Doppelgangers - Ser igual, agir igual (e prever a estrutura facial a partir do ADN)

 

Estudo revela que sósias partilham a genética e comportamentos semelhantes

Os genes responsáveis pelas características faciais também podem influenciar o comportamento.

KEY TAKEAWAYS

Há mais de 20 anos que um fotógrafo colecciona fotografias de "sósias" humanos. Vendo uma oportunidade, os cientistas recrutaram vários deles para participarem num estudo. Os voluntários forneceram amostras de ADN e responderam a perguntas sobre si próprios. Os investigadores descobriram que os seres humanos que se parecem têm perfis genéticos semelhantes e até apresentam comportamentos semelhantes, como fumar.

Um novo estudo realizado por investigadores espanhóis mostra que os "sósias" humanos que têm características faciais semelhantes tendem também a ter muitas semelhanças genéticas e a partilhar certos atributos de estilo de vida.

Esta investigação, publicada na revista Cell Reports, fornece algumas informações sobre os mecanismos genéticos moleculares que contribuem para a construção do rosto. Os autores afirmam que estas descobertas poderão eventualmente ser aplicadas à ciência forense, permitindo a previsão da estrutura facial a partir do ADN.

A experiência

Ricky Joshi, do Instituto de Investigação da Leucemia Josep Carreras, em Barcelona, e os seus colegas recolheram fotografias de 32 pares de sósias não aparentados a partir das fotografias do artista canadiano François Brunelle, que tem vindo a recolher fotografias de sósias desde 1999.

Joshi e os seus colegas utilizaram três algoritmos de reconhecimento facial diferentes para analisar as fotografias e determinar as semelhanças entre cada par. Vinte e cinco dos pares foram classificados como "muito semelhantes" por, pelo menos, dois dos algoritmos e metade foi igualada pelos três, com resultados comparáveis aos de gémeos idênticos. Em seguida, contactaram todas as pessoas das fotografias que tinham escolhido e pediram-lhes que preenchessem um questionário sobre o seu estilo de vida e que enviassem uma amostra de saliva.

Os investigadores extraíram o ADN das amostras de saliva e analisaram-no de três formas diferentes: 

(1) compararam o genoma de cada participante, mapeando mais de 4,3 milhões de variantes genéticas denominadas polimorfismos de nucleótido único (SNP); 

(2) analisaram os "epigenomas" dos participantes, comparando mais de 850 000 locais de modificação do ADN; e 

(3) utilizaram a sequenciação do ARN para comparar os microbiomas dos participantes.

Ser igual, agir igual

As análises revelaram que 9 dos 16 pares muito semelhantes partilhavam mais de 19.200 SNP em mais de 3.700 genes e que estas semelhanças não se deviam a qualquer ancestralidade partilhada. Em contrapartida, havia muito poucas semelhanças nos seus epigenomas e microbiomas. Além disso, estes "ultra-sósias" partilhavam também características físicas como o peso e a altura, bem como hábitos e comportamentos como o tabagismo e o nível de escolaridade, o que sugere que as variantes genéticas partilhadas influenciam não só a aparência física mas também o estilo de vida.

O estudo é limitado pela pequena dimensão da amostra, que também não é representativa da população mundial. Treze dos pares de sósias eram de ascendência europeia e os restantes três eram da Ásia Oriental, do Sul da Ásia e hispânicos. Ainda assim, o estudo mostra que pessoas que se parecem também agem de forma semelhante