Não temos maneira de saber que esta notícia evidencia má ciência ou mau jornalismo - ou as duas coisas. Um estudo analisou dados da OMS e observou que os homens cresceram mais que as mulheres. Ponto final. Dizer que verificou a causa, ou é má ciência ou mau jornalismo ou as duas coisas. «Verificar» significa atestar a verdade de uma proposição. Ora, lemos a notícia e percebemos que não sabem a causa desse facto observado e que uma das hipóteses que sugerem é a de que os homens serão mais sensíveis às condições de vida. Uma hipótese não é uma causalidade «verificada». É uma variável suposta. Aliás a notícia nem esclarece se as condições de vida a que se referem são as comuns a todos os cidadãos ou se a pesquisa dividiu por sexos as condições de vida e considerou que em geral os homens têm melhores condições de vida que as mulheres, melhor acesso a saúde, a boa alimentação, etc. A causalidade nunca é evidente, não se vê. É um pressuposto teórico de correlação probabilística entre factores variáveis. Nem percebemos que variáveis foram consideradas neste estudo, para além desta suposição. Por conseguinte, daqui a algum tempo, outro «estudo» tirará conclusões diferentes de hipóteses diferentes ou até opostas. Isto é o que se passa em geral nos «estudos» que querem muito ser visíveis e no jornalismo que quer muito dizer «coisas» inovadoras. E é assim que se vai perdendo a confiança na ciência, porque hoje a ciência apressada e o jornalismo sem rigor são sobre a altura das mulheres e dos homens, mas amanha são sobre vacinas ou o clima. Daí haver cada vez menos confiança em autoridades epistémicas.
Homens cresceram duas vezes mais rápido do que as mulheres no último século
Estudo analisou dados de dezenas de países desde 1900, tendo verificado que os homens são mais sensíveis às condições de vida no que diz respeito ao desenvolvimento físico.
Os homens de todo o mundo aumentaram de altura e de peso duas vezes mais depressa do que as mulheres ao longo do último século, o que agudizou as diferenças entre os sexos. A conclusão é de um novo estudo, publicado na revista Biology Letters, no qual foram analisados dados de dezenas de países desde 1900.
A análise dos registos de dezenas de países revelou que, por cada aumento de 0,2 pontos no IDH, as mulheres eram, em média, 1,7 centímetros mais altas e 2,7 quilos mais pesadas, enquanto os homens eram quatro centímetros mais altos e 6,5 quilos mais pesados – o que sugere que, à medida que as condições de vida melhoram, tanto a altura como o peso aumentam. Mas nos homens aumentam a mais do dobro da velocidade do que nas mulheres.
No geral, a equipa sugere que uma combinação de melhores condições sociais e ambientais e a selecção sexual podem ser responsáveis pela disparidade entre homens e mulheres, sendo evidente que os homens são mais sensíveis às condições de vida no que diz respeito ao desenvolvimento físico.
Público
No comments:
Post a Comment