Corre por aí um mito segundo o qual Bach estava completamente esquecido se não fosse Mendelssohn ter feito um concerto com a sua 'Paixão de São Mateus', em 1829. Que teria sido aí que música dele teria ressuscitado, por assim dizer. Este mito tem muito que ver com a Sotheby's ter leiloado, em 2016, o contrato de edição original da 'Paixão de São Mateus' de Bach. Foi à conta disso que a história começou a correr. Segundo a Classic FM, "Bach would’ve been completely forgotten by history without this document."
É uma história que impressiona por ser tão contrária à nossa percepção actual de Bach, um dos poucos compositores clássicos cuja música a maioria das pessoas reconhece nalguns compassos da sua obra muito tocados, como este do vídeo acima, interpretado por Yo-Yo Ma.
Como a maioria dos mitos, também este tem um fundo de verdade. No seu tempo, Bach não era uma estrela internacional como Handel. Mendelssohn organizou uma actuação da 'Paixão de São Mateus' e é verdade que esse concerto contribuiu muito para popularizar Bach, mas seria incorrecto chamar a Bach "esquecido" e Mendelssohn não é o único responsável pelo relançamento de Bach.
A concerto de Mendelssohn fez parte de um movimento mais vasto de apreciação de Bach que já estava em curso. A primeira biografia de Bach foi publicada em 1802 por Johann Nikolaus Forkel.
O próprio Beethoven proclamou que Bach (que significa "riacho") deveria ter sido chamado de Meer ("mar") por a sua música ser tão vasta e grandiosa. Conhecia-a muito bem, portanto.
A música de Bach continuou a circular depois da sua morte em dois grupos diferentes: o dos músicos profissionais (incluindo Haydn, Mozart e Beethoven) e o dos intelectuais da classe média.
No final do século XVIII e no século XIX, as pessoas educadas reuniam-se em casa de alguém para discutir vários tópicos culturais e eruditos; estas reuniões eram conhecidas como "salões". O ensaio de Wolff sobre este tema centra-se no salão de Sara Levy, que atraía pessoas interessadas em música antiga. Até então, o costume era tocar a música de autores vivos e não dos mortos.
Sara Levy era tia-avó de Mendelssohn, pelo que este conheceu Bach em virtude de ter nascido no seio de uma família bem relacionada e intelectualmente activa. Como músico, ele também conhecia Bach através de seus estudos de composição com Carl Friedrich Zelter.
Sara Levy era tia-avó de Mendelssohn, pelo que este conheceu Bach em virtude de ter nascido no seio de uma família bem relacionada e intelectualmente activa. Como músico, ele também conhecia Bach através de seus estudos de composição com Carl Friedrich Zelter.
A música de Bach era venerada, mas não era tocada com frequência. No entanto, na altura em que Mendelssohn iniciou a sua carreira, houve uma mudança na cultura dos concertos: as pessoas tornaram-se mais receptivas a ouvir actuações ao vivo de música de compositores mortos, uma tendência que domina a cultura da música clássica hoje em dia.
A apresentação da 'Paixão de São Mateus' em 1829 por Mendelssohn, foi um marco importante que levou a música de Bach a pessoas que nunca a tinham ouvido num concerto, mas a música de Bach não tinha desaparecido antes dessa altura, pelo que dizer que ele estava "completamente esquecido pela história" é um enorme exagero.
A apresentação da 'Paixão de São Mateus' em 1829 por Mendelssohn, foi um marco importante que levou a música de Bach a pessoas que nunca a tinham ouvido num concerto, mas a música de Bach não tinha desaparecido antes dessa altura, pelo que dizer que ele estava "completamente esquecido pela história" é um enorme exagero.
fontes:
Johann Sebastian Bach: The Learned Musician, por Christoph Wolff citado por Linda Shaver-Gleason
