March 15, 2020

Pensamentos de dois melréis



Pensar na realidade é observar. Observar com muita atenção. Saber observar e fazê-lo, efectivamente, dar esse passo. Sair de si para as coisas e estar nelas. O resto são técnicas para organizar, esquematizar, hierarquizar, relacionar, etc., o que se observa. É como a pintura ou a fotografia. Um pintor observa e pinta o que observa. O resto são técnicas, mas as técnicas sem a observação não produzem uma obra de arte, só uma coisa, um objecto, sem projecção, quer dizer, um objecto que está contido em si e não sai fora de si, não se projecta para nós. Pensar é idêntico. Certo que o observador e o observado estão envoltos num contexto, mas o observar em si mesmo escapa ao contexto, tem uma dimensão diacrónica, como a língua, que podemos usar para designar ou para pensar e se a usamos para pensar ela revela e revela-se-nos.
Por exemplo, aqui, o autor observou a força da curva, como ela puxa e projecta simultaneamente. Depois traduziu essa observação em linhas e cores que contêm a observação. Mas o contexto não enformou a própria observação realizada.
Pensar é saber observar com muita atenção sempre a descascar e depois dar-lhe um sentido, um significado, um rosto.


Tullio Crali. 1930.

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