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July 27, 2021

PDIP

 


Partido dos Dogmáticos Ideológicos/Indiscriminados (tanto da direita como da esquerda mais ou menos radical) Portugueses - é como vou passar a chamar ao conjunto de pessoas que não são capazes de um mínimo de objectividade na política em geral.

Esta articulista faz parte desse partido. Argumenta que temos a obrigação, por dívida, de passar uma esponja pelos crimes de Otelo e quem não está disposto a fazê-lo é porque tem saudades da ditadura... ou seja, se fazes crítica és fascista, é o que o argumento tem implícito...  portanto, quem não concorda com a senhora e a sua ideologia, é um fascista de mau carácter porque a posição dela é a Verdade...? E cita Eanes, da mesma maneira que muitos citam o Papa. De facto, é difícil ser mais dogmático. É exactamente a mesma estratégia que os defensores de Salazar usam, que é citar as suas características positivas (nesta altura estará alguém a pensar: quais características positivas? Salazar era um monstro sem nada positivo... da mesma maneira que alguns dizem, Otelo era um monstro sem nada de positivo) para passar uma esponja por cima dos crimes cometidos às suas ordens e em seu nome. 

Eanes, que merece respeito pelo seu papel na construção da nossa democracia, não é um ídolo, como agora o tratam, como se a sua palavra viesse tocada com a infalibilidade divina. Porém os do PDIP, sejam de esquerda ou de direita têm sempre ídolos que pregam à cruz e reverenciam religiosamente, enquanto gritam a rasgar as vestes - é um dos seus sintomas.

Esta articulista argumenta que deveríamos esquecer os crimes de Otelo e reverenciá-lo porque ele foi decisivo para a nossa liberdade. Otelo foi decisivo para o fim da ditadura. No entanto, não foi decisivo para a nossa democracia. Na realidade, para termos hoje uma democracia, tivemos que lutar contra ele e as suas ambições de ditadura militar à maneira de Cuba. Ele tentou que não tivéssemos uma democracia. Porque se havia de esquecer isso? Porque morreu? Para agradar à ideologia e dogmatismo desta senhora e de outros? Se tanta gente durante muitos anos não tivesse tido este dogmatismo relativamente a Salazar, talvez a ditadura tivesse durado menos anos. 

Louçã escreve um artigo verrinoso e cheio de ódio no Expresso - outro que pertence ao partido do PDIP, outro que se queixa muito dos ódios das redes sociais enquanto destila ódio nos jornais públicos, de nível nacional... mais um bocadinho e tratava todos de p*"# e filhos da p*"# como aquela comentadora da TV que também fala muito contra o baixo nível das redes sociais enquanto o pratica. 


Obrigada, Presidente Eanes (sobre Otelo)

Ana Sá Lopes

Já que o nosso Presidente da República em funções se sente mais à vontade a elogiar Marcelino da Mata do que a prestar homenagem a Otelo Saraiva de Carvalho, é fundamental agradecer ao antigo Presidente Ramalho Eanes ter vindo lembrar duas coisas básicas: “A ele [Otelo] a pátria deve a liberdade e a democracia. E esta é dívida que nada, nem ninguém, tem o direito de recusar.” Depois do texto confuso com que Marcelo decidiu “evocar” Otelo Saraiva de Carvalho no dia da sua morte, é um bálsamo saber que há um ex-Presidente da República, que abandonou as funções em 1986, capaz de sentido de Estado no momento da morte de um homem decisivo para a nossa liberdade. É evidente que Ramalho Eanes é um homem do 25 de Abril e Marcelo Rebelo de Sousa não é – talvez isto também ajude a explicar que o “filho do governador colonial” esteja mais à vontade para fazer a homenagem a Marcelino de Mata do que para “evocar” Otelo.

Ramalho Eanes não silencia o papel de Otelo nas FP-25 e é claro a condenar os “desvios políticos perversos, de nefastas consequências”. Por esses “desvios políticos perversos”, Otelo passou cinco anos em prisão preventiva. Sim, Mário Soares pressionou PS e PSD a aprovarem a amnistia – mas também tinha sido Mário Soares a pressionar para o regresso de António Spínola a Portugal (esteve exilado no Brasil e em Madrid), outro cabecilha de uma organização terrorista, o MDLP, só que neste caso era terrorismo de extrema-direita. Quando morreu, em 1996, o homem do MDLP teve direito a luto nacional. Otelo, parece que por vontade expressa do primeiro-ministro imediatamente aceite pelo Presidente da República, segundo diz o Expressonão terá.

A direita gosta muito de se insurgir contra os alegados “donos” do 25 de Abril. O problema – e agora veio ao de cima mais uma vez na morte de Otelo Saraiva de Carvalho – é que demasiadas pessoas de direita nunca se sentiram à-vontade com o 25 de Abril (e passaram o sentimento aos filhos). O facto de muitos dirigentes políticos de direita, incluindo Cavaco Silva, se recusarem a utilizar o cravo na lapela – o símbolo popular do 25 de Abril – é todo um tratado de semiótica.

Quem se espanta com a violência verbal que anda no Twitter devia conhecer o meu “liceu” nos anos 80: a fractura dos defensores do 25 de Abril contra aqueles que apenas aprenderam a “viver habitualmente” com o 25 de Abril estava tão exposta naquela época como hoje. Na verdade, a única novidade é a existência de redes sociais.

Devemos agradecer profundamente a Otelo o 25 de Abril. Mas também devemos estar gratos às várias lideranças dos partidos de direita pelo facto de terem conseguido “integrar” muitos dos desolados do 25 de Abril na democracia. São dívidas históricas.