August 04, 2022

As nossas cidades são pouco verdes

 


Duas consequências do aquecimento global e da desertificação dos campos são: grandes vagas de calor e o afastamento/desconhecimento da natureza pelas gerações mais novas o que não ajuda ao interesse pela conservação e preservação da diversidade biológica.

Como diz  Sir David Attenborough, quando éramos miúdos tivemos a sorte de viver mais ou menos imersos na natureza e vermos os insectos nas flores, as estações, os girinos crescer em rãs, etc., mas agora a vida nas cidades afasta as crianças da natureza. Não tem que ser assim. As cidades podiam ter pequenos pulmões verdes, jardins onde agora estão edifícios públicos derrocados e parques de cimento. As ruas deviam ter obrigatoriamente árvores de espécies variadas, adequadas às zonas, que pudessem ser abrigo de aves, alimento de insectos e outros seres da natureza. Para além de serem locais de irrupção da natureza na cidade, serviam também o propósito de ajudar a viver nas vagas de calor. Um parque, um jardim, árvores de copa larga, abrigam do calor, dão sombra, humidade e protecção durante os verões quentes.

Dantes era normal as cidades terem grandes árvores centenárias e fontes refrescantes espalhadas. Quando as casas eram quentes as pessoas saíam e iam sentar-se num jardim, num parque, num pradinho, perto de uma fonte, à sombra. Havia sempre perto quem vendesse uma limonada, um gelado...

Setúbal é uma cidade que tinha, quando vim para aqui morar, imensos pequenos pulmões verdes: pequenos jardins, zonas de casas antigas com grandes quintais, quintas com pequenos prados... numa vintena de anos arrasaram tudo e substituíram tudo por cimento. O que era verde é cinzento e castanho deprimente. Há zonas grandes que ainda se chamam, 'jardim de...'; 'quinta de...', mas já não há lá nenhum jardim ou quinta. Só prédios, alguns com janelas a 1 m do prédio vizinho. Ruas inteiras sem uma árvore, um arbusto, só cimento, cimento, cimento.  Quando faz aqui muito calor, de mais de 40º C, o que é frequente, não se pode sair à rua. Não há uma sombra, vai-se o caminho todo à torreira do sol. Tem que apanhar-se um autocarro ou andar meia-hora para chegar a um sítio com um pequeno jardim ou um parque. As casas ficam mais quentes e gasta-se mais electricidade a arrefecê-las com ar condicionado. Tudo feito sem pensar. Uma tristeza. 

A ganância dos construtores e dos imobiliários com a cumplicidade irresponsável e por vezes criminosa dos políticos fez das cidades cemitério de cimento.


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