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April 26, 2024

"Há um risco de 'esta' Europa morrer" ~Macron

 

(...) a batalha entre democracias e autocracias parece estar a pender para o lado das últimas, sobretudo se virmos em termos de percentagem de população mundial. Um outro índice de democraticidade, o Varieties of Democraties, do Instituto sueco V-Dem, aponta para 71% dos oito mil milhões de habitantes do planeta a viverem em regimes autocráticos. E o Freedom in the World, elaborado pelos americanos da Freedom House, diz que 2023 foi o 18.º ano consecutivo em que o mundo se tornou menos livre. Um cenário muito longe do otimismo da década de 1970, quando Portugal, Grécia e Espanha se tornaram países democráticos, dos anos 1980, quando gigantes como o Brasil derrubaram a ditadura militar, ou dos anos 1990, em que a Europa Central e de Leste deixou de ser comunista e a África do Sul acabou com o regime racista do Apartheid.

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Contar a força das autocracias apenas pelo número de pessoas é enganador quanto à força e influência das autocracias no mundo. Países como a China têm uma grande percentagem das pessoas do planeta, mas não têm a maior influência. Parece-me mais informativo perspectivar a questão do ponto de vista da física, do problema dos três corpos de que se fala agora tanto.
 
Onde há países grandes (em tamanho e em recursos/riqueza), esses são os que exercem força gravítica hierárquica, de maneira que os outros à sua volta tendem a organizar a sua órbita em torno dele.
Assim, se queremos que as democracias do mundo aumentem e exerçam força de influência, temos que impedir que grande países (em tamanho e em recursos/riqueza) se tornem autocracias (por exemplo, incentivar a Índia a melhorar a democracia) ou, não sendo possível exercer essa influência, ter países alternativos fortes cuja força gravítica seja maior que a desses grandes países autocráticos. Quando isto acontece, os países que orbitavam em torno dessa grande massa, re-organizam-se para orbitarem a outra massa, devido à maior força de atracção.
 
Isto é o que se passa, neste momento, na Europa. A força gravítica da UE é maior que a da Rússia e os países que orbitavam em torno da ex-URSS, estão a reorganizar-se em torno da UE.

Logo, se queremos que as democracias aumentem em vez das autocracias, é necessário:
- manter e fortalecer a UE se como uma grande força positiva que continue a atrair países e os desvie da órbita russa. Parece-me que tem que haver sempre um grande país ou união de países democráticos com poder de exercer uma grande força que se sobreponha à das autocracias.
- impedir que a Rússia ganhe a guerra na Ucrânia e a transforme numa autocracia. A Ucrânia é um pais grande em tamanho e recursos e se for engolida pela Rússia aumenta exponencialmente o seu tamanho/força gravitacional de modo que torna-se difícil que outros países consigam afastar-se da sua órbita.
- em termos globais, temos que apoiar as democracias, nomeadamente as emergentes, que lutam e resistem aos grandes países autocráticos, como é o caso da Ucrânia. Como sabemos, pequenas forças de resistência, se se mantêm consistentes e firmes acabam por abrir brechas nas grandes forças e desviar corpos da sua órbita. Veja-se o que se passa no Irão, onde raparigas da escola iniciaram um pequeno movimento de resistência com uma consistência e firmeza tais que não pára de crescer e abrir brechas no poder.

Nesta luta constante de travar o aumento das autocracias e atrair corpos para a sua órbita democrática através do apoio às democracias, os EUA estão à cabeça, dado que são um grande país em tamanho, recursos e armas. Porém, se não fortalecem a sua própria democracia correm eles mesmo o risco de adoecerem de autocracia.

A Rússia perder o seu vector de motivação imperialista e colonizadora e transformar-se num país normal sem grande força gravítica é uma boa notícia para todos.

O facto dos EUA terem, finalmente, decidido re-ajudar a Ucrânia depois de mais de seis meses de recusa não deve ser motivo para desistir de reforçar a segurança da Europa e torná-la uma força gravítica autónoma dos EUA. A ajuda dos EUA for tirada com fórceps, com a Europa toda a puxar. Foi difícil e não sabemos se foi a última vez que se conseguiu que os EUA ajudassem a Ucrânia. Se Trump ganhar as eleições a democracia americana talvez não sobreviva à destruição das instituições que ele fará para se manter no poder. Mesmo que Trump não ganhe, há muitas forças nos EUA que têm admiração por homens fortes, entenda-se, ditadores como Putin e que pensam que Putin é uma barreira à expansão da China. Têm mais medo do campo gravitacional desta.

No entanto, apoiar autocracias com grande força gravítica por medo de outras forças de igual poder não impede as outras de crescer e só torna desequilibrado e difícil de prever o movimento dos outros corpos, tal como no problema dos três corpos. Scholz não vê isto e é uma força de tracção ao crescimento da UE como força gravítica de influência autónoma capaz de puxar para si democracias emergentes que lutam por sair da órbita da Rússia imperialista.

Os grandes países que pensam que podem ficar na sua vidinha isolados dos outros (e a Alemanha é um grande país) são como planetas que pensassem ser imunes à força gravitacional- sua e dos outros corpos.

"Há um risco de esta Europa morrer" ~Macron