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November 15, 2024

JNP escreve um artigo onde parece ter satisfação com a vitória de Trump por ressentimento contra os wokistas

 





De surpresa em surpresa

"Donald Trump é capaz de ser uma destas figuras da História que aparecem de tempos a tempos para assinalar o fim de uma era e obrigá-la a libertar-se das suas velhas máscaras”.

Jaime Nogueira Pinto no DN

O autor destas linhas foi Henry Kissinger num artigo publicado em 2018 no Financial Times. O ex-secretário de Estado e historiador também já se referira a Trump como “um político que agia por instinto”, um fenómeno que escapava, e que por isso chocava, o resto do mundo: “Donald Trump é um fenómeno que os países estrangeiros não viram. Por isso é para eles uma experiência chocante vê-lo chegar ao poder!”

Kissinger já se enganava quando dizia que Trump agia por instinto e agora JNP, uma pessoa que o tem num qualquer píncaro idolatrado, também se engana. Trump não age por instinto mas sim por emoção e intuição. A emoção é uma sensação bio-psíquica desencadeada por um estímulo qualquer, externo ou interno. É superficial, momentânea, volátil e não tem intermediação do pensamento. É diferente do instinto. O instinto é uma reação comportamental complexa, uma resposta automática e não aprendida, portanto, inata, em função de uma situação específica, normalmente, destinada à sobrevivência ou à reprodução - se vejo um leão e se entre mim e ele não há obstáculos significativos, o meu instinto será fugir, por exemplo. 
Portanto, tanto Kissinger como JNP devem estar a falar de intuição e não de instinto. A intuição é uma capacidade sensível e/ou intelectual de se aperceber de nuances ou padrões na realidade e agir em conformidade com essa percepção, que não é consciente. 
Se a intuição é assente em emoções, não é justificada, como parece ser o caso de Trump. Nesse caso é muito perigosa, porque a pessoa age com uma certeza emocional interior de que tem razão, sem sequer compreender os assuntos sobre os quais tem intuições.
A intuição intelectual, quando está assente em conhecimentos sólidos sobre os assuntos e em experiências significativas, é uma ferramenta poderosa. Por exemplo, um médico com conhecimentos sólidos da sua especialidade, experiência e uma boa intuição intelectual, a olhar os mesmo dados que outro médico sem essas virtudes, interpreta num ápice o problema do doente e sabe qual é o exame que tem de ser feito para confirmar -ou não- o seu diagnóstico. De alguma maneira não inteiramente consciente, reconhece padrões e identifica-os nos dados a que tem acesso. Poupa-nos imenso tempo -o que por vezes é vital- e sofrimento. O outro médico, sem esses conhecimentos sólidos e sem experiência, não deve confiar nas suas intuições. Na verdade, médicos inexperientes e com conhecimentos ainda insipientes, mandam o doente fazer montes de exames, justamente porque não têm confiança nas suas intuições - essa prudência é desagradável mas boa para não matar o doente. 
Trump é o equivalente a um médico inexperiente que não tem prudência nenhuma, que tem excesso de confiança nas suas intuições e decide emocionalmente e de modo simplista acerca de problemas complexos dos quais tem total desconhecimento.
Dado que Trump ocupa um dos cargos mais poderosos do planeta é chocante, sim, vê-lo tratar problemas complexos com intuições e emoções infantis, sem nenhuma auto-crítica ou auto-controlo.
E para mim é chocante que JNP não compreenda isto.

(...)

Assim, quando o “racista” e “misógino” Trump bateu recordes de apoio entre “minorias” latinas, asiáticas e negras e entrou a fundo nos feudos democratas de Nova Iorque e da Califórnia, o choque não pôde deixar de ser total. Talvez as “minorias” tenham reagido mal ao profundo racismo e misoginia encapotados dos que as querem ver essencializadas, instrumentalizadas e sob tutela, sem valores, princípios éticos ou escolhas políticas próprias e com o sentido de voto pré-determinado pelo sexo ou pela raça.

"O “racista” e “misógino” Trump." JNP põe esses termos entre aspas como que a levantar dúvidas de que ele seja racista ou misógino, como se não tivesse acesso aos factos de que está condenado e aos seus discursos. Tal como os que elegeram Trump, também JNP reage emocionalmente aos exageros dos wokistas e parece ter satisfação com a vitória de Trump sobretudo por ressentimento contra os wokistas - mostra que não consegue pensar num plano maior e nas consequências a longo prazo da eleição de Trump. Trump acaba de nomear para a saúde um homem que não acredita nos conhecimentos científicos e decide pelo que lê nas redes sociais. Em que é que isto serve alguém ou algum propósito ou, sequer, acaba com os excessos do wokismo? 

Quanto à previsão de Kissinger, é cada vez mais certeira: a ordem liberal internacional, já em crise, terá dificuldade em sobreviver ao fim anunciado e sufragado da influência dos neocons nos aparelhos da Inteligência, Defesa e Negócios Estrangeiros dos Estados Unidos. Mas entre a incompreensão e o choque, o triunfo eleitoral e popular das forças nacionais-conservadoras na América vai ter uma influência inelutável na Europa e no mundo.

A ordem internacional está em crise porque tem um grupo de maus líderes, pessoas com grande influência que têm minado as instituições nacionais e internacionais.

Na que foi talvez a sua última entrevista, a 18 de Outubro de 2022, Henry Kissinger deixou um aviso aos líderes políticos do futuro: que não falhassem no entendimento dos princípios de orientação geral para não falharem na táctica quotidiana. Só assim se podiam resolver conflitos pendentes e evitar conflitos futuros.

É esse entendimento dos fundamentos da política e da prática política que tem faltado aos líderes da Europa, enlevados e adormecidos pela narrativa maniqueísta que lhes vai servindo a “opinião publicada”. Esperemos que a decisão da América vá a tempo de os acordar.

Kissinger foi um dos grandes responsáveis pela degradação da política internacional. Ele está por detrás de vários golpes de Estado da América Latina e não só que acabaram em ditaduras ferozes. Ele era o nº 1 de Nixon, um político que introduziu nos EUA, a prática da normalização do abuso de poder. EKissinger acreditava, muito antes de Trump, em America First e o resto do mundo que se lixe. JNP pensa que manter um status quo em que os países expandem o seu imperialismo de maneira feudal, com vassalos e protectores e povos inteiros subjugados aos interesses de uns poucos e dos seus negócios pragmáticos, é o melhor a que podemos aspirar enquanto cidadãos do mundo. São as pessoas como JNP, pessoas que reagem emocionalmente e não têm soluções que não seja repetir os males e às práticos do passado, que dão força aos Trumps e aos Putins. São parte do problema e nunca da solução.