October 11, 2020

Não se trata de apontar o dedo

 


A lógica deste senhor é: esconda-se a informação, não se fala nisso como se não se passasse e pode ser que tudo seja apagado por uma narrativa qualquer de, 'está tudo bem'. Só que não está e não é possível avançar   com confiança escondendo e abafando. Se há estigma, calamos a informação? E quem é que este senhor pensa que fica afectado na sua segurança quando há casos de Covid? Todos! As pessoas que falam sobre as escolas deviam ser obrigadas a ir passar uma semana -o mínimo dos mínimos- a uma escola: se um aluno tem Covid, ou um professor ou um funcionário, todos os que tiveram contacto com ele estão em risco. E quem são os que estiveram em contacto? Praticamente toda a gente, dado que os alunos se misturam todos nos intervalos, os professores também e os funcionários também. Como a doença é muito contagiosa, as probabilidades de já se ter propagado são altas. Ora, o que devemos fazer? Ficar calados e omitir a informação para fingir que está tudo bem? Como se lida com os problemas não falando deles? Ou devemos às pessoas, nomeadamente às de grupos de risco, que são as mais directamente afectadas, a verdade, para que possam decidir com base em informação actualizada? Segundo este senhor devemos esconder e mentir pois é assim que tudo melhora: o que as pessoas não sabem não as incomoda. Pois não, mas pode matá-las. De repente estão na estatística dos 14% ou 5% de mortes a mais sem explicação.

Esta tem sido a lógica deste governo: comprar a paz social com a fabricação de uma narrativa ilusória. Depois cá estamos nós para arcar com as despesas.



Mapas para apontar o dedo


Não se contesta a necessidade de clareza e sobretudo de eficiência na intervenção dos delegados de saúde num ambiente tão sensível como é o meio escolar, assegurando a proteção de professores, auxiliares e alunos. Essa eficiência exige uniformidade de critérios, rapidez no isolamento de contactos e na testagem, e informação clara a quem ela é devida - profissionais e famílias efetivamente relacionados com os casos.

Mais difícil é entender para que serve, e a quem, uma listagem de nomes e escolas atiradas para a praça pública sem critério. Pior ainda, sem contexto (não é de todo igual a existência de um caso isolado ou de um surto) e colocando na mesma lista escolas com casos ativos e não ativos. É irresponsável e alarmista, já para não dizer que dá margem para muita especulação e erro. Como se viu, de resto, com o facto de a própria Fenprof se ver obrigada a corrigir a lista pouco depois de a divulgar.

A Comissão Nacional de Proteção de Dados tem alertado para as transgressões cometidas na divulgação de informação sigilosa, numa doença que tem estado rodeada de uma carga de estigmatização inaceitável. Numa escola com centenas ou milhares de alunos, têm de ser informados aqueles cuja segurança é posta em causa, mas não mais do que isso. Mapas públicos e listagens descuidadas e alarmistas, para que se possa apontar mais facilmente o dedo, não, obrigado. E sim, o autor deste texto tem filhos pequenos na escola.

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