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December 05, 2020

That's bullshit

 



Quem não tem pachorra para conversas de treta ponha a mão no ar 🙋‍♀️


Rosália Amorim


Chegou o tempo de nos vermos tais como somos, o tempo de uma nacional redescoberta das nossas verdadeiras riquezas, potencialidades, carências, condição indispensável para que algum dia possamos conviver connosco mesmos com o mínimo de naturalidade", escreveu Eduardo Lourenço que considera que "os portugueses vivem em permanente representação"(...) na obra O Labirinto da Saudade e no capítulo "Repensar Portugal(...)
Ah, porque os outros povos são verdadeiros e não representam? Os americanos não se representam de excepcionais, os ingleses de potentes, os francês de cultos e inteligentes, os espanhóis de independentes, os alemães de superiores, os russos de invencíveis e por aí fora? São só os portugueses?

Pode até parecer cruel usar esta referência em tempos de crise pandémica, mas, noutro dos capítulos da obra, o ensaísta escreve que "somos um povo de pobres com mentalidade de ricos". Afirma que, "empiricamente, o povo português é um povo trabalhador e foi durante séculos um povo literalmente morto de trabalho, mas a classe historicamente privilegiada é herdeira de uma tradição guerreira de não trabalho...".
Ah, porque os outros povos, nomeadamente europeus, não construíram as suas elites com guerreiros? Fomos só nós?

"Nesta encruzilhada nos encontramos. O momento parece propício não apenas para um exame de consciência nacional que raras vezes tivemos ocasião de fazer, mas para um ajustamento, tanto quanto possível realista, do nosso ser real à visão do nosso ser ideal." Palavras de Eduardo Lourenço que podemos recuperar para os tempos de hoje. "Nós temos vivido sobretudo em função de uma imagem irrealista... sempre no nosso horizonte de portugueses se perfilou como solução desesperada para obstáculos inexpugnáveis a fuga para céus mais propícios. Chegou a hora de fugir para dentro de casa, de nos barricarmos dentro dela, de construir com constância o país habitável de todos, sem esperar de um eterno lá-fora ou lá-longe a solução que como no apólogo célebre está enterrada no nosso exíguo quintal."
É fácil falar de poleiro herdado, não? Vai dizer isso às hordas de desempregados.