrangimento deixa de fora todos os não-suecos. O que acontece àqueles que chegaram do Chile, Irão, Iraque, Somália, Afeganistão e Síria? Aqueles que não têm esses hábitos de civismo obediente, que por acaso residem em Estocolmo, que por acaso é a cidade que tem sido enormemente fustigada pelo COVID-19?

Na Suécia e fora da Suécia discute-se o exemplo sueco a partir da vida e hábitos dos suecos e esquece-se, subtilmente, que não são os suecos que estão a adoecer e morrer em grandes números, mas os outros de que ninguém fala: nem os políticos suecos, nem a imprensa sueca, nem os ex-críticos-agora-apoiantes-entusiásticos-da-estratégia-sueca.

E é assim que se resolve o problema da imigração indesejável. Be like Sweden? I don't think so.


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A Dinamarca e a Suécia, juntamente com a Finlândia e, é preciso dizer, os EUA e a Inglaterra, andaram entretidos, nos anos 20 do século XX, uma década e meia antes de Hitler subir ao poder, a esterilizar, em massa, sem o seu consentimento, mulheres de raças não caucasianas, com deficiências. As ideias de Hitler não surgiram do nada... era o espírito da época... a ideia da eugenia começou nos finais do século XIX com um primo de Darwin, Galton e, com o entusiasmo à volta do darwinismo transformado em telos social com as suas metáforas da competição, da sobrevivência do mais forte que legitimavam, entre outros fenómenos sociais, o capitalismo selvagem. Galton defendia o 'melhoramento da sociedade' através da eliminação dos 'indesejáveis' que eram quem carregava e transmitia os 'factores mendelianos' de decadência das sociedades. Estas ideias segundo a qual os indesejáveis eram responsáveis pela degeneração das sociedades, eram moda e foram adoptadas por médicos, biólogos e entusiastas como o ideal das sociedades 'civilizadas'... a criminalidade e a pobreza eram atribuídas exclusivamente a factores hereditários dos 'indesejáveis'. Logo, a esterilização desses portadores dos germes da decadência social era uma maneira de melhorar as sociedades humanas aproveitando os conhecimentos da ciência. Era o tempo do cientismo, também.

 Acontece que as sociedades sueca e dinamarquesa, ao contrário da americana, desde esses tempos das esterilizações em massa de 'indesejáveis', viveram fechadas nos seus mundos arianos quase sem contacto com povos de outras raças dentro das suas portas. Quer dizer, tinham meia dúzia de imigrantes de outras raças a quem até achavam graça e de quem cuidavam muito bem (uma espécie de curiosidades) porque eram muito poucos e não ameaçavam o seu modo de vida e cultura. É fácil, sendo rico, ser generoso com as minorias quando estas são reduzidas a números insignificantes e não ameaçadores. Este países nunca tiveram que lidar com massas de migrantes multiculturais como os EUA de modo que, agora que foram 'invadidos' por centenas de milhares de pessoas, não sabem lidar com esse fenómeno e, em pânico, voltaram aos seus modos antigos, adormecidos, por falta de razão para uso, mas não extintos.

Ora, se juntarmos àquele factor, a moda deste tempo em que vivemos, onde estamos outra vez a deixar ressurgir as ideias do capitalismo selvagem segundo as quais a pobreza se deve à falta de talento e características genéticas das pessoas, que os bons e de mérito são os que estão à frente nos cargos de poder, que a sociedade e a economia deve estar sem regulação porque a natureza se encarregará de fazer os mais fortes e melhores sobreporem-se e outras alarvidades do género, temos o ambiente ideal para a cultura de patogénicos. O cientismo também está de volta. Portanto, o que se passa na Dinamarca e na Suécia, só surpreende quem não sabe da história destes países e das consequências do darwinismo social.

Sweden’s anti-refugee vigilantism has revealed its dark side


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