E fingir que não têm nenhum papel na economia. Os desastres, pagámo-los nós, foram custos sociais, os lucros são para os próprios, ganhos pessoais - no próximo descalabro cá estaremos nós, com as carreiras congeladas e os salários diminuídos ao mínimo, para lhes pagar a manutenção da boa vidinha. Se juntarmos aos bancos os supermercados, a energia e os custos da saúde, temos hoje uma indústria de assalto ao povo, devidamente orientada pelo governo, que é quem dá o mote e o exemplo.
Contrato social dos bancosPedro Araújo
Os seis maiores bancos a operar em Portugal alcançaram, no seu conjunto, um resultado líquido superior a 2,5 mil milhões de euros em 2022, uma melhoria de quase 70% face ao ano anterior. É legítimo que se questione se este é um fenómeno global em contexto de crise económica, situação causada por uma inflação galopante, taxas de juro elevadas e, portanto, uma perda de compra notória. Curiosamente, não podemos afirmar que se trata de um festim de lucros a nível global. Aparentemente, os nossos gestores bancários estão muito acima da média.
No dia 2 de março de 2023, o "The Wall Street Journal" titulava o seguinte: "os lucros dos bancos caíram 6% no ano passado, uma vez que a guerra, a inflação e as taxas [de juro] mais altas prejudicaram os resultados". Na imprensa francesa, discute-se o aumento escandaloso de lucros do BNP Paribas, de 7,5%, tendo em conta o cenário de crise. Os espanhóis Santander, BBVA, CaixaBank, Sabadell, Bankinter e Unicaja obtiveram um lucro conjunto recorde de 20,8 mil milhões em 2022, mais 28% do que em 2021. E como vão as contas por cá? O Montepio quintuplicou, o Novo Banco triplicou, o Santander duplicou, o Millennium BCP ficou-se pelos 50,3%, a CGD cresceu 44,5% e o BPI não foi além de uns míseros 19%.
A relação dos bancos com o Estado, que no fundo somos todos nós, pagadores exímios de impostos ao Fisco e de contribuições para a Segurança Social, tem implícito um contrato. Eles emprestam dinheiro às famílias e às empresas para que a economia funcione melhor. O Estado, por seu lado, cobre o risco de duas formas: acautela a segurança dos depósitos até certo montante e ajuda as próprias instituições financeiras quando o risco de insolvência´é sistémico. A Banca custou ao Estado 22 mil milhões entre 2008 e 2021. Não estará na altura de devolver essa generosidade implícita no contrato social entre os contribuintes e os bancos, remunerando melhor os depósitos e baixando o custo global do crédito?