April 06, 2021

A propósito de negacionismo

 


O termo, negacionismo, surgiu ligado à motivação política de alterar os eventos históricos, tal como refere Henry Rousso, que é quem primeiro usou o termo para referir o governo de Vichy durante a 2ª Grande Guerra. Distingue-o de revisionismo histórico. Negacionismo refere-se, não à revisão, justificada, dos eventos passados, mas à negação ou falsificação do passado histórico. 

O termo é muito usado para referir os criacionistas que negam o evolucionismo, os que negam o holocausto e os que tentaram obliterar pessoas e factos da História, à maneira dos soviéticos. Dado estes antecedentes, o termo negacionismo tem uma conotação depreciativa: ou refere-se a 'cegos', ignorantes que não vêem as evidências (passe o pleonasmo) ou a falsificadores intencionais da História com intuitos políticos. 

Mais recentemente, o termo tem servido para designar os que negam o problema ambiental do planeta e, ainda mais recentemente, os que negam que haja uma pandemia.

O negacionista, não o falsificador que nega com motivação política e sabe que está a negar, mas o outro, o ingénuo, para o ser, tem que ter algumas características: a sua negação é de convicção e não de razão, não apresenta argumentos válidos, despreza evidências sem fundamentar esse desprezo e incorre em contradições importantes. 

O negacionista exclui-se do debate. A sua posição é: não acredito, sou livre de não acreditar e não quero ser obrigado a seguir regras acerca de assuntos em que não acredito. Nessa medida, nem todos são negacionistas, pois a ciência não é constituída por verdades dogmáticas e é discutível e há quem apresente argumentos válidos. 

Por exemplo, no caso da pandemia, podemos discutir se a melhor medida é confinar ou se há benefícios em usar máscaras do tipo A ou B ou se é melhor ter as escolas fechadas. Agora não podemos negar que há uma pandemia, isto é, uma doença que se espalha velozmente pelo planeta por contágio entre pessoas e para a qual não há ainda tratamento certo ou cura, não podemos dizer que nas escolas não há transmissão de Covid-19 quando nos é dito vezes sem conta que não se sabe a origem de 85% dos contágios e quando não há dados fiáveis do que se passa nas escolas e não podemos negar que há pessoas a morrer de Covid-19, muitas delas sem historial de doenças, nem que os hospitais estão saturados. Também não podemos dizer, sem grande contradição, que a ciência é uma aldrabice ou uma narrativa como outra qualquer, quando usamos telemóveis e carros, computadores e electrodomésticos, antibióticos e cirurgias, com médicos que usam máscaras e que queremos que as usem, etc.

Do outro lado, do lado da ciência, também existem aqueles que se furtam ao debate, desde logo quando chamam negacionista a alguém que quer discutir a questão -uma maneira de subtrair a pessoa do debate, depreciando-a ao nível do ignorante- e usam essa classificação como substituto de uma argumentação válida da sua posição.




4 comments:

  1. Esse título diz tudo!
    Os miúdos estão assintomáticos e, mesmo quando têm sintomas, são muito leves. Nem eles próprios sentem nada....mas transmitem aos outros!
    Em vez de estarem a testar professores, testem os miúdos! Era vê-los todos em casa! E os pais aflitos a ver a vida a andar para trás...

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  2. Têm que testar todos. Alunos, professores e funcionários. Ontem lia um artigo de um ignorante qualquer a fizer que não fazia sentido vacinar professores porque os professores nunca se aproximam dos alunos a não ser na escola primária. LOL

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  3. Eu não dou opiniões sobre aquilo que não sei. Acho fantástico quando alguém fala daquilo que não sabe...
    Mas também devem ter recordações dos seus tempos de escola, que Diabo!

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  4. Os adultos em geral esquecem completamente como eram em adolescentes como sabes (é por isso que estranham os comportamentos dos filhos...) e da escola têm, quase todos, uma memória muito emocional.

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