November 14, 2020

Hegel morreu neste dia, em 1831




Hegel diz do conhecimento e da sabedoria o que Kant dizia, relativamente à acção humana, 'se queremos os fins temos também de querer os meios de os atingir'. Se queremos a compreensão temos de querer os meios que a permitem.

“A impaciência -diz Hegel- pede o impossível, quer atingir a meta sem os meios para chegar lá." Como se fosse possível transmutar o conhecimento em sabedoria de um modo imediato, como se o conhecimento fosse um objecto estático diante de nós que se alcança e possui de uma vez por todas: não queremos fazer o trabalho que implica reivindicá-lo e substituimo-lo por simulacros que comprimem ideias complexas em listas, pequenas frases e explicações animadas de dois minutos.

(Jimi Hendrix dizia isto de outra maneira: as pessoas, dizia, viram-me uma vez num concerto e depois ficam com esse 'retrato' de mim e interpretam-me a partir dele, quando eu já vou noutro momento longínquo desse)

O controlo do conhecimento e da imagem, de que tanto se fala hoje-em-dia, vive dessa libertação controlada de lastro, condensado, que impede a compreensão e a evolução. Em termos psicológicos isto tem muito que se lhe diga. "O que é familiar não é conhecido. No processo do conhecimento, a maneira mais comum de enganar-se e enganar os outros é assumir algo como conhecido e aceitá-lo como tal. ′′

'O objectivo a ser alcançado é o insight da mente sobre, o que é saber. A impaciência pede o impossível, quer atingir a meta sem meios para chegar lá. A extensão da viagem deve ser suportada, pois cada momento é necessário; e, novamente, devemos parar em cada estádio, pois cada um é em si uma forma individual completa e é total e finalmente considerado apenas na medida em que seu carácter determinado é tomado e tratado como um todo ou apenas na medida em que o todo é considerada à luz do carácter especial e peculiar que esta determinação lhe confere. A mente universal em acção no mundo, teve a paciência de passar por essas formas no longo período de tempo e de assumir o trabalho prodigioso da História do mundo; a mente particular, que tudo permeia, jamais conseguiria tornar-se consciente do que ela mesma é com menos esforço do que aquele de apreender o que sua própria substância contém.' FE

A nossa concepção equivocada do conhecimento como um objeto estático também é a raiz da nossa perigosa hipocrisia e da tirania de opiniões.
O conhecimento, diz Hegel, não é uma questão de possuir uma verdade tornando-a familiar e, em seguida, afirmando a sua apresentação ideal, mas muito pelo contrário - é um tango eterno com o desconhecido. Isso é o que torna o conhecimento fascinante: essa dança, esse vai-vem entre nós e as coisas, esse re-arranjo constante e interminável das peças do puzzle no sentido da construção de algo que não existe ainda mas que moldamos com 'as nossas próprias mãos' por assim dizer, entre o que somos e percebemos e o que podemos ser e perceber. Não tem fim determinado num princípio e se tivesse perdia o interesse. 

O que pensamos familiar, o que pensamos como algo 'bem conhecido' foi o que a mente terminou e em relação ao qual não tem mais nenhum interesse adicional. Quando comprometido no processo de conhecimento, esta é a forma mais comum de auto-engano, e um engano de outras pessoas também: assumir que algo é familiar. Tornam-se pontos fixos por onde começar e para onde retornar. O processo de conhecimento oscila entre esses pontos falsamente seguros e, em consequência, segue apenas ao longo da superfície. É claro que não é possível ir para além da superfície se as coisas se escondem.

O verdadeiro entendimento, argumenta Hegel, requer a desconstrução do que é familiar, a superação dos pontos fixos de nossas opiniões: 'A força da compreensão é o mais surpreendente e grande de todos os poderes, ou melhor, o poder absoluto. […] A vida da mente não é aquela que evita a morte e se mantém longe da destruição; ela suporta a morte e na morte mantém o seu ser.'

 



uma pessoa gostava muito de poder viajar ao passado e falar com estas pessoas. Tanta coisa para perguntar...  embora, seja muito duvidoso que elas tivessem algum interesse em falar connosco...

- por exemplo, olhamos para este busto e reparamos que o escultor o penteou à moda de então - à Napoleão: a mente que permeia tudo de modo a tornar tudo familiar...

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