Não foi planeado para ser um passo transhumanista, apenas uma melhoria na qualidade de vida, mas a verdade é que foi. Agora tenho duas próteses -duas lentes-, uma em cada olho, transparentes e já leio tudo sem óculos, apesar da cirurgia ao olho direito ser de antes de ontem. Interrompi e superei o processo natural degenerativo da perda de visão devido ao envelhecimento, que está origem de muita cegueira (física, não metafórica), parcial ou total.
Claro que ter próteses não é o mesmo que ter a peça natural que é una com o todo. Agora, durante um tempo, tenho que certos cuidados para que o organismo não rejeite as próteses. E se calhar passo a ter outros impedimentos, dado as próteses serem fabricadas, artificiais. Talvez os seus constituintes interfiram com certo dispositivos ou medicamentos... não sei.
Sei que agora pego num livro e não me canso com a necessidade de estar constantemente a tirá-los para limpar as lentes - ou ficar com as lentes embaciadas a toda a hora. Vou poupar muito dinheiro em óculos. E reverti um processo que, eventualmente, acabaria na cegueira.
A ciência médica tem tido progressos extraordinários na capacidade de ir prolongando a vida com qualidade: não perder a vista, não perder a visão, não perder a locomoção, viver sem este ou aquele orgão, próteses para amputados que permitem andar e correr. E ainda vamos no início. Coisas com que nem sonhamos, daqui a umas poucas dezenas de anos serão vulgares.
É caso para perguntar, no dia em que pudermos substituir todas as nossas peças à media que se danificarem, ainda seremos humanos?