March 31, 2021

Não sabia que tínhamos cá jornalistas negacionistas do mesmo nível daqueles que negam o holocausto nazi

 


... Mas pelos vistos temos e usam os mesmos argumentos. Este Tadeu escreve um artigo cheio de imbecilidades. Começa logo com esta, A palavra Holodomor serve para acusar o regime de Estaline de ter programado com uma fome a morte de milhões de ucranianos nos anos de 1932 e 1933. 

Não, a palavra Holodomor refere-se à morte por fome dos ucranianos, durante o regime soviético, nos anos de 32-33, assim como a palavra holocausto se refere à morte dos milhões de judeus, sobretudo, em campos de concentração durante o regime nazi. Quando se procuram as causas das mortes é que se refere, respectivamente, Estaline, que provocou a fome aos ucranianos e Hitler que planeou ou mandou planear a exterminação dos judeus europeus.

Depois, é tão raivoso este Tadeu, um fascista só que na outra ponta do espectro, que acusa as próprias vítimas que são os ucranianos de serem os culpados da acusação por serem nacionalistas. Portanto o problema não são os milhões de mortos ucranianos mas terem o descaramento de acusarem o psicopata Estaline de ter causado as mortes.

Seguidamente, usa os argumentos dos fascistas que negam o holocausto para dizer que praticamente não morreu ninguém porque não estão vivos para dizer que foram mortos... e aliás noutros países também se morre e até na URSS também morreram. E que os americanos mataram índios. Uma coisa limpa a outra, é isso? É mesmo imbecil.

Todos que somos honestos e lemos os livros e os relatos sabemos que as origens da fome ucraniana começaram com a decisão de Stalin de colectivizar a agricultura em 1929. 

E mesmo um ignorante como este Tadeu que nunca deve ter lido um livro que não fosse autorizado pelo partido e não sabe pensar pela sua cabecinha, pode ir à Enciclopédia Britânica informar-se. Como sabe, é uma espécie de Bíblia, que nunca publica entradas que não estejam solidamente fundamentadas em números e onde há polémica sobre os assuntos refere-a extensamente:

"Equipas de agitadores do Partido Comunista forçaram os camponeses a entregar as terras, os bens pessoais e deportaram os camponeses mais ricos, kulaks, bem como quaisquer outros camponeses que resistissem à colectivização. A colectivização levou a uma queda na produção, à desorganização da economia rural, e à escassez de alimentos. 

Estes acontecimentos provocaram uma série de rebeliões camponesas, armadas, em partes da Ucrânia.
As rebeliões preocupavam Estaline porque se estavam a desenvolver em províncias que tinham, na década anterior, lutado contra o Exército Vermelho durante a Guerra Civil Russa. Também estava preocupado com a raiva e a resistência à política agrícola estatal no seio do Partido Comunista Ucraniano. 

"Se não fizermos agora um esforço para melhorar a situação na Ucrânia", escreveu ao seu colega Lazar Kaganovich [belo nome] em Agosto de 1932, "podemos perder a Ucrânia". 

Nesse Outono, o Politburo soviético, tomou uma série de decisões que alargaram e aprofundaram a fome nas zonas rurais ucranianas. Fazendas, aldeias e cidades inteiras na Ucrânia foram colocadas em listas negras e impedidas de receber alimentos. Os camponeses foram proibidos de deixar a república ucraniana em busca de alimentos. Apesar da fome crescente, as requisições alimentares foram aumentadas e a ajuda não foi fornecida em quantidade suficiente. A crise atingiu o seu auge no Inverno de 1932-33, quando grupos organizados de polícias e de apparatchiks comunistas saquearam as casas dos camponeses e levaram tudo o que era comestível, desde as colheitas até ao abastecimento alimentar pessoal e aos animais de estimação. A fome e o medo impulsionaram estas acções, mas elas foram reforçadas por mais de uma década de retórica odiosa e conspiratória emanando dos níveis mais altos do Kremlin.

