Meia dúzia de homens que sentem que nasceram no corpo errado decidem que milhares de milhões de mulheres não existem

 

Desde quando homens definem o que as mulheres são, o que podem ou devem ser e quais os limites da sua existência? Pois, desde sempre... que há de novo neste machismo primário...?

O pior são as mulheres que vão atrás desta conversa porque pensam que as mulheres devem, 'saber o seu lugar' e pensam que inclusão é aceitar tudo, inclusive a violação dos seus direitos mais básicos. Fazem lembrar as mulheres iranianas da polícia dos costumes que perseguem e destroem outras mulheres para lhes mostrar o seu 'lugar'. 

No meio disto, os homens continuar a ser referidos como homens, mesmo que homens-trans. Não consta que sejam, 'pessoas com testículos ou espermatozóides' - afinal, assim como há homens que menstruam, também há mulheres que nascem com testículos. E também há pessoas que se identificam com animais, sendo a mais famosa aquela mulher que se identifica com uma leoa e fez cirurgias para se parecer com o animal que sente que é. Devemos também mudar o nome dos seres humanos e dos animais por causa dela, para que não se sinta diferente?

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De uma vez por todas: substituir "mulheres e raparigas" por "pessoas que menstruam" não é inclusivo. É exclusivo – porque excluiu as mulheres e raparigas. É anticientífico – porque só corpos de mulheres menstruam. É misógino – porque apaga as mulheres de um assunto que as impacta; porque espera que as mulheres (que são a maioria da população) se anulem em prol de meia dúzia de pessoas que acreditam que nasceram no corpo errado e teimam que o mundo valide os seus sentimentos (ao invés de simplesmente viverem a sua vida como lhes apetece, sem maçar terceiros que nem sequer estão interessados); porque impõem que "mulher" seja definido por homens que se identificam como mulheres (e não menstruam), ao invés de pelas mulheres.

É, acima de tudo, de uma negligência criminosa. Como se vê pelos textos que mencionei lá atrás, a menstruação tem um impacto abissal na vida de mulheres e raparigas. A pobreza menstrual é um deles – não ter dinheiro para pagar pensos e tampões, que até por cá aflige parte da população feminina. Os estigmas culturais associados à menstruação. Os sortidos problemas de saúde que as mulheres têm associados à menstruação. Há mulheres sofrendo horrores com dores pela endometriose. Eu, por exemplo, tenho anemia ferropénica e passo metade dos meses tomando ferro. Os nossos sistemas imunitários estão mais frágeis durante parte do ciclo menstrual. A lista é longa. Se se apaga as mulheres do dossier "menstruação", apagam-se os problemas que as mulheres vivem devido à menstruação.

A menstruação é um tema sério que acarreta consequências de saúde, sociais e económicas para as mulheres. Não é um tema de brincadeira para validar identificações de género de quem sofre com problemas de primeiro mundo. É de um atroz desrespeito misógino que se usem partes da vida das mulheres tão incontornáveis para validar terceiros, isto enquanto se apagam as mulheres da fotografia.

Sugiro, portanto, ao PSD que, além de pedir explicações à ministra, as peça também à DGS. Quem na DGS exclui mulheres da menstruação pode trabalhar em muita coisa. Para temas de saúde de mulheres é que não serve.

Maria João Marques in Na DGS não sabem da ligação entre mulheres e menstruação