Isto que aqui se conta é muito grave porque não se trata de um lapso anódino mas de um modus operandi. Os inspectores têm por hábito assinar papéis que incriminam pessoas, sem os ler. Neste caso, uns inventam uma conversa que não ouviram e que incrimina Rui Pinto e outros assinam o relatório de cruz, sem o ler, sendo que o relatório nem sequer foi escrito por um dos intervenientes mas por uma terceira pessoa que nem sequer fez parte da acção. Isto faz-nos ter medo da polícia.
Tribunal ordena extracção de certidão depois de inspectora ter dito que não conseguiu ouvir conversa entre suspeitos mas que assinou de cruz relatório onde eram relatados diálogos.
Entretanto, da parte da tarde a colega de Hugo Monteiro, a inspectora Aida Freitas, surpreendeu os juízes ao garantir que não ouviu rigorosamente nada da conversa, por a mesa onde se encontravam estar demasiado distante da dos suspeitos. Apesar disso, assinou juntamente com o colega o relato de diligência externa confirmando alguns extractos da conversa. “Assinei de cruz, erradamente. Mais tarde, quando soube o que lá estava escrito, disse aos meus superiores hierárquicos que se tivesse sabido antes não teria assinado”. Aliás, segundo a testemunha nem foi sequer o colega a redigir o documento, mas sim terceiro inspector que não estava no snack-bar, José Amador.
Perante a crescente estupefacção dos magistrados – “Percebe a gravidade disto?!”, perguntou-lhe a juíza que dirige o julgamento –, Aida Freitas acabou por afirmar algo ainda mais bizarro: que é comum os inspectores rubricarem documentos de serviço sem sequer os lerem: “Muitos de nós assinamos as coisas sem as lermos”. Se o colega que assinou o relatório conseguiu ou não ouvir a conversa, disse ignorá-lo: “Não vou falar das condições auditivas dele, podem ser melhores que as minhas”. Mas esclareceu depois não sofrer de nenhum problema de surdez. Desmentiu porém que a mesa estivesse assim tão próxima dos alvos - falou em mais de cinco metros - e assegurou haver mais gente no estabelecimento.
A inspectora trabalha agora na Unidade Nacional de Combate à Corrupção, mas em 2015 estava ligada à investigação da criminalidade informática.
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