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October 06, 2025

Como precaver-se contra desinformação e manipulação II

 


Sagan chamava a estas ferramentas, o 'kit científico de topar baboseiras'. Na Lógica chamamos-lhes falácias de argumentação, que são erros de raciocínio ou sofismas - tentativas de enganar o outro. São imensos mas os principais são estes:

1. Argumentos de 'autoridade'. Sim, existem autoridades dentro dos campos de conhecimento, mas a sua autoridade limita-se a esse campo e, mesmo assim, não deve ser aceite como uma verdade cristalizada. Por exemplo, Einstein que foi e continua a ser uma autoridade na Física, é usado abusivamente como autoridade em todos os campos. Quem quer fazer passar uma ideia, basta dizer, 'foi Eistein quem o disse', como se ele fosse um sábio sobre todos os assuntos. Mesmo dentro do campo da Física, os seus pares podem, e devem, investigar as suas conclusões. É assim que se avança na Ciência. Portanto, sim, há especialistas, mas a sua autoridade não é absoluta e é restrita aos seus campos de conhecimento. A sua palavra não é a verdade absoluta sobre tudo e mais alguma coisa.
Quem usa muito argumentos de autoridade substitui investigar e argumentar a ideia pela imposição de uma autoridade que o dispense de pensar e apresentar razões. A publicidade está cheia de detergentes e outras produtos e todos foram 'provados cientificamente'. Todos os argumentos das religiões, 'Deus disse, Maomé disse', etc., são maneira de apelar à militância e anular a racionalidade do pensamento com a consequente investigação e dúvida.

2. A falácia Ad hominen, «contra a pessoa» - atacar o argumentador em vez de atacar o argumento. Se descredibilizar o argumentador nada do que ele diga a seguir é acreditado. Isto mostra uma deficiência em lidar com os argumentos ou malícia. Por exemplo, 'é preciso por os médicos no seu lugar porque estão reduzir os horários dos professores com doenças e depois há falta de professores.' É claro que o número de professores com uma certa idade e com doenças não depende da vontade ou da acção maliciosa dos médicos e, neste momento, os professores vão ao médico da medicina do trabalho, por ordem da junta médica da ADSE que já validou todos os seus problemas de saúde incapacitantes. Porém, se se conseguir passar a ideia de que os médicos são desonestos, deixa de acreditar-se que os professores estão mesmo doentes.

3. Apelo à ignorancia. Esta falácia argumenta que o que não foi provado falso, é verdadeiro e vice-versa. 'Não existem alienígenas porque nunca ninguém os viu'; ou, 'não está provado que turmas com 30 alunos tenham menos sucesso que outras mais pequenas de maneira que não é útil baixar o número de alunos por turma.'

4. Petição de princípio. Esta falácia argumenta com a própria conclusão. 'Sou a favor da igualdade de direitos das mulheres, mas penso que na minha Loja Maçónica não deve haver mulheres porque as Lojas devem ser exclusivamente masculinas'; ou, 'Sou a favor da igualdade de direitos das mulheres, mas penso que as mulheres não devem ser ordenadas sacerdotes porque essa é uma missão dos homens'; ou, 'Sou a favor da democracia partidária e por isso, os partidos da direita deviam ser proibidos'. Há um filme francês muito engraçado onde uns ladrões estão a dividir o bolo e um deles diz, 'mas porque razão ficas tu com as pérolas? _porque sou o chefe, diz o outro. Mas porque razão és o chefe? _Porque tenho mais pérolas. 

5. A falsa causa, onde se extrai uma relação de causalidade de uma correlação ou mera coincidência. 'Conheço um miúdo autista que foi diagnosticado logo a seguir a ser vacinado contra o sarampo'.

6. A generalização apressada. Usar uns casos como se fossem representativos do todo. 'Conheço portugueses que ganham 3600 euros brutos. Hoje-em-dia já é vulgar numa família da classe média cada um ganhar 3600 euros brutos'.

7. Apelo à emoção ou ao povo. Falar como se fosse óbvio que todos estão de acordo com o mérito de uma coisa ou pessoa. Aproveita a necessidade que as pessoas têm de se sentir incluídas no grupo. 'Todos sabem que sou uma pessoa séria de maneira que podem confiar na minha política'. 'Compre este. É o que mais se vende, todos querem'.

8. Apelo à força. É um argumento que apela à força ou à chantagem. 'Podes defender o aborto na campanha se quiseres, mas sabes que os nossos eleitores são católicos muito devotos...'

9. Falsa dicotomia. Apresentar as questões como se só tivessem dois extremos e não um espectro de graduação intermédia. 'Se és da esquerda não podes defender as vítimas do 7 de Outubro e se as defendes estás contra nós'.

10. A bola de neve ou declive ardiloso. Argumentar que uma cadeia de eventos se seguirá necessariamente a uma decisão, cada um pior que o outro até à catástrofe. 'Se defendes a eutanásia depois os hospitais vão obrigar as pessoas velhas a pedi-la e acabam a matar em vez de salvar vidas'.

11. O espantalho ou boneco de palha. Desviar a atenção de um argumento para uma versão caricatural ou ofensiva de maneira a por a pessoa na defensiva e não ter que argumentá-lo. 'os cientistas do clima estão mais preocupados com a salamandra do que com as pessoas'; ou, 'os que defendem o aborto querem assassinar bebés'.

E muitas mais existem...