O resultado da campanha de Estaline foi uma catástrofe. Na Primavera de 1933, as taxas de mortalidade na Ucrânia dispararam. Entre 1931 e 1934, pelo menos 5 milhões de pessoas morreram de fome em toda a URSS. Entre elas, de acordo com um estudo realizado por uma equipa de demógrafos ucranianos, havia pelo menos 3,9 milhões de ucranianos. Os arquivos da polícia contêm múltiplas descrições de casos de canibalismo, bem como de anarquia, roubo e linchamento. As valas comuns foram escavadas em todo o campo. A fome também afectou a população urbana, embora muitos tenham conseguido sobreviver graças a cartões de racionamento. Ainda assim, nas maiores cidades da Ucrânia, os cadáveres podiam ser vistos na rua.

A fome foi acompanhada por um ataque mais amplo à identidade ucraniana. Enquanto os camponeses morriam aos milhões, agentes da polícia secreta soviética tinham como alvo o establishment político e a intelligentsia ucraniana. 
A fome deu cobertura a uma campanha de repressão e perseguição que foi levada a cabo contra a cultura ucraniana e os líderes religiosos ucranianos. A política oficial que tinha encorajado a utilização da língua ucraniana, foi travada. 
Além disso, qualquer pessoa ligada à efémera República Popular Ucraniana - um governo independente que tinha sido declarado em Junho de 1917, na sequência da Revolução de Fevereiro, mas que foi desmantelado após os bolcheviques terem conquistado o território ucraniano - foi sujeito a represálias viciosas. 
Todos os visados por esta campanha eram susceptíveis de serem vilipendiados publicamente, presos, enviados para o Gulag ou executados. Sabendo que este programa de russificação iria inevitavelmente chegar até ele, Mykola Skrypnyk, um dos líderes mais conhecidos do Partido Comunista Ucraniano, suicidou-se em vez de se submeter a um dos julgamentos de Stalin.

À medida que a fome avançava, a notícia foi deliberadamente silenciada por burocratas soviéticos. Os funcionários do partido não a podiam mencionar em público. Os jornalistas ocidentais sediados em Moscovo foram instruídos a não escrever sobre o assunto. 
Um dos mais famosos correspondentes de Moscovo na altura, Walter Duranty do The New York Times, esforçou-se por rejeitar as notícias sobre a fome quando foram publicadas por um jovem freelancer, Gareth Jones, pois "achava que o julgamento do Sr. Jones era algo precipitado". 
Jones foi assassinado sob circunstâncias suspeitas em 1935 na Mongólia ocupada pelo Japão. O próprio Stalin chegou ao ponto de reprimir os resultados de um censo realizado em 1937; os administradores desse censo foram presos e assassinados, em parte porque os números revelavam a dizimação da população da Ucrânia.

Embora a fome tenha sido discutida durante a ocupação nazi da Ucrânia na Segunda Guerra Mundial, tornou-se novamente tabu durante os anos do pós-guerra. A sua primeira menção pública na União Soviética foi em 1986, na sequência da catástrofe da central nuclear de Chernobyl. Esta catástrofe também foi inicialmente mantida em segredo pelas autoridades soviéticas.

Porque a fome era tão mortal, e porque foi oficialmente negada pelo Kremlin durante mais de meio século, desempenhou um papel importante na memória pública ucraniana, particularmente desde a independência. O poeta ucraniano Ivan Drach foi o primeiro a falar publicamente sobre a fome, em 1986, após a catástrofe de Chernobyl, citando-a como um exemplo de como o silêncio oficial pode ser prejudicial. Monumentos em comemoração da Holodomor foram erguidos pelo governo ucraniano, bem como pela diáspora ucraniana, e o Dia da Memória Holodomor é observado em todo o mundo no quarto sábado de Novembro. A Ucrânia também investiu na investigação sobre a fome.

No início de 2019, 16 países, bem como o Vaticano, tinham reconhecido o Holodomor como um genocídio, e ambas as casas do Congresso dos Estados Unidos tinham aprovado resoluções declarando que "Joseph Stalin e os que o rodeavam tinham cometido genocídio contra os ucranianos em 1932-1933".

