March 05, 2020

Reflection III



"... students are not just blank slates when they walk into our rooms, but instead are living stories with very real conflicts. As their teachers, we are being invited into these stories. And while the part we play is often short and temporary, our words and actions can have a monumental impact." (Trevor Muir)

Às vezes é difícil 'ver' as pessoas por detrás dos alunos. Temos tendência a categorizá-los enquanto alunos porque é o modo mais rápido e eficaz de conseguir pô-los a trabalhar e a aproveitar-lhes as capacidades. A maioria dos alunos, sendo uma história viva, claro, é comum: têm uma família típica, são pouco incentivados ao estudo e gastam tempo de mais agarrados ao telemóvel. 

No entanto, há alunos que são diferentes. Por vezes é porque são pessoas incomuns, por vezes é porque têm vidas incomuns. Tentamos perceber ao certo porque e como é que aquela pessoa se construiu daquela maneira e como chegar à pessoa por detrás do aluno, se se dá o caso de ser alguém que parece estar ali, não estando.

Às vezes basta uma palavra, outras vezes cometemos um erro que provoca uma reação e isso é o suficiente para estabelecer uma relação. Estou aqui a tentar perceber uma aluna. Passámos o 1º período, eu e os outros professores da turma a tentar perceber a completa inacção da rapariga que é uma pessoa muito correcta, sempre com um ar muito sério e fechado. Cada vez que olho para ela tenho a sensação que ela não está ali na aula.

Soube, falando com um colega, que ela nos anos anteriores era uma aluna muito diferente. Activa e empenhada. Estranho. Quer dizer que alguma coisa mudou, ou na vida dela, ou no desenvolvimento interno, quer dizer, os miúdos na adolescência, de vez em quando, têm mudanças estruturais muito bruscas. Às vezes descobrem qualquer coisa acerca de si, outras vezes descobrem qualquer coisa acerca dos outros ou do mundo que os abala.

Aproveitei um momento de uma aula em que fui entregar qualquer coisa à mesa dela e disse-lhe, 'falei com um professor seu do ano passado e ele pintou-me um retrato seu irreconhecível. Disse-me que era uma aluna muito interessada e activa. O que se passou para ter mudado tanto? É algum problema que se possa resolver?' Ela não disse nada e eu pensei que não tinha conseguido quebrar aquela barreira que ela põe entre ela e os outros. 

Para minha surpresa, passadas umas duas ou três aulas, veio falar comigo no fim da aula, disse-me que tinha um problema e falou. Combinámos um plano que acho não a convenceu muito ( a mim também não mas foi para ganhar algum tempo para pensar melhor e, no entretanto, dar-lhe um objectivo) mas acordámos dar três semanas para ver se há mudanças e depois voltar a falar. 

Se não houver mudanças, não sei ainda bem o que fazer mas, o principal, que era conseguir perceber a 'história viva' por detrás da máscara de aluna, para poder intervir, isso já consegui. Agora o meu objectivo é conseguir que ela passe de ano, mesmo que chumbe a uma cadeira porque me parece que há aqui uma janela de oportunidade curta (não falta muito para o fim do ano) e parece-me que se ela não passa e vai parar a uma turma com uma dinâmica negativa perde-se.

Estas coisas da educação de adolescentes levam muito tempo. Tempo para confiarem em nós o suficiente para se abrirem, tempo para conseguirem modificar-se... tempo. É preciso termos muita paciência e saber esperar o momento certo. Há pouco tempo cometi um erro com outra miúda de outra turma e ela retraiu-se outra vez. É muito mais difícil do que parece.

Às vezes basta os miúdos perceberem que percebemos que alguma coisa não está bem.

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