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May 02, 2023

Um terço dos hospitais discrimina as mulheres que interromperam a gravidez e tratam-nas como proscritas




Recusam fazer-lhes qualquer acto médico ou de enfermagem e nem sequer lhes dirigem a palavra. Inacreditável. Como é que estas pessoas são médicos e enfermeiros se apenas ajudam as pessoas que têm os seus dogmas e a sua religião? Já se imaginou o que era eu, como professora, saber que uma aluna tinha feito um aborto (o que acontece de vez em quando) e recusar-me a trabalhar com ela e até a falar-lhe? Imagina-se o que é uma mulher ter a vida cheia de obstáculos à medida que este funcionário e aquele sabem que fez um aborto e recusam lidar com ela como se fosse uma leprosa na Idade Média?? 

Estes médicos e enfermeiros deviam ter o nome público numa lista para podermos saber quem são e fugir deles a sete pés: alguém quer consultar um médico ou ser tratado por um enfermeiro que nos julga pelas nossas ideias, convicções filosóficas ou religiosas? Que pensa que tem um direito divino de nos castigar pelas nossas escolhas e, pior, que é capaz da impiedade de não nos ajudar medicamente se discorda de nós? Que confiança se pode ter numa pessoa dessas? Vai à nossa ficha clínica ver o que fizemos e depois trata-nos ou não consoante gosta ou não da maneira como escolhemos viver a nossa vida? Quem poderá querer ter talibãs como médicos e enfermeiros? 
Ainda perguntam porque é que as mulheres neste país não querem ter filhos. Neste país as mulheres são discriminadas por serem mulheres e decidirem do seu corpo e da sua vida. Tratadas como proscritas.


"Há objetores que recusam até tirar sangue a quem aborta"


Um terço dos hospitais não fazem interrupção de gravidez até às 10 semanas alegando objeção de consciência de todo o corpo clínico, mas nem ministério nem Ordem sabem dizer quantos médicos objetores para a IVG há no país. Nem, tão-pouco, quais os atos a que podem objetores objetar: existe quem recuse tirar sangue ou fazer ecografias a quem vai fazer ou fez IVG. Bastonário anuncia "documento com definição clara".

"Desde que seja para interromper a gravidez, não tiram sangue para análise. E também recusam pôr dispositivos intra-uterinos [DIU] na consulta de seguimento da interrupção de gravidez."

Em causa estão, explica esta enfermeira de um hospital do centro do país, que pede para não ser identificada, colegas objetores de consciência. "Alguns nem boa tarde dizem às mulheres que interrompem a gravidez. Fiquei espantada, não percebo como isto é possível, mas recusam-se", comenta. "Conversei sobre isso com uma dessas colegas e disse-me que como é objetora não tem de fazer nada que envolva pessoas que abortam."