March 16, 2020

Estratégia inglesa versus estratégia europeia



Leio que os ingleses, relativamente ao COVID-19, estão a adoptar uma estratégia darwinista de deixar a natureza seguir o seu curso, isto é, deixar que muita gente de baixo risco (jovens) se infectem para que desenvolvam anti-corpos e actuem como defesa dos outros, como dizem que acontece na vacinação, se a maioria estiver vacinada. A Europa, pelo contrário está a apostar na contenção e interrupção das cadeias de transmissão, coisa que os adeptos da estratégia darwinista criticam com a justificação de essa estratégia não impedir que surjam novos focos de doença, bastando para isso uma pessoa.

Ora, sendo certo que nestas coisas das crises com consequências graves e globais, sejam de saúde ou outras, só depois de tudo passado é que se acertam contas: o que se fez, se foi demais ou de menos, quem previu, quem devia ter previsto e não previu, etc, podemos, no entanto, desde já ponderar cenários e alternativas.

A alternativa inglesa de deixar as coisas à sorte parece-me pior que a europeia, porque a sorte inclui o azar. Sabendo nós que é provável que se faça uma vacina em meses ou um ano, é melhor ganhar tempo e evitar mortes que confiar que a natureza saberá regular e lidar com este problema de modo orgânico, pois já aconteceu a natureza acabar com uma espécie ou deixá-la tão enfraquecida que acaba por ser vítima de predadores, que neste caso são doenças que podem surgir, pois este vírus, pelo que leio, é novo e não uma variante dos que já existem, de modo que não se sabe o seu comportamento futuro. Eu prefiro a estratégia europeia porque me parece mais prudente.

Há uma diferença entre ser negligente (como foram cá os políticos que desde Dezembro sabiam do que se passava na China e desde início de Janeiro que tinham os especialistas da OMS a dizer que a situação era alarmante) ou tolo (como foram e são vários ministros e responsáveis do conselho de saúde...) e cometer erros. Cometer erros faz parte do processo de pensar e decidir.  Por exemplo, ontem o primeiro-ministro disse que a ponderação da quarentena tinha que ver com uma situação de prolongamento e saturação das medidas (lemos que naqueles programas estúpidos de reality show ao fim de estarem fechados uma semana, e sem estas ansiedades da doença, desatam à pancada), o que faz sentido, quer dizer, ir tomando medidas à medida do necessário. É claro que pode errar, mas o fundamento da decisão é correcto. Já o não-fecho das fronteiras e deixar as pessoas entrar à balda   sem submeter a alguma monitorização, é negligência. O que quero dizer é que não temos que contar com a negligência dos decisores mas temos sempre que contar com os erros.

Outra coisa interessante é fazer uma analogia entre estes argumentos ingleses acerca da melhor maneira de lidar com a epidemia e os da economia de deixar 'os mercados' regularem sozinhos tudo e tirar as devidas ilacções.

4 comments:

  1. O trabalho de tirar conclusões e etc e tal vai dar uma trabalheira aos médicos de Saúde Pública mas é para isso que eles servem.
    Não concordo nada com a estratégia do Boris, mas os ingleses sempre foram muito estranhos.
    Agora meus amigos: fronteiras fechadas JÁ!

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  2. Eu nunca acreditei na suposta sabedoria da 'mãe' natureza.

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  3. No UK, nas últimas 24 horas morreram 20 pessoas.

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  4. Pois, li hoje que os cientista ingleses pedem que se mude de estratégia.

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