JMT diz neste artigo que não é contra as elites, mas que as elites portuguesas, ao contrário de contrário Churchill, que oferece como exemplo, não têm noção dos deveres associados aos privilégios e que por isso fazem a sociedade estagnar.
Em primeiro lugar as elites de outros países também se comportam como classe que devora privilégios negligenciando os seus deveres. Veja-se o que se passa em França ou na Alemanha ou na rússia, ou nos EUA de Trump. Isso vê-se em todos os países. A França absolutista é o exemplo típico, mas em Inglaterra, entre os homens de Eton que a governaram tantas vezes, a começar pelo rei que abdicou, houve muitos que pouco se interessaram pelo país.
As grandes reformas sociais para melhorar a vida dos sem privilégios e as possibilidades de enriquecimento burguês, aconteceram brevemente, durante o reinado da rainha Vitória por influência do marido e após a Segunda Guerra, também brevemente, com o governo trabalhista de Attlee.
O que têm de diferente as elites antigas, do tempo de Churchill e as actuais, é que agora o termo, «elite», diz-se em vários sentidos: existem as elites políticas (pessoas que ascenderam dentro de partidos a cargos de poder com acesso a riqueza); existem as elites económicas (pessoas que tiveram sucesso ou que pertencem a famílias endinheiradas); existem as elites intelectuais (pessoas que se dedicam ao estudo, investigação e produção de conhecimentos) e as elites de nascimento (pessoas de famílias com títulos nobiliárquicos).
Ora, dantes o conceito de «elite» era mais unitário, eram as pessoas da nobreza, praticamente, quem reunia todas essas características: tinham uma educação superior e comandavam a investigação e os conhecimentos, tinham uma riqueza de suporte que permitia tempo para a política e para o serviço público, vinham de famílias com tradição (e portanto, experiência) de governo, tanto político como empresarial. Daí que houvesse mais a noção de dever. Eram classes fechadas onde várias gerações conviviam com os problemas do país desde sempre e desde pequenas.
Houve uma altura, após a Segunda Guerra, sobretudo, em que a educação se vulgarizou e aos poucos começaram a ver-se pessoas penetrar essas elites, por mérito próprio. No entanto, isso também mudou.
As elites políticas actuais são meras elites partidárias. Imensos políticos -e não é só em Portugal- tiram um curso às três pancadas, plagiam ou compram uma tese de mestrado ou de doutoramento para terem uma aparência de pessoas com conhecimentos (que não têm), não têm nenhuma experiência de trabalho fora dos partidos, não têm riqueza própria e vão para a política para enriquecer, etc.
Portanto, são elites no pior sentido do termo que é serem um grupo de pessoas com privilégios, mas até há uns 20 ou 30 anos ou assim, pertencer a uma elite de um país requeria mais que um cartão de um partido: tinha-se um corpo de conhecimentos sólidos ou uma experiência de trabalho adequada ou trabalho em funções de serviço público reconhecido. Não se ia, aos 25 ou 30 anos ser consultor do BDP ou Administrador Público ou sair de um curso qualquer feito com ajuda dos amigos do partido dos pais directamente para ministro e outras situações do género. São, por estas razões, mais vulneráveis à corrupção. E os que resistem à corrupção (na qual incluo clientelismo e tráfico de influências) não têm, na maioria das vezes, estrutura que os ajude a ultrapassar a cobardia de enfrentar grandes grupos económicos.
É como as grandes ondas de calor ou as grandes enxurradas: essas coisas aconteciam aqui e ali, mas eram as excepções e não a regra. Agora são a regra e o que se chama elites são, grosso modo, pessoas que se outorgam privilégios e riquezas, sem nenhum serviço público, só privado.
Como podemos querer ter um elevador social a funcionar se dinamitamos a educação pública?
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