Anne Applebaum para a Enciclopédia Britânica - 
Anne Applebaum is a historian, journalist and a foreign policy columnist for the Washington Post. She is also a Professor of Practice at the London School of Economics.

Já agora, só para pôr os pontos nos is, fique sabendo que o historiador soviético Roy Medvedev, em 1989, estimou em cerca de 20 milhões as pessoas que morreram em consequência dos campos de trabalho, da colectivização forçada, da fome, e das execuções. Outros 20 milhões foram vítimas de encarceramento, exílio, e deslocação forçada, durante a época do seu grande ídolo, Estaline.

Dito isto, este Tadeu é uma daquelas pessoas que se calhasse ser da direita era um negacionista do holocausto, como é da esquerda, é um negacionista dos crimes de Estline. Um imbecil. Nem sequer chega ao patamar de se poder argumentar com uma pessoa destas porque está abaixo do limiar mínimo da crítica séria. O protótipo do mediano, AKA, medíocre.

Louçã, pelos vistos é outro negacionista ignorante, defensor do grande líder Estaline. O que é preocupante é que o primeiro imbecil escreve num jornal nacional e tem grande destaque e o segundo é um conselheiro de Estado. Lastimável.

Para quem tem curiosidade mas não tem os livros, em 2019 saiu um filme chamado, Mr. Jones que relata o trabalho do jornalista Gareth Jones, que esteve nessa época na Ucrânia e em Moscovo e foi testemunha dos acontecimentos e foi quem primeiro deu notícia para o Ocidente do que os soviéticos estavam a fazer aos ucranianos. Foi assassinado pelos soviéticos, embora disso não haja provas concretas. O filme é muito bom e segue os acontecimentos com fidelidade.


Ai as pessoas com comorbilidades a 11 de Abril estão todas vacinadas? É que sou uma dessas pessoas e até agora não soube de nada...

 


... e não sou incontactável... de modo que é mais uma mentira a juntar às outras deste pseudo-plano de vacinação?


Vacinação em lares de idosos e em pessoas com comorbilidades deve terminar a 11 de abril

Aniversário II - querido Bach ❤️

 


“G Minor Bach”. 


Árvores diferentes

 

esta parece a mão da família Adams


esta é uma árvore tartaruga mas parece um cérebro 

o T-Rex

esta é um entanglement saído directamente do Lord of the Rings na terra dos Elfos

bungee tree ao contrário?


esta é a cobra do Mogli

uma baobá que parece saída dum conto infantil


excuse me, I just want to say hello to my friend in your garden


esta pertence aos contos de Grimm


deixa-me só apanhar aqui esta erva


uma oliveira e seu amante

raízes aranhiças cavaleiras


ballet em pontas


Sísifo no seu castigo de empurrar a rocha


cresço onde quero


esta é o rapto de Perséfone


esta chama-se árvore circo - estranha


esta é uma espécie de pinheiro e os espinhos, que são sementes, no tronco, a certa altura explodem e saem disparados como balas em todas as direcções


outra árvore de amantes. Parecem flores de magnólia

esta é o Jimi Hendrix a olhar para a guitarra (outra história de amantes) com as suas calças à boca-de-sino



fonte:
Cam Forfar - When We All Lived In The Forest (the group)

Tubos

 


Estou a ficar com os braços cheios de músculo. No Verão passado andei a fazer fisioterapia por causa da minha capsulite adesiva (mais um presente tardio da radioterapia) e o David, o fisioterapeuta, emprestou-me uns tubos para fazer exercícios em casa e disse-me o que devia fazer. Bem, entretanto, fui deixando de fazer, até porque não tinha tubos de resistência -é assim que se chamam-. Este mês comecei a piorar das dores e a sentir o braço um bocado preso e fui à procura de tubos. Encontrei estes. São 5, cada um com um nível de tensão diferente, para ir mudando de tubo à medida que fortaleço. O mais baixo é o roxo. Ainda não passei desse 🙂 mas tenho esperança de chegar ao preto que é o mais tenso. No entanto, tenho estado a melhorar. Já faço mais exercícios e durante mais tempo. 

