February 25, 2020

Friendship: "What Aristotle was Tolkien about"



"Sem amigos, ninguém quereria viver, mesmo que tivessem todas as outras coisas". ~Aristóteles, Ética a Nicómaco, Livro VII

Na minha juventude, um amigo chegado suicidou-se e questionei-me o que é que eu, como amigo, poderia ter feito, para ajudá-lo. Como disse Henry James, "Nunca digas que sabes tudo o que vai num coração humano". Até essa altura nunca tinha pensado muito acerca do significado de ser amigo. Penso que hoje em dia não se reflecte muito acerca disso. Quando somos novos tomamos os amigos por garantidos, depois deixamos que o trabalho, a distância e a família interfiram nas amizades e só muito mais tarde, quando já não há trabalho e a família se dispersa e o nosso mundo se torna mais pequeno que percebemos a sua falta.

Aristóteles, para quem a filosofia significava pensar acerca de como devemos viver, dava uma grande importância à amizade. Antes dele, já Sócrates dizia que a amizade significava mais para ele que todo o ouro de Dário. Aristóteles dá-lhe tanta importância que dedica-lhe dois livros da Ética a Nicómaco.

Segundo Edith Hall, uma classicista, para Aristóteles o objectivo da vida seria maximizar a felicidade vivendo de modo virtuoso, realizando o seu potencial como humano e relacionando-se com outros -família, amigos e concidadãos- em actividades mutuamente benéficas. Somos animais e por isso sentimos prazer na satisfação das necessidades físicas; mas também somos inclinados a viver em comunidades e, por isso, somos, animais políticos: "O homem é uma criatura política cuja natureza é viver com outros."

Os neurocientistas buscam a localização da nossa consciência mas para mim ela não está dentro de nós, mas no espaço entre eu e tu: o que nos une como pessoas são as nossas interacções com os que nos conhecem e amam. Consequentemente, uma das grandes alegrias da vida é a amizade e para Aristóteles uma vida bem vivida teria de ser construída à volta das amizades. "Dois juntos, são mais capazes de pensar e agir."

Aristóteles distingue três tipos de amizades. A primeira é a da utilidade e baseia-se na troca de benefícios. Não se baseia no afecto, é muitas vezes temporária e deve-se a uma situação partilhada. Quando os benefício acabam, acaba a amizade. É o caso de muitas relações de trabalho. A segunda é baseada no prazer da companhia do outro. Também é temporária, pois acaba se e quando os seus gostos e estilos de vida divergem. É o caso das amizades da escola. A maioria das amizades que as pessoas têm na vida são destas duas categorias. O terceiro tipo de amizade, a que chamo, companheirismo, é a que tem mais valor. É baseado numa apreciação mútua do carácter e bondade do outro, e não no prazer ou em benefícios que são elementos temporários. São as próprias qualidades dos indivíduos o que os aproxima um do outro.



A profundidade e intimidade deste tipo de amizade inclui as recompensas dos outros dois tipos anteriores.
Penso que tem muito valor compreender que tipo de amizade temos com cada um dos amigos.
O último tipo de amizade pode desenvolver-se entre pessoas que, à partida, parecem não ter muito em comum, enquanto existir apreciação das virtudes do outro e respeito mútuos.

Talking Tolkien
Em, O Senhor dos Anéis, o grupo dos 9 que empreendeu a jornada épica para destruir o Anel, era conhecido como, A Irmandade do Anel. Ao longo do livro dividem-se em pequenos grupos de amigos, sendo o mais famoso, o dos dois hobbits, Frodo Baggins e Samwise Gamgee. Parecem não ter muito em comum, mas a amizade deles preenche os requisitos da amizade aristotélica, no terceiro tipo: cresce ao longo das adversidades, eles são dedicados um ao outro e amam as qualidades um do outro, aquilo que o outro é. Como diz Sam,

“It’s like in the great stories, Mr Frodo. The ones that really mattered. Full of darkness and danger, they were… Those were the stories that stayed with you. That meant something, even if you were too small to understand why. But I think… I do understand. I know now. Folk in those stories had lots of chances of turning back, only they didn’t. They kept going. Because they were holding on to something.”



© Andy Owen 2020, in Fellowship For Aristotle & Tolkien
(síntese e tradução, minhas)

2 comments:

  1. Eu acho que a amizade baseada no companheirismo é a única que, para mim, verdadeiramente me interessa. E também acho que este "tipo" de amizade só se pode ter na idade adulta e com poucas pessoas. É por isso que é difícil fazer amizades quando se é adulto! Mas são as que, verdadeiramente, interessam...

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  2. Penso que a amizade podem fazer-se em qualquer idade, Há amizades de infância cujos laços já não se desfazem, quer dizer, mesmo que passe muito tempo fica sempre uma familiaridade que não desaparece. Depois há as relações de trabalho amigáveis, onde existe sentimentos amigáveis, o que é louvável, mas não são propriamente amizade. Depois há as outras, sim, que hoje em dia ainda são mais difíceis dada a mobilidade da vida, mas que de qualquer modo sempre foram raras, sim.

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