February 05, 2022

Isto é inumano

 



A rapariga está sozinha num 1º andar sem elevador, dependente 24h por dia de suporte de oxigénio porque a mãe preencheu o papel errado e depois ninguém a quis receber.


Isabel não tem ar para chegar ao fim da rua


Espera um transplante de pulmão. Mesmo com oxigénio 24h por dia, falta-lhe fôlego para sair de casa. Está sozinha há oito anos, desde que chegou da Guiné. Embaixada de Portugal negou visto à mãe, apesar dos apelos dos médicos.
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Entre tudo o que não tem, o que ela queria mesmo era companhia. O silêncio em que vive só é interrompido pelo som da máquina que a liga à vida. “Queria muito a minha mãe aqui. Não consigo sorrir desde 2008 e eu não era assim. Era alegre, espontânea. Mas agora o meu mundo está a fechar-se”, desabafa. O suporte familiar é um dos fatores fundamentais para um doente poder ser transplantado. Isabel está em lista de espera, mas o facto de viver sozinha é um obstáculo ao sucesso da intervenção. Por isso, os médicos que a acompanhavam no Centro Hospitalar Lisboa Norte enviaram, em 2018, duas cartas à Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau apelando à emissão de um visto para a vinda da mãe.

Nenhuma das missivas, onde era descrita a gravidade da situação e a necessidade “fundamental” da presença da família, teve resposta. E apesar dos apelos humanitários, em março de 2019 o pedido de visto foi recusado, por “não ser possível comprovar a intenção da requerente [a mãe, Sábado Bapalpeme] de abandonar o território antes do visto caducar”. Ou seja, por não existir uma data de regresso da mãe, temendo-se a permanência irregular em Portugal.

€204 por mês

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) justifica a recusa com o facto de a mãe ter pedido o visto errado: “A referida cidadã apresentou um pedido de visto Schengen sem preencher os respetivos requisitos. Deveria ter requerido um visto nacional de estada temporária para acompanhamento de familiar sujeito a tratamento médico (tipologia E7).” Mas a embaixada nunca lhe explicou isso, mesmo sabendo, pelas cartas dos médicos, que se tratava de uma situação de saúde.

Já depois da resposta do MNE, a mãe voltou à embaixada de Portugal em Bissau, para pedir o visto correto. Mas não conseguiu sequer ser recebida.

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