Segundo Aristóteles, a virtude afirma escolhe o meio termo entre o excesso e o defeito: o homem virtuoso age na proporção certa, seja que esteja a falar-se de comer, de falar, de coragem, etc. Na política, deve agir para o bem da maioria, pois o excesso para uma parte leva à falta para a outra. Por exemplo, visto à luz de Aristóteles, Centeno é um indivíduo imoral, sem virtudes políticas, pois defende uma sociedade em que a maioria deve contentar-se com a falta para que ele e os amigos possam desfrutar em excesso.
Mas adiante. Este post vem a propósito deste artigo do Expresso, Número de livros censurados está a crescer: sector livreiro mundial lança declaração de apoio à liberdade de expressão e de outros títulos linkados no fim:
Maia é uma pessoa não binária e contou a vida em “Género Queer” — a sua história tornou-se no livro mais banido nos Estados Unidos
Livros de Agatha Christie juntam-se a lista de obras que vão ser reescritas para excluir descrições físicas, referências étnicas e insultos
Nem gordo, nem feio: palavras negativas dos textos do autor de “Charlie e a Fábrica de Chocolate” limpas com a lixívia da censura
Evidentemente que ninguém pode ser a favor a censura de livros e a situação dos EUA onde os bibliotecários agora correm risco de vida é, no mínimo, preocupante. Tudo quanto é livro sobre temas de LGBT vão para o índex dos conservadores radicais.
Porém, uma pergunta que podemos fazer é: de onde surgiu este radicalismo contra homossexuais, transgéneros e outros? Se calhar surgiu do radicalismo oposto.
O surgimento de um movimento de aceitação e normalização de pessoas com identidades sexuais variadas e diferentes da maioria, que começou por ser bem aceite, foi totalmente desvirtuado quando essas pessoas quiseram impor aos outros uma linguagem, uma mudança unilateral de definições e práticas, um atropelo agressivo aos direitos das mulheres sem consenso nem discussão, uma censura a pessoas ou autores não alinhados, mesmo que mortos há séculos, e uma exigência de que fossem decepados ao ponto de ficarem irreconhecíveis. Nas universidades, a exigência de proibir vozes discordantes tornou-se o lema.
Se começasse aqui a listar os casos de livros e autores adulterados e censurados não saia daqui. Qualquer dia não é possível encontrar um original não violentado pela censura LGBT. As edições de Kant agora trazem uma advertência ao leitor para que saiba que ele era de outra época e não era justo em relação às mulheres, negros, gays e etc. Quem não conhece o caso de J. K.Rowling que deu anos de prazer e conhecimento a milhões de crianças e jovens e fez a vida milionária e famosa a 3 crianças actores que a censuraram, desprezara e vilipendiaram, por ela defender que os homens que se identificam como mulheres são transgéneros e não mulheres e que essa confusão estava a fazer recuar os direitos das mulheres a épocas sombrias?
Em Portugal tivemos um deputado do PS a defender que como as professoras não percebem que um rapaz que se identifica com uma mulher em nada se diferencia das mulheres, iam legislar para essas pessoas invadirem o espaço em que as raparigas estão vulneráveis para obrigar as professoras a verem-nos como mulheres. Penso que isto diz tudo sobre o radicalismo com que se quer obrigar as outras pessoas a submeterem-se a uma visão, sem possibilidade de discussão ou contraditório e a torná-la obrigatória sob pena de ir parar ao desemprego, ser ostracizado ou até agredido fisicamente.
Nos EUA esse movimento radical levou a que se adulterassem os clássicos até ficarem assépticos e fofinhos para não ofender ninguém e estão em curso dezenas de saneamentos de professores -também em Inglaterra- por delito de opinião. Ainda hoje vi no artigo de Bárbara Reis no Público, uma imagem de um escrito no muro da UNL a pedir o saneamento de um professor que tem opinião própria sobre a questão de Israel e da Palestina.
Este radicalismo que vai ao ponto de censurar alguém que ande com um colar étnico -apropriação de cultura- e de pôr violadores em série em prisões femininas desde que digam que se identificam com mulheres (Inglaterra, Irlanda) fez surgir o radicalismo oposto daqueles que começaram a sentir-se ameaçados por esta ditadura e passaram a querer censurar os censuradores e banir as suas edições violentadadoras e agora, banir os próprios autores e livros LGBT e perseguir livreiros e bibliotecários.
Os radicalismos geram radicalismos. Veja-se como aqui no país, o radicalismo das políticas que levaram ao alargamento da pobreza deram mais de 1 milhão de votos ao Chega - apesar de deixarem políticos muito contentes cm o que fizeram.
Nas escolas e nas universidades deve haver espaços seguros para pessoas transgéneros ou outras sem que isso implique violarem os espaços de segurança dos outros. Nas escolas e nas universidades tem de haver espaço para questionar professores ou direcções, nas suas opiniões, sem que isso se traduza em censura, agressão ou saneamentos.
De maneira que este apelo à liberdade de expressão é vazio e inconsequente se não for acompanhado de bom senso e justiça (dentro das instituições, na política, na educação), essas virtudes aristotélicas de encontrar o meio termo que não tire tudo a uns para dar tudo a outros.
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