May 07, 2023

What?? Que grande mentira

 


Não digo que não tenha havido uma escola que tenha recusado um aluno diabético, mas isso, a ter acontecido, é uma raridade e não a norma, como dão a entender. Alunos diabéticos do tipo 1 são comuns nas escolas (do tipo 2 ainda mais). Aliás, penso que nem é legal recusar alunos por terem doenças. Isto é mentira, não acredito nesta notícia.
Nunca vi ou sequer ouvi dizer que alguém ou alguma escola recusasse alunos diabéticos. Quem diz isso não tem noção de nada... nós temos alunos diabéticos, vitílicos, epiléticos, autistas, hemofílicos, bipolares, com paralisia cerebral, bulímicos, com anorexia, alcoólicos, com artrite reumatóide, com tensão anormalmente baixa e sei lá mais o quê. Esquizofrénicos, já tive um par deles. E estas são as menos comuns, porque ansiosos e depressivos, agora são às resmas. 
Em todas as escolas se lida todos os anos com alunos com doenças. Este ano tenho uma aluna que foi operada ao coração há um mês (a aluna da medalha de mérito). Tem indicações médicas e, por enquanto, deixou de praticar educação física. Tenho outro aluno que tem um problema muito complicado desde os três anos de idade e é imunodeprimido, mas faz educação física. Tem algumas restrições, mas os colegas nem sabem, porque ele não quer que se saiba.
Só se impede os alunos de fazer desporto enquanto o médico responsável por eles não dá indicações sobre o que podem e não podem fazer, em termos de actividade física. Geralmente é no início do ano lectivo que os alunos novos que têm problemas de saúde ficam por vezes sem praticar desporto até que o médico envie relatório com indicações sobre o que não podem fazer, mas isso é para garantir a segurança dos alunos. 
A comunicação social gosta muito de mentir e dar a entender que as escolas são uma espécie de carrascos para os alunos. 
Este ano tenho um aluno com diabetes do tipo 1. Entrou o ano passado para a escola, para o 10º ano. A EE avisou-me logo, falei com ele, avisei a direcção - a direcção tem uma lista dos alunos com problemas de saúde e o contacto do EE, para o caso de acontecer alguma urgência. 
Alguns dos alunos da turma já o conheciam do 9º ano, da escola de onde veio (onde também nunca teve problemas por causa da doença) e ele disse-me que eles sabiam e já o tinham ajudado. O rapaz anda com um dispositivo no corpo que vai medindo o nível de insulina. De vez em quando pede para sair para ir comer açúcar. As funcionárias do bloco estão avisadas e há sempre pacotes de açúcar disponíveis para ele. Nem sei se não haverá mais alunos na escola com diabetes. 
Às vezes são os pais que não querem que os colegas saibam das doenças dos filhos. Têm medo que sejam discriminados. Da minha experiência, acontece justamente o oposto e quando os colegas sabem que um deles tem um problema de saúde, oferecem-se logo para ajudar. 
Eu, para pôr esses alunos à vontade e para eles verem que uma doença não define ninguém, a certa altura digo-lhes que tenho uma doença e sou imunodeprimida, embora não diga o quê. Acho que pensam que tenho asma ou assim. No segundo período, a propósito da turma estar a tentar convencer-me para ir com eles à visita de estudo a Bruxelas, disse-lhes que agora é complicado viajar porque tenho que dar uma injecção na barriga antes de me meter no avião. Diz esse assim a rir, 'Ahah, até parece que isso é uma grande coisa, eu dou uma injecção a mim mesmo todos os dias, por causa dos diabetes'. Disse aquilo, assim como quem me chama mariquinhas.
Tenho muito dificuldade em acreditar nesta notícia. Talvez isto tenha acontecido uma vez numa escola com uma pessoa qualquer idiota. Ou então é uma rematada mentira, sei lá, uma galambada ou uma costada... 


Federação acusa escolas públicas de recusarem alunos com diabetes

Escolas públicas que recusam a inscrição de alunos por serem diabéticos, crianças impedidas de fazer educação física ou professores que tratam os meninos por "o diabético" são algumas das denúncias da Federação de Pessoas com Diabetes

2 comments:

  1. Quem são as escolas?

    Está gente que fala de forma genérica e abstrata não tem caráter, pois desta forma enlameia todos. No meu agrupamento, em mais de 30 anos, jamais se recusou um aluno. E que ótimo seria se cada ano se pudesse recusar uns seis ou sete...

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  2. Penso que o que se passa é o seguinte: no início do ano os alunos (ou os pais) dizem aos profs que os filhos têm uma doença. O DT pede uma declaração médica onde venham indicações, nomeadamente para a educação física - mas não só. Então, acontecem duas situações: 1. Os pais informam que existe uma declaração no processo do aluno. Acontece que os processos dos alunos não chegam às escolas com eles e chegam a demorar 3 meses (um período inteiro) até serem enviados da outra escola, mesmo com insistência e telefonemas...; os professores, nesses casos, pedem ao EE para arranjar outra, mas como é sabido, entre marcar uma consulta para o médico de família e consegui-la, pode passar 1 ano. Nesse tempo, dependendo do que foi a informação sobre a saúde do aluno, fica sem fazer ed. física durante um mês ou mais, porque o professor não se pode arriscar a que o aluno tenha um problema de saúde por actividades que não devia fazer. Faz de árbitro e outras coisas do género até chegar a declaração. Há pais que não aceitam isto e às vezes fazem cenas como se estas situações fossem culpa nossa.
    A escola não é um hospital e nós não somos médicos. Nós seguimos indicações dos médicos. E há situações que nem mesmo com indicações de médicos. Por exemplo, suponha-se que um aluno é diabético e tem que levar injecções e não consegue fazer isso sozinho. Quem as dá? quem tem formação em medicina ou em enfermagem, para fazer cuidados médicos ou de enfermagem, que não somos nós.
    Porque não afectam um médico a um grupo de escolas, por exemplo, ou enfermeiros? Resolviam-se estes problemas num instante.
    Os pais só sabem fazer queixas dos professores e vem logo a comunicação social com mentiras, porque dizer mal dos professores é um desporto favorito dos portugueses.
    Porque é que os pais não pressionam o ME para resolver o problema da falta de pessoal nas escolas, em vez de só fazerem queixas?

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