Os tubos vinham com um disco com exercícios de demonstração mas pouco variados e alguns muito difíceis para início, de modo que fui à procura na net de um site com exercícios adequados.

Encontrei o site desses dois aí em baixo.Não faço 30 minutos disto, até porque tenho que fazer os exercícios da fisioterapia e a partir dos 25 minutos não há nenhum exercício que consiga ainda fazer.

¡Mas, estou a melhorar a resistência, as dores diminuíram e estou a ficar com músculo nos braços🙂

Alguns exercícios deixam-me a suar mas os que mais custam são os da fisioterapia. Por enquanto. Estou optimista.

Voltei a andar a pé. Ordens da médica. 



Hoje faz anos o Flint 🙂

 


Quem é o Flint? É um lince  🐾 e faz hoje dois anos. Achei que devíamos comemorar. Parabéns! 🎉


Por falar em ideias de quem governa

 


Aqui há uns tempos tive uma discussão com um amigo que foi gestor público -está reformado- porque ele defendia (what else is new...?) que se o pusessem à frente duma escola punha tudo na ordem muito melhor que os que lá estão que são professores. Isto irrita logo um bocadinho, esta ideia de que não é preciso saber de educação ou de ensino ou de como funciona uma escola, só é preciso ter templates de gestão e aplicar ao cenário... Então, a primeira medida dele (esta discussão veio a propósito dos rankings, outra cena cheia de minas e armadilhas) para pôr as escolas no topo dos rankings era ver-se livre dos professores muito maus (boa sorte com isso...) e dos muito bons.

Dos muitos bons? Ah, sim , diz ele, os professores muito bons ou até excelentes não são normalizáveis, são pessoas difíceis, é por isso que se destacam. - E qual é o problema de ter funcionários diferentes no sentido de muito bons? Diz ele: os alunos não precisam de professores excelentes nem muito bons. A escola não é para isso. A escola é para treinar em quantidade não em qualidade e para isso o melhor são os professores dentro da escala da normalidade. Não vale a pena o trabalho que dão os professores muito maus e os muito bons. 

É claro que quando lhe perguntei, 'olha lá, se pudesses ter escolhido os professores dos teus filhos (que andaram na escola pública) tinhas pedido professores medianos ou tinhas escolhido os muito bons? Ah, pois... fazia como a Leitão que enquanto falava nos méritos dos professores ganharem mal para a qualidade da escola pública ser cada vez melhor, punha os filhos no privado, onde as turmas são com 15 alunos e o ensino não se reduz ao português e à matemática.

Conclusão - quem nos governa é assim que pensa: se a escola pública é para certificar alunos em massa (quem quer põe os filhos no privado) que interessa ter professores muito bons? Até são um incómodo. É como achar que uma fábrica de parafusos precisa de excelentes funcionários para produzir parafusos. Tanto faz, o que interessa é que os parafusos keep coming, como dizem os americanos, que não atrasem a produção. Se de vez em quando alguns vêm com falhas deitam-se fora. É um risco calculado e no fim há lucro. 

Portanto, querem professores, não digo medíocres, mas medianos, que aceitem uma não-carreira e um trabalho mal pago em más condições sem grandes queixas e que produzam parafusos continuamente, sem parar. 

Não sei se aplicam isto aos hospitais públicos e esperam que quando lá se entre se peça um médico, de preferência, mediano... é que os médicos já foram alunos das escolas. Acho que já aqui disse uma vez que a minha médica pneumo-oncologista, um dia disse-me que os alunos dela na faculdade de medicina, chegam lá cheios de reivindicações e a acharem que sabem tudo, não sabendo nada. É a vantagem de terem tido professores medianos nas escolas... mas bate certo, também temos uma esmagadora maioria de ministros e políticos medianos, medíocres, mesmo. É a democracia dos medianos.


