Showing posts with label simplismo. Show all posts
Showing posts with label simplismo. Show all posts

October 14, 2023

Esta análise da monarquia parece-me um bocado simplista




"Para os raros monárquicos que ainda existem e que não o são por pedantismo, presumo que a redução da monarquia a estes espectáculos deva ser preocupante sobre a situação actual da “causa”. Eles sabem muito bem que ver a monarquia circunscrita a funerais e casamentos pode torná-la popular numa “sociedade do espectáculo”, mas diminui-a como força política na sociedade.

Há, em muita gente que nunca se imaginou monárquica, uma genuína simpatia com este folclore, como se viu com o recente funeral da Rainha Isabel II.

Mas o problema principal da monarquia é que o princípio monárquico é inerentemente irracional e antidemocrático. Ser filho de alguém não pode nunca significar, numa democracia, ter direito a um cargo ou uma função."


PP in A causa monárquica e o casamento da “infanta”

--------------------

Não sou monárquica, mas também não sou dogmática em relação à Monarquia ou à República porque me parece uma questão muito mais complexa e profunda do que dizer, como PP, que o princípio da monarquia é irracional e anti-democrático.

Em primeiro lugar, a monarquia não ser, por suposto, democrática, não significa que seja anti-democrática, como penso que PP muito bem sabe. A ideia de termos um princípe educado nos valores de um povo/nação, na sua história e valores que se mantenha afastado das lutas políticas e vele pela identidade e união do povo não só não é uma ideia anti-democrática como existiram e existem ainda povos que devem aos seus monarcas a paz e a coexistência pacíficas. Por exemplo, o Rei dos Belgas, que se intitula assim mesmo em vez de, Rei da Bélgica. A monarquia belga tem sabido conviver com um regime parlamentar democrático, mantendo-se como repositório e espelho da identidade do povo.

Já Platão experimentou essa ideia na República -embora mais tarde a tenha revisto- como meio de evitar que políticos interesseiros, mais preocupados com a ideologia do seu grupo e com o enriquecimento próprio que com os interesses do país, pudessem enfraquecer os alicerces do Estado com a sua ignorância e falta de perspectiva da grande história. 

O grande problema deste princípio é não podermos garantir que todos os príncipes herdeiros sejam educados e assimilem o seu papel de repositório de memória e valores em vez de apenas assimilarem os seus privilégios. Porém, isso também acontece com os políticos, muitos deles a assumir uma posição paternalista à laia de reizinho, com o povo - Mário Soares foi um exemplo disso - e nada nos garante que os políticos tenham, pelo menos, uma noção da importância dos valores comuns do povo que governam.

Portanto, o problema de saber qual é a melhor forma de organização política é mais complexo do que aqui PP faz crer e não é uma negação da razão (irracional) pensar-se que há vantagens em alguém ser educado desde a nascença para servir um povo, nomeadamente na sua identidade e coesão.

Depois, não é sério dizer que a monarquia é só folclore, pois a República com as suas inaugurações a triplicar de cada rotunda e troço de 20 metros de auto-estrada que se faz no país, está cheia de folclore sem significado ou utilidade para o país.

Finalmente, classificar o funeral da Rainha Isabel II como folclore mostra ter falhado em compreender a solenidade do momento e o significado dos rituais como reforço da memória, pelos quais continuamente se refaz e reforça a identidade de um povo, para além da cor das fardas dos militares.