September 02, 2022

Este artigo é um disparate



Dizer que os russos não sabem nada do que se passa nem sabem que há uma guerra é o mesmo que dizer que no tempo da ditadura de Salazar as pessoas não sabiam o que se passava: que havia censura, que os opositores eram presos, exilados, torturados, que havia uma guerra, etc. Talvez os cidadãos de 10 e 12 anos não soubessem e mesmo assim é difícil porque todos tinham familiares na guerra como os russos tem familiares a morrer na guerra, a lutar e a enviar todos os dias imagens, vídeos, etc. As pessoas estão na rua, em Moscovo e vêem prender outros cidadãos. Muitos têm família na Ucrânia e sabem muito bem o que se passa. Vêem os campos para onde enviam os ucranianos deportados. Os russos sabem muito bem quem é Putin e o que anda a fazer. Ademais, os que pedem vistos e costumam vir passar férias à Europa são os que têm acesso a redes sociais e notícias dos canais ocidentais.


Vistos para cidadãos russos. Não se pode meter tudo no mesmo saco!

António Capinha

Ainda que 70 por cento da população russa seja apoiante da invasão da Ucrânia é necessário aferir as condições em que esse apoio se verifica.

Não podemos deixar de levar em linha de conta que a Rússia é uma feroz ditadura, sem qualquer espaço para contraditório, sem liberdade de imprensa. A realidade é construída de acordo com os interesses de um grupo político, oligarcas, chefiados por um presidente cujas raízes se perdem no que de pior tem a escola do KGB/FSB.

Aos mais jovens, nos bancos das escolas, são distribuídos manuais escolares que deformam a realidade, constroem uma narrativa quotidiana adaptada aos interesses de uma clique sem escrúpulos que fecha a porta a qualquer sinal de liberdade ou facto vindo do exterior que contrarie a narrativa que impõem.

A guerra não é uma guerra, não é uma invasão, não é uma ofensiva. É uma operação especial!

A Ucrânia não é um país, é um território à espera de ser ocupado por essa operação especial para ser limpo de nazis. Os media russos estão proibidos de fazerem referências a civis mortos pelas tropas de Moscovo. Ou seja, o povo russo não sabe na realidade o que se passa. Os jornalistas e correspondentes ocidentais saíram de Moscovo há muito, anulando-se assim qualquer possibilidade de um outro olhar fora da vigilância do Kremlin.

A população russa está sem acesso às redes sociais. Não consegue um escrutínio, mínimo que seja, que possa abrir uma brecha no discurso oficial.

Os opositores ao regime de Putin são de imediato silenciados ou lançados nas prisões.

Ou seja, o povo russo desconhece o que se passa ou tem uma visão destorcida da realidade.

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