Este mês fui à medicina do trabalho

 


Desta vez não foi como a junta da ADSE com aqueles incompetentes vulgares, sem respeito pelos outros. Desta vez apanhei uma médica que tirou mesmo o curso de medicina, que lê mesmo os relatórios médicos e os exames e faz perguntas pormenorizadas antes de tomar decisões que afectam a nossa vida. 

Disse-me que as juntas médicas estavam a enviar imensa gente das escolas para consultas de Medicina do Trabalho mas que não é suposto fazerem-no. Explicou-me que a lei (que vem desde o tempo da 1ª república) obriga a que todos os serviços tenham uma valência de medicina do trabalho, mas acontece que muitos não a têm. Por exemplo, imensos hospitais, não pequenos, mas importantes como o Santa Maria, até há muito pouco tempo não tinham Medicina do Trabalho. Isto até dá vontade de rir, porque é como o quartel dos bombeiros não ter água 🙂 mas enfim, até se percebe. Calculo que os médicos, quando acham que precisam de cuidados ou exames médicos pedem a um colega que o faça, da mesma maneira que nas escolas, os colegas nos vêm pedir se ajudamos os filhos com o estudo ou os alunos ou se temos livros escolares para emprestar aos filhos, etc.

Seja como for, o que devia estar estabelecido, disse-me ela, era que cada agrupamento de escolas ou escola fizesse um acordo com uma clínica qualquer que tenha esta valência de medicina do trabalho, como esta onde fui que é uma clínica de cirurgia de que nunca tinha ouvido falar e que enviasse os seus funcionários, periodicamente, para fazer testes, análises ou o que fosse preciso, como acontece com as empresas. Calculo que isto tenha que ver com os governos não quererem gastar dinheiro com os professores e outros funcionários da escola e confiarem que cada um que se arranje, que vá ao médico regularmente e não chateie. 

É isto: para os governos, nós, nas escolas, somos custos, não temos valor como pessoas. São mais ou menos como os da junta da ADSE. Só fazem triagem e, à papo-seco. Têm umas quotas e se calha a gastarem as quotas com constipações quando entram os casos graves olham para o lado como se não fosse nada com eles. 


Estive a ler o documento que chegou às escolas vindo do Ministério Público

 


... e que se refere aos princípios e finalidades que guiam a intervenção dos vários orgãos competentes, em crianças e adolescentes em risco, por um lado e delinquentes, por outro (embora não lhes chamem isto), bem como aos procedimentos a adoptar e seguir na comunicação às entidades competentes. Está bem feito o documento. Achei piada que frisam com veemência a importância da celeridade da comunicação com o maior número de informação possível acerca do caso. Vê-se bem que não conhecem o funcionamento das escolas e a veemência com que 10 organismos diferentes pressionam para a urgência de burocracias que consomem tempo infinito.

Isto da comunicação à CPCJ ao ao MP não é coisa fácil. É preciso falar com encarregados de educação, o que é logo a 1ª dificuldade; é preciso falar com o aluno em questão, o que por vezes é a 2ª dificuldade. Depois é preciso escrever relatórios pormenorizados do que aconteceu e se é um caso disciplinar ou de abandono temos que incluir todas as medidas que tomámos ao longo do ano, o que significa que temos de guardar registo de tudo. Depois passa pela equipa multidisciplinar da escola: mais papéis. Se são casos de delinquência, como agressão, bullying e ciberbullying, destruição de propriedade, etc. há que recolher testemunhos, fazer outros relatórios, falar com pais... isto tudo no meio do trabalho normal de aulas, reuniões, DTs, cada uma com a sua produção de papéis. Pode levar dois períodos inteiros a fazer-se.

Para mim, o que fazia sentido era o MP ter, em cada conselho, por exemplo, um ou dois funcionários, não sei se isto cabe aos procuradores... atribuído às escolas desse conselho a quem se pudesse recorrer. As escolas fazem trabalho próprio de procurador que não lhes cabe e penso que prejudica mais do que beneficia.

