August 13, 2020

Quem morreu neste dia, véspera do dia da Batalha de Aljubarrota, foi D. João I

 


Integrado nos trabalhos de campo do projecto da Capela do Fundador, o investigador turco Yigit Zafer Helvaci fotografa a parte superior do túmulo de Dom João I e Dona Filipa de Lencastre para a constituição de um modelo tridimensional desta estrutura, com recurso a fotogrametria 3D.


“Dom João I morreu em 13 de Agosto de 1433, mas a notícia da sua morte só foi divulgada um dia depois, a 14, intencionalmente, para a fazer coincidir com a data da comemoração da vitória em Aljubarrota e apresentar o facto como um sinal divino”, narra o especialista em heráldica. “A propaganda não é exclusiva dos tempos modernos!”

“Há um grande preconceito da comunidade científica face à heráldica, pois crê--se que ela está exclusivamente ligada à nobreza e à causa monárquica. Na verdade, é um código visual de comunicação, importante para a identificação e datação de informação histórica e para melhor compreensão de uma obra. E esta equipa reconheceu-o. Sabe-se que cores eram usadas por Dom João I. Agora, queremos saber como eram usadas.”

Na escultórica dos túmulos, está bem patente um sistema de diferenças heráldicas, entre familiares. Pais, filhos e irmãos têm escudos bastante semelhantes, mas com subtis diferenças identificativas entre si. Como na época medieval imperava a cultura cavaleiresca, as batalhas eram o palco perfeito para actos de bravura e honra.
Ao contrário de hoje, em que os militares se camuflam para dissimular a sua presença no campo de batalha, era importante ser facilmente reconhecido para mais fácil atribuição dos feitos heróicos.
E tal conseguia-se pela heráldica. Sinal da importância destes signos visuais, o prémio máximo para um combatente era a captura da bandeira do inimigo.

Fernão Lopes, o cronista consagrado do século XV, que dedicou a Dom João I o seu talento narrativo, conta mesmo que o militar português que subtraiu a bandeira aos castelhanos em Aljubarrota a trouxe ao rei tão entusiasmado que, enrolado nela, fez uma dança efusiva. O próprio monarca teve de o mandar parar!

...Foram vários os heróis desta batalha, com relatos de bravura cujo registo varia entre o facto e a lenda. Em primeiro lugar, o próprio rei, que lutou fisicamente lado a lado com as tropas e que, já prostrado, terá sido salvo in extremis de um golpe fatal do inimigo por um nobre, Martim Gonçalves de Macedo, cuja campa rasa se encontra à entrada da Capela. Depois, o Condestável, braço-direito do rei e cujo génio militar é ainda hoje estudado por académicos militares. Os feitos heróicos da Ala dos Namorados perduram também até à actualidade, tendo inclusivamente dado o nome a uma banda pop nos anos 1990. Mas a mais icónica lenda é a da Padeira de Aljubarrota, de seu nome Brites de Almeida. No rescaldo da batalha, terá chacinado com as próprias mãos, a golpes de pá, uns quantos castelhanos que, em fuga, se tinham escondido no seu forno! Pelo menos, essa é a lenda.

Mais ou menos fantasiada, a mística do Mosteiro da Batalha perdurará para sempre. Até Almada Negreiros para ela contribuiu, já em pleno século XX, quando ali defendeu que os icónicos Painéis ditos de São Vicente e atribuídos a Nuno Gonçalves, terão sido pintados especificamente para a Capela do Fundador. Segundo os cálculos do pintor, as medidas de vários dos trípticos que chegaram aos nossos dias são exactas para os espaços nas paredes e muitas das figuras neles representadas estão lá sepultadas.

A cor do túmulo de Dom João I e Dona Filipa de Lencastre

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