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July 04, 2020

Outro histérico




Porque quem não trabalha com a ciência tem de trabalhar com a percepção e com o medo. E são eles que nos levam a arrancar as crianças da escola, tirando-lhes o direito a crescer e aprender, apesar do vírus não representar qualquer risco significativo para elas. Para nos protegermos.

Tenho poucas certezas sobre o que nos está a acontecer. Só uma se vai instalando: que isto vai durar. Que teremos más notícias durante muito tempo. Podemos começar a disparar uns contra os outros, para ver se as culpas caem no vizinho. Ou podemos começar a discutir a fase seguinte: como vamos lidar com o vírus de forma a não sacrificar o futuro dos nossos filhos, a não destruir a economia e a democracia e a não viver numa sociedade patologicamente deprimida em nome da ilusão da imortalidade? Gostava de ser merecedor da herança dos que estiveram dispostos a morrer em nome da minha liberdade. Isso implica correr riscos para que a vida em comunidade não se torne numa paranoia infernal. Não estou disposto a fechar a juventude da minha filha em casa por dois anos para viver até aos 90.
Daniel Oliveira

Expresso


Porque quem não trabalha com a ciência tem de trabalhar com a percepção e com o medo? Os cientistas não trabalham com a percepção? Então? Vá ver o significado do termo, sff. E quem não é cientista só lhe resta o medo? Então e racionalidade, não existe? O pensamento, o espírito crítico?

...as crianças da escola, tirando-lhes o direito a crescer e aprender, apesar do vírus não representar qualquer risco significativo para elas? Se usasse a racionalidade percebia que, se desconhecemos o vírus, não sabemos se ele representa um risco significativo para as crianças, não é verdade? Por exemplo, as pessoas que apanham varíola estão sujeitas a apanhar mais tarde uma infecção viral grande. Esta consequência significativa só se soube muitos e muitos anos depois de se encontrar vacina. As doenças podem deixar sequelas latentes, invisíveis durante anos até que comecem a desenvolver-se num contexto qualquer que lhes é favorável e que desconhecemos. Por conseguinte, não sabemos se as crianças e adolescentes, ao contrair a doença, não ficam expostos e vulneráveis a consequências que só mais tarde se manifestarão. E não sabemos se essas consequências são pequenas ou graves. É por se desconhecer quase tudo do vírus que ele é tão perigoso: não conseguimos fazer um cálculo dos riscos.

... e a não viver numa sociedade patologicamente deprimida em nome da ilusão da imortalidade? Portanto a opção é entre viver no medo ou aceitar correr riscos desnecessários e morrer já? ... "morrer em nome da minha liberdade"? ..." correr riscos para que a vida em comunidade não se torne numa paranoia infernal"? "Não estou disposto a fechar a juventude da minha filha em casa por dois anos para viver até aos 90."  Fala como se estivéssemos em guerra e a opção fosse entre viver em paranóia ou atirarmo-nos do cimo do prédio para a morte... então e a opção do meio que é investir em segurança? Por exemplo, as escolas abrirem mas com segurança, como aconteceu neste final do ano com o 11º e o 12º anos? Isso implica desviar o dinheiro da banca, dos projectos bilionários  dos amigos e de todos os outros roubos e desperdícios. Não é preciso suicidar-nos, só é preciso ter políticos honestos e competentes.

Vejamos: os médicos que tratam de tuberculoses, SIDA e outras doenças infecciosas, os cirurgiões, trabalham constantemente com o risco de infecções. Tocam nas pessoas, falam com elas, abrem pessoas, as pessoas estão doentes, muitas têm doenças infecciosas. No entanto, trabalham e vão para casa e não infectam as famílias a torto e a direito. Porquê e como? Medidas de segurança.

E outra coisa: os pais hoje em dia assumem o papel de treinadores dos filhos como se os filhos fossem atletas de alta competição que não podem perder um dia de treino. Os miúdos são extremamente plásticos e resilientes e não são meses ou até um ano ou dois que dão cabo do desenvolvimento deles. Os seres humanos, a não ser que crescem isolados de contacto e linguagem humanas, mantêm o seu potencial de desenvolvimento apesar de terem desacelerado uns meses ou um ano ou até dois. E não estamos em tempo de guerra onde acontece toda a normalidade ser substituída pelo horror. Estamos em tempos de paz, de modo que essa histeria de, 'quero que todos morram porque o crescimento da minha filha tem de ser perfeito' é irracional. 

Precisamos de políticos que saibam gerir a crise com racionalidade e recursos aplicados, não em esgotos económicos e financeiros, mas em serviços que projectem o país no futuro - a educação, a saúde, a economia. Precisamos de flatten the curve das desigualdades que é isso que nos põe em desvantagem para lidar com crises.