Se há uma agressão ou um roubo numa turma, os alunos são enviados para uma equipa na escola que trata do assunto. Acontece essa equipa querer agir como se fosse um juiz ou um detective de polícia. Chama os alunos envolvidos, nomeadamente os suspeitos, pergunta-lhes se foram eles. Eles dizem que não. Os pais aparecem a queixar-se dos filhos serem interrogados e a culpar outros. Os miúdos mentem e geralmente fica tudo enredado porque a escola é um lugar pedagógico e os professores não têm treino de procuradores para saberem conduzir entrevistas produtivas deste teor. Alguns conhecem os alunos porque já foram seus professores, ou são ainda e depois confundem-se os papéis sem nenhum mérito porque regra geral não se consegue saber quem fez o quê. O resultado é o aluno em questão sentir-se impune.

Aqui há uns anos na minha escola houve um caso chocante de um aluno contra uma professora que só teve resultados porque a professora em questão fez queixa no MP. Não fora isso e o aluno, que fez coisas muito graves, ainda se ficava a rir dela.

Uma coisa são pequenas infracções ao regulamento da escola e ao estatuto do aluno, geralmente dentro das aulas, que os professores podem e devem resolver logo, pedagogicamente; outra diferente, são actos criminalizáveis como roubos, agressões, bullying. Esses deviam ir directamente a alguém que tenha esta especialidade de lidar com esses crimes, que não somos nós. E para isso devia haver alguém no MP que fizesse a ligação às escolas e tratasse desses assuntos, quer dizer, a quem pudessmos recorrer directamente. Era mais célere e eficaz, coisa que agora não é, nem tem grande possibilidade de vir a ser, dadas as condições e a natureza da escola.




Dúvidas sérias

 


Alguém sabe dizer se existe algum portal onde possamos acompanhar como está a ser gasto o dinheiro que veio ou vem de Bruxelas, especificamente este pacote de apoio à conta da pandemia do Covid-19? Um site onde vá aparecendo a quantia gasta, quem a adjudicou, a quem foi feito o pagamento, se foi com concurso ou se foi ajuste directo, qual a finalidade onde foi empatado o dinheiro, qual o retorno, etc?

Isso existe? Se existe, é onde? 


Por aí pelo planeta

 


Afloramentos de pedra giz com 65 milhões de anos, marcam a ponta da Costa Jurássica.

O que gosto nesta imagem da costa inglesa? Parece que um dinossauro andou às trincas na pedra e a deixou como as crianças às vezes deixam os queijos 🙂


photography by @uwo


The Wonders Of The Natural World

Com amigos como o presidente da ANDAEP quem precisa de inimigos?




Diminuir o número de alunos por turma é a medida mais fácil? Fácil? É por isso que andamos há dezenas de anos a lutar por ela em vão? Por ser fácil? 

"Há turmas com muitos alunos que podem funcionar muito bem" - Pois há: se juntarmos 30 alunos excelentes trabalhadores, autónomos, motivados, com antecedentes excelentes, a turma provavelmente funcionará bem (tirando a questão do distanciamento em tempos de pandemia que nunca funciona a não ser que a sala seja gigante, tipo auditório), mas quais são as probabilidades disso acontecer? Uma em cada dez mil? 
E, mesmo que isso acontecesse, a turma não beneficiava do professor ter mais tempo para cada aluno: para as suas questões, modos de trabalhar, desenvolver interesses, para a possibilidade de ser criativo nas metodologias, de os alunos poderem participar na aula em vez das aulas serem todas unidirecionais?

A questão devia ser posta em termos inversos: uma turma não poder ter mais que x alunos, a não ser com uma justificação razoável que o fundamentasse. 

O princípio de prudência manda que se acautele o interesse do aluno. Ora, uma turma mais pequena nunca prejudica o aluno, ao passo que turmas grandes prejudicam na maioria esmagadora dos casos e, de maneiras telescópicas. Aqueles alunos tímidos e que passam despercebidos no meio duma turma enorme e que têm dificuldades vão acumulando, de ano para ano, défices de aprendizagem cada vez mais vastos.

Para além disso, o senho Filinto, sabe muito bem que se for deixado ao critério das escolas, as escolas enfiam o máximo de alunos para agradar à tutela que vê tudo isto não como um investimento no país mas como um mero custo.

