Não vejo hoje em dia, nenhuma obra de literatura da envergadura desta obra, 'Guerra e Paz'. Estive a adiantar a leitura do livro -e a aproveitar para deixar gravadas- porque quanto mais leio, mais vontade tenho de ler. É que à medida que avança na obra, Tolstói vai como que abrindo para nós uma janela, aos poucos, sobre uma paisagem da qual nos oferece um panorama completo.
Estava aqui a pensar: o que faz de alguém um grande escritor como Tolstói ou, melhor dizendo, o que é preciso ter-se para se ser um grande escritor como ele, capaz de criar um panorama épico sobre acontecimentos dramáticos que moveram a história da Rússia e da Europa, mas também um panorama íntimo sobre as pessoas, as suas motivações, instintos, inclinações, desejos de toda a ordem.
Ele move os seus personagens principais -Andrei, Pierre e Natacha- como peças num xadrez gigantesco que se vai movendo à volta deles e empurrando-os em direcções diferentes, mas sem esquecer o esclarecimento do sentido do jogo e do grande jogo e da inter-relação entre todas as peças. O jogo é a guerra napoleónica com a invasão da Rússia e o 'fazer' das sociedades, o grande jogo é a vida. Andrei, Pierre e Natacha são os principais personagens do grande jogo.
Tolstói desenha estes três personagens principais com motivações diferentes: Pierre joga para procurar o sentido do grande jogo; Andrei joga para deixar uma marca no grande jogo e Natacha joga, pelo puro prazer de jogar. Desconfiamos que Tolstói é uma soma destes três personagens.
O que é preciso para se ser capaz de escrever uma obra destas?
- ter um grande conhecimento e domínio da língua, isso é óbvio. Sem essa desenvoltura como teria feito as descrições notáveis que faz, desde a movimentação das tropas na batalha, até aos pormenores sofisticados do desenrolar de uma soirée na corte, passando pelas descrições dos labirintos da interioridade humana.
- ter uma imaginação prodigiosa, capaz de 'ver' os quadros que nos pinta com palavras.
- ter lido e estudado muito. Vê-se pelos conhecimento dele, que vão da História à física e da física à biologia, e da biologia à psicologia e daí à administração pública. É com os seus vastos conhecimentos que consegue transportar situações de um plano para outro, com metáforas. Há, neste livro analogias extraordinárias de esclarecedoras.
- ter uma grande e rica experiência de vida. Tendo sido um nobre, mas tendo vivido muito tempo no campo, tem a experiência da vida na corte e da vida do camponês. É uma pessoa viajada e em contacto com ideias progressistas.
- ser uma pessoa que pensa. Não basta ter experiência de vida se não se souber aproveitá-la como matéria de evolução, ou ler ou viajar, etc. Como ele diz, Há quem passe pelo bosque e apenas veja lenha para a fogueira.
- ter uma grande paixão por escrever e contar histórias.
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