“As classes médias portuguesas estão entre as que têm menor poder de compra dentro da União Europeia (UE), revela um estudo do EconPol, uma rede europeia de universidades e centros de investigação que avaliou os rendimentos, o custo de vida e os impostos de 28 países. A classe média alta portuguesa seria média baixa em Espanha ou Itália.” – JN, 08 outubro, 2023
Segundo a OCDE, a classe média portuguesa integra os indivíduos cujo rendimento disponível mediano se situa entre os 8.877 e os 23.674 euros, os quais representam 60,1% da população e auferem 58,3% do rendimento mediano disponível e são responsáveis por cerca de 54% das despesas de consumo e por aproximadamente 53% das receitas fiscais (apenas impostos diretos) bp
8.877€ por ano são pouco mais de 600 euros por mês e 23.674€ são pouco mais de 1500 euros por mês. Imagine-se uma família com dois filhos em idade escolar.
Que despesas mensais tem uma família normal, sendo de classe média? Alimentação, renda da casa, electricidade, água, internet, etc., carro, gasolina e despesas associadas, transportes dos filhos, material escolar, roupa, sapatos, ida ao cinema ou ao teatro ou a um espectáculo desportivo, etc., dinheiro para contratar uma babysitter, dinheiro para contratar um explicador ocasional para um filho, dinheiro para comprar um livro, dinheiro para pagar a um dos filhos uma actividade extra-currícular, dinheiro para fazer face a uma despesa de saúde, dinheiro para ir passar um fim-de-semana fora com a família, dinheiro para ir almoçar ou jantar fora, dinheiro para situações ocasionais, como comprar um bom casaco de inverno ou trocar o sofá da sala ou a máquina da roupa e ainda sobrar dinheiro para alguma poupança.
Com pouco mais de 600 euros por mês x 2 (pais), que família consegue ser da classe média? E mesmo com 1500 euros por mês x 2 (pais), quem consegue fazer face a estas despesas absolutamente normais, sem nenhum luxo ou extravagância, próprias de uma classe média?
Portanto a minha questão é: ainda temos classe média ou é um conceito que os governos usam como o ME usa o número de passagens em cada ano, mesmo que depois defenda o avanço às arrecuas?