O que se infere é que este senhor é moço de recados do dois ministros da educação e está a despejar a cassete que lhe encomendaram.

Outra coisa que não faz sentido é ter coadjuvantes e contratar professores para apoios, se se pode diminuir o número de alunos (e de turmas) dos professores. Pois se cada professor tiver um número razoável de turmas e de alunos por turma, os alunos, por regra, não precisarão de outros professores, enquanto que nas turmas enormes cheias de alunos com problemas (são a maioria) acabam por precisar de apoio quase todos porque nenhum professor consegue multiplicar-se: se a turma tem 30 alunos e a aula é de 90 minutos, o professor tem 3 minutos para cada um, por aula. Reduzir o número de alunos permite a intervenção do professor e é até uma maneira de responsabilizar os professores. 

Compreendo estes apoios especiais no próximo, por conta dos problemas de aprendizagem e outros causados pela pandemia mas isso parece-me uma medida temporária. Permanente tem que ser a redução do número de alunos por turma.

"alocar mais recursos humanos às escolas, leia-se mais professores - para apoios mais personalizados, para coadjuvações em contexto de sala de aula".

Pedalar contra a ventania

 




Franz Sedlacek (Austria, 1891-1945) 


March 30, 2021

Beba poesia sem moderação - Happiness



Beba poesia sem moderação - Possibilidades

 


Aniversário de van Gogh

 


Três mulheres importantes na vida de van Gogh:


Jo Bonger

O sucesso global de Vincent é em grande parte graças à sua cunhada Jo. Estava casada com Theo van Gogh há menos de dois anos quando ele faleceu, pouco depois da morte do seu irmão Vincent. Jo ficou com um jovem filho e um apartamento cheio de obras de arte de Vincent. Com 28 anos de idade, teve de repente de se sustentar a si própria e ao seu filho.

Theo sempre quis tornar conhecido o trabalho do seu irmão. Jo estava desejosa de realizar este desejo, em memória do seu marido. Muito estrategicamente, vendeu as obras de Vincent a museus e coleccionadores, e desse modo assegurou que fossem vistas por pessoas de todo o mundo.

Depois, em 1914, publicou uma antologia das cartas de Vincent a Theo. Todos podiam agora ler sobre as ideias, pensamentos e sonhos de Van Gogh. Como resultado, ainda mais pessoas começaram a apreciar o seu trabalho.

Quando Jo morreu em 1925, a obra de Vincent já
se tinha tornado mundialmente famosa.

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Agostina Segatori

Quando estava em Paris, Vincent encontrou um lugar para exibir o seu trabalho: o café Le Tambourin. Era cliente habitual do café e teve uma breve relação com a proprietária, Agostina Segatori. A antiga modelo de arte utilizou as suas poupanças para abrir o café que se tornou popular entre artistas, escritores e críticos e as paredes foram decoradas com obras dos artistas que frequentavam o Le Tambourin.

De acordo com o seu amigo Paul Gauguin, Vincent estava muito apaixonado por Agostina. No retrato que Vincent pintou dela, ela está à mesa sentada num banquinho. Há um copo de cerveja em cima da mesa, e Agostina segura um cigarro aceso. Os pires debaixo do seu copo traem o facto de ela estar na sua segunda cerveja. Beber e fumar não era considerado apropriado para senhoras respeitáveis na altura, era algo associado a tipos artísticos e a prostitutas.


Agostina era uma mulher moderna e progressista para o seu tempo. Era independente, pois ganhava o seu próprio dinheiro com o café, e oferecia aos artistas mais significativos da época um lugar para exibirem o seu trabalho. No fundo da pintura, podemos ver as gravuras japonesas que Vincent tinha posto em exposição no café.

Agostina e Vincent infelizmente acabaram a relação e Vincent quis todos os seus quadros de volta, só que  Le Tambourin foi à falência e foi vendido, com os quadros de Vincent que ainda lá estavam.

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A mãe de van Gogh

Vincent teve as suas primeiras lições de desenho em casa de sua mãe. Ela também encorajou os seus filhos a cantar, a fazer trabalhos artesanais e a ler muito.

Os pais de Van Gogh não tiveram um trabalho fácil. Vincent abandonav trabalhos e estudos e também se apaixonou pelas mulheres erradas: a filha da sua senhoria, a sua própria sobrinha e uma antiga prostituta. Mas os pais de Van Gogh apoiaram-no sempre. Ajudaram-no a encontrar trabalho e ofereceram-lhe sempre um tecto quando ele precisou.

Vincent podia ser um pouco difícil, mas nunca teve más intenções. Em 1884, quando a sua mãe estava em casa depois de partir uma perna, Vicent pintou a igreja da aldeia deles para a animar. ,Van Gogh pintou as folhas de Outono nas árvores de Inverno nuas. E acrescentou também grupos de fiéis, alguns deles com roupas de luto, quando o pai o ministro da igreja, morreu.

Depois de Vincent se ter mudado para França, trocou cartas com a sua mãe. Isto manteve-o actualizado sobre a forma como ela estava. Em 1889, Vincent enviou-lhe algumas obras de arte por correio. Infelizmente, Vincent e a sua mãe nunca mais se voltaram a ver. Vincent morreu antes de ele ou a sua mãe terem tido a oportunidade de se visitarem.

Fonte: vangoghmuseum

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(excerto de uma carta a seu irmão)


My dear Theo,

(...)

Na Primavera, um pássaro numa gaiola percebe muito bem que há algo em que seria bom; sente muito claramente que há algo a ser feito, mas não o consegue fazer; o que é, ele não consegue lembrar claramente, tem uma vaga ideia e diz a si próprio, "os outros estão a construir os seus ninhos e a fazer os seus pequenos e a criar a ninhada" e bate com a cabeça contra as barras da sua gaiola. E depois a gaiola fica ali e o pássaro fica louco de sofrimento. E no entanto o prisioneiro vive e não morre; nada do que se passa no interior se mostra no exterior: está de boa saúde, está bastante alegre à luz do sol. Mas depois vem a época da migração. Um ataque de melancolia - mas, dizem as crianças que cuidam dele, ele tem tudo o que precisa na sua jaula, afinal - mas ele olha para o céu lá fora, pesado de nuvens de tempestade e no seu interior sente uma rebelião contra o destino. Estou numa gaiola, estou numa gaiola e por isso não me falta nada, seus tolos! Eu, eu tenho tudo o que preciso! Ah, por piedade, dêem-me liberdade, para ser um pássaro como os outros pássaros! 
Um homem ocioso assemelha-se a um pássaro ocioso como aquele.
E muitas vezes é impossível para os homens fazer qualquer coisa, prisioneiros em não sei que tipo de gaiola horrível, horrível, muito horrível. Há também, eu sei, libertação tardia. Uma reputação arruinada com razão ou sem ela, pobreza, inevitabilidade das circunstâncias, infortúnio; isso cria prisioneiros.
Nem sempre é possível dizer o que é que confina, que imura, que parece enterrar e no entanto sente-se, não sei que barras, não sei que portões - muros.
Será tudo isso imaginário, uma fantasia? Penso que não; e depois pergunta-se a si mesmo, Querido Deus, será isto por muito tempo, será isto para sempre, será isto para a eternidade?
Sabes, o que faz desaparecer a prisão é cada apego profundo e sério. Ser amigos, ser irmãos, amar; isso abre a prisão através do poder soberano, através de um feitiço muito poderoso. Mas aquele que não tem isso permanece na morte. Mas onde o amor surge de novo, a vida surge de novo.
E a prisão é por vezes chamada de preconceito, mal-entendido, ignorância fatal sobre isto ou aquilo, desconfiança, falsa vergonha.
Mas para falar de outra coisa, se eu desci no mundo, tu, por outro lado, subiste. E embora eu tenha perdido amizades, tu ganhaste-as. Isso deixa-me feliz, digo-o com verdade, isso far-me-á sempre feliz. Se não fosses tão sério e profundo