E quando ouço o ME dizer que quer que todos os alunos dependam de dispositivos electrónicos para toda a aprendizagem e percam completamente o contacto com os livros e com tudo que não seja electrónico, lembro-me de quando no passado os adultos incentivavam as crianças a fumar.
De há uns anos para cá, todos os anos tenho pelo menos um aluno viciado em jogos online. Damos logo por isso: faltam às aulas da manhã, quando vêem adormecem na aula e nos momentos em que não estão a dormir, vamos dar com eles no telemóvel ou na PSP, às escondidas. São bons na oralidade em inglês. São muito pouco sociáveis, embora às vezes tenham um buddy que partilha com eles o interesse nos jogos online. Os pais, em geral não têm noção nenhuma do que se passa. Geralmente, passado um mês e pouco de começarem as aulas já percebemos o que se passa. Começo por dizer aos pais que o filho falta às aulas da manhã ou vem dormir para as aulas da manhã, consoante o caso. Começam por dizer-me que os filhos têm problemas de insónias... digo que talvez tenha a ver com ficarem na internet e para experimentarem não deixá-los ir dormir com dispositivos electrónicos, nem sequer o telemóvel. Digo que talvez fiquem a jogar até de madrugada e depois não acordam. Digo que já vi muitos casos idênticos. O passo seguinte é perguntarem aos filhos que, naturalmente, lhes mentem. Aí, ou os pais já desconfiavam de qualquer coisa e percebem o problema ou dizem-me que perguntaram aos filhos e que eles disseram que não e acrescentam, 'o meu filho não mente'... (se me dessem um euro por cada vez que os pais me dizem isto estava rica). Nestes casos, ou segue-se um processo longo de abrir os olhos aos pais, com uma paciência de santo para ouvir vezes sem conta que o filho é 'uma criança' que nunca mente ou, sendo pais agressivos que não querem ver o óbvio, não insisto. Hão-de acabar por lá chegar... Alguns pais já sabem do problema mas não nos dizem e instruem os filhos para nos esconder o problema -como se isso fosse possível ou sequer os ajudasse a ter sucesso na escola- ou só nos dizem quando lhes dizemos que percebemos.
Enfim, o que quero dizer é que este é um problema que vem a crescer exponencialmente e que tem efeitos nefastos nos alunos, sendo os sintomas exactamente o que aqui neste artigo se descreve:
- faltam às aulas da manhã ou adormecem (chegam atrasados) porque estiveram acordados até ao amanhecer a jogar;
- geralmente vêm para a escola com vários dispositivos digitais que usam à vez, às escondidas;
- são pouco ou nada sociáveis. Como falam com adultos de outros países, acham que estão muito à frente dos colegas em maturidade - às vezes têm tão pouco hábito de falar com pessoas reais e não virtuais que são muito fechados;
- são exímios a inventar desculpas e mentir - embora, às vezes, se os apanhamos ainda muito novos, com 15 anos ou 16, acontece reconhecerem o problema e aceitarem ajuda;
- falam bem o inglês, mesmo quando não são capazes de escrever um palavra;
- são agressivos quando os confrontamos relativamente ao abuso de dispositivos digitais. Acham que não têm nenhum problema e dizem que é normal na idade deles usarem dispositivos electrónicos na aprendizagem;
- pensam que são excelentes em tudo que tem que ver com a internet e com recursos digitais (como passam 20 horas por dia na internet acham que têm doutoramento por usucapião ou assim - porém, alguns são mesmo bons);
- têm conhecimentos tipo Wikipédia de acontecimentos avulso de história por causa dos jogos, que geralmente têm contextos e enquadramentos históricos - mas estão convencidos que sabem tudo sobre história e que o que aprendem nos jogos tem rigor científico. É típico desses viciados corrigirem-nos: dizerem-nos, a propósito de qualquer coisa que dizemos, 'isso não foi assim' porque num jogo qualquer viram algo diferente e para eles a internet é a verdade e a vida... é precisa muita paciência e argumentação com eles até que se convençam que a internet não é a verdade;
- não são activos nas redes sociais; muito desenvolvem comportamentos obsessivos-compulsivos evidentes.
Homem fechou em casa durante oito meses jovem viciada em videojogos
A adolescente desapareceu a 30 de maio de 2022, tinha então 16 anos. Na manhã desse dia, como era habitual, passou pelo local de emprego da mãe, antes de seguir a pé para a escola, na Cruz da Areia, bairro próximo da cidade de Leiria. Não chegou a entrar na escola.
Fonte da PJ conta que, naquele dia, a rapariga levava "uma mochila com um pijama, uma manta, uma consola de jogos e pouco mais". A intenção seria ir ao encontro do homem que conhecera três anos antes e com quem mantinha contacto através dos jogos online. "A família não percebia o que acontecia, embora houvesse alguns indicadores de risco. A jovem era pouco sociável e isolava-se muito no quarto, a jogar", revela fonte ligada ao processo.
Após desaparecer, a jovem deixou de ter atividade nas redes sociais, sendo que, antes, também não tinha muita. A PJ acabaria por apontar para um adulto, a viver com a mãe numa casa da cidade de Évora. Foi aqui que a jovem foi encontrada anteontem. Estava na cama a jogar, quando a PJ entrou na casa, e revelou "dificuldade de comunicação".
Em comunicado, a PJ diz que, "a coberto de uma suposta relação amorosa", o suspeito manteve a rapariga "em completo isolamento social", "aproveitando-se da sua persistente e recorrente dependência de jogo online, imaturidade e personalidade frágil".
"Não estava presa, mas vivia iludida naquele ambiente de bolha", explica fonte policial, acrescentando que, durante os oito meses, a jovem "passava os dias a jogar, sem contactos sociais".
O homem, operário fabril, tem dois filhos, um adulto e um menor, com quem mantém contactos. Levava uma vida "normal" e era, à primeira vista, "insuspeito".
Homem fechou em casa durante oito meses jovem viciada em videojogos
Fonte da PJ conta que, naquele dia, a rapariga levava "uma mochila com um pijama, uma manta, uma consola de jogos e pouco mais". A intenção seria ir ao encontro do homem que conhecera três anos antes e com quem mantinha contacto através dos jogos online. "A família não percebia o que acontecia, embora houvesse alguns indicadores de risco. A jovem era pouco sociável e isolava-se muito no quarto, a jogar", revela fonte ligada ao processo.
"Não estava presa, mas vivia iludida naquele ambiente de bolha", explica fonte policial, acrescentando que, durante os oito meses, a jovem "passava os dias a jogar, sem contactos sociais".
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