PP fala como se as pessoas estivessem limitadas à realidade de dois canais televisivos e não pudessem escolher ler jornais, revistas, sites, ou melhor ainda, ler os documentos e relatórios onde se citam os números todos e não se escolhe um caso único para representar falsamente a totalidade, em suma, onde podem ter uma perspectiva dos factos sem ser cortada à medida dos manipuladores de opinião.
PP fala como se nós, que lemos este artigo, fossemos idiotas e não percebêssemos que não temos de nos limitar pelas suas próprias limitações. Começa por dizer, neste artigo, que vai a uma conferência na Universidade de Lisboa enquanto especialista dos assuntos de política americana... especialista de quê, afinal... de factos políticos de TV dinner?
Aqui [EUA] o zapping desfaz qualquer bússola política. Perante qualquer acontecimento, o que ouço na CNN faz de Trump um vilão, na MSNBC um criminoso à solta e na Fox News um herói. Não me refiro à natural diversidade de linhas editoriais dos canais. É uma questão que chega ao modo como se constrói a factualidade da notícia. O caso paradigmático que vale por todos os que se repetem quotidianamente deu-se durante a crise da separação de crianças candidatas a asilo dos seus pais. Num canal havia a notícia de um pai que se suicidara após ter sido separado do seu filho. Trágica e desumana esta política de Trump. Noutro, uma história de tráfico de crianças em que falsos pais eram membros de gangues que traficavam crianças para os EUA e que tinham ligações a um assassínio recente de um jovem promissor numa cidade de fronteira. Humanitária e anti-crime, esta mesma política.
Eu não tenho apenas que escolher o ângulo sob o qual leio as notícias. Quando escolho um meio de comunicação escolho os factos em que vivo. A factualidade tornou-se uma matéria de fé. Um CNN-americano e um Fox-americano não vivem no mesmo mundo. Ponto final. Não há verdades sobre as quais se criam e discutem opiniões. Há apenas verdades em competição.
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