Nim.
Sim, agora -como diz Habermas numa entrevista ao Le Monde- vemos como as decisões são tomadas ao mais alto nível.
Acompanhamos diariamente o processo, ao contrário do que costuma acontecer: quero dizer, geralmente só sabemos das decisões quando são anunciadas depois de tomadas; neste caso, pelo contrário, temos acesso à opinião dos vários especialistas (os da saúde, os da economia, os da política, os da educação, os da indústria, etc), dos conselheiros, dos membros da estrutura que implantam as decisões, no próprio acto de aconselhar e opinar, cada um na sua especialidade, porque o fazem em directo e publicamente e, depois, vemos o modo como a decisão é tomada ao mais alto nível.
E o que temos visto é que a decisão, regra geral, é tomada de modo errático e para servir interesses pessoais. Falo internacionalmente. O que vimos, desde o início, com a China, foi o desprezo da observação e conselho de um médico por questões de interesse próprio; de seguida vimos Itália, França e muitos outros países desprezarem a opinião especializada dos cientistas sobre os efeitos da doença, por interesse próprio; de seguida vimos a falta de solidariedade da UE e dos EUA, contrariando a opinião de especialistas, para servir interesses próprios; até a OMS, para servir interesses políticos, caiu no erro de desprezar a estratégia de Taiwan na abordagem à doença.
Ou seja, só quando começam a cair mortos à frente dos olhos é que os líderes ouvem, de facto, os especialistas dos assuntos acerca dos quais têm que decidir. Enquanto não há mortos a inundar as TVs, os líderes têm um MO de decisão errático: ouvem especialistas, sim, mas mais por protocolo que por acreditarem que a sua posição tem valor político e depois tomam decisões conforme o seu interesse. E tomam-nas mal. Veja-se o que se passa com o tema ambiental onde a voz dos cientistas é menorizada por questões economicistas - que nos trouxeram onde estamos.
Hoje vem um artigo impressionante no Guardian que mostra, com imagens, o efeito positivo dramático que o confinamento está a ter no ar que respiramos nas cidades, mas este facto óbvio há-de ser devidamente ignorado quando for altura de voltarmos à rotina de destruir o planeta; veja-se também como o Eurogrupo decidiu não decidir e deixar tudo como sempre foi, por interesse egoísta de alguns países e conivência de outros.
Os políticos estão habituados a gerir para a próxima eleição e quando aparece uma crise que os obriga a olhar o médio e longo prazo e onde não é possível decidir ignorando a voz dos peritos, ficam expostos nas suas insuficiências.
Não
Não se pode dizer propriamente que tenham falhado como se antes da crise acertassem. Não, o que acontece é que esta crise expôs, um pouco pelo mundo fora, a falta de preparação dos líderes mundiais para decidirem num mundo globalizado onde os povos já não são analfabetos, lêem notícias, querem saber do que anda a ser feito, têm uma posição sobre os assuntos porque uma grande maioria tem uma formação académica que lhes dá acesso ao saber, percebem quando alguém foi eleito por cunha sem mérito nenhuma, vêem o que se passa em outros países e comparam e, por isso, os políticos já não podem decidir como antigamente, quando decidiam por todos sem partilha de decisão, de um modo paternalista, desde logo porque eram uma elite academicamente educada em contraste com o povo. Agora começa a ser ao contrário e, no entanto, muitos governantes, senão a maioria, ainda governa como se estivesse nesse passado paternalista e unilateral.
Os líderes políticos têm que adaptar-se e encontrar novas formas de decidir porque a característica que mais evidenciam, em geral, é o interesse individual, a falta de preparação intelectual para lidar com um mundo fortemente 'cientificado', com conhecimentos muito especializados sobre quase todos os assuntos e, embora as decisões sejam sempre políticas, pois destinam-se ao mundo humano, já não é possível um político ignorar completamente o conhecimento científico e decidir tendo em vista os seus interesses particulares (porque todos estamos a ver e percebemos o que estão a fazer) e tendo por bases os seus dogmas e preconceitos ideológicos.
Contundente condena a la Comunidad de Madrid por su gestión de la crisis del coronavirusDesde opacidad al vaciamiento de la atención primaria. Profesionales de la sanidad madrileña explican las deficiencias cometidas por la Comunidad de Madrid en la gestión de la pandemia de covid19. Por Alberto Azcárate.
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Macron face au coronavirus : comment la peur a gagné le sommet de l'Etat
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Revirements, hésitations, non-dits : l’actuelle paralysie de l’exécutif reflète sa crainte des conséquences juridiques et politiques de sa calamiteuse gestion de la crise.
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