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March 31, 2021

Por falar em ideias de quem governa

 


Aqui há uns tempos tive uma discussão com um amigo que foi gestor público -está reformado- porque ele defendia (what else is new...?) que se o pusessem à frente duma escola punha tudo na ordem muito melhor que os que lá estão que são professores. Isto irrita logo um bocadinho, esta ideia de que não é preciso saber de educação ou de ensino ou de como funciona uma escola, só é preciso ter templates de gestão e aplicar ao cenário... Então, a primeira medida dele (esta discussão veio a propósito dos rankings, outra cena cheia de minas e armadilhas) para pôr as escolas no topo dos rankings era ver-se livre dos professores muito maus (boa sorte com isso...) e dos muito bons.

Dos muitos bons? Ah, sim , diz ele, os professores muito bons ou até excelentes não são normalizáveis, são pessoas difíceis, é por isso que se destacam. - E qual é o problema de ter funcionários diferentes no sentido de muito bons? Diz ele: os alunos não precisam de professores excelentes nem muito bons. A escola não é para isso. A escola é para treinar em quantidade não em qualidade e para isso o melhor são os professores dentro da escala da normalidade. Não vale a pena o trabalho que dão os professores muito maus e os muito bons. 

É claro que quando lhe perguntei, 'olha lá, se pudesses ter escolhido os professores dos teus filhos (que andaram na escola pública) tinhas pedido professores medianos ou tinhas escolhido os muito bons? Ah, pois... fazia como a Leitão que enquanto falava nos méritos dos professores ganharem mal para a qualidade da escola pública ser cada vez melhor, punha os filhos no privado, onde as turmas são com 15 alunos e o ensino não se reduz ao português e à matemática.

Conclusão - quem nos governa é assim que pensa: se a escola pública é para certificar alunos em massa (quem quer põe os filhos no privado) que interessa ter professores muito bons? Até são um incómodo. É como achar que uma fábrica de parafusos precisa de excelentes funcionários para produzir parafusos. Tanto faz, o que interessa é que os parafusos keep coming, como dizem os americanos, que não atrasem a produção. Se de vez em quando alguns vêm com falhas deitam-se fora. É um risco calculado e no fim há lucro. 

Portanto, querem professores, não digo medíocres, mas medianos, que aceitem uma não-carreira e um trabalho mal pago em más condições sem grandes queixas e que produzam parafusos continuamente, sem parar. 

Não sei se aplicam isto aos hospitais públicos e esperam que quando lá se entre se peça um médico, de preferência, mediano... é que os médicos já foram alunos das escolas. Acho que já aqui disse uma vez que a minha médica pneumo-oncologista, um dia disse-me que os alunos dela na faculdade de medicina, chegam lá cheios de reivindicações e a acharem que sabem tudo, não sabendo nada. É a vantagem de terem tido professores medianos nas escolas... mas bate certo, também temos uma esmagadora maioria de ministros e políticos medianos, medíocres, mesmo. É a democracia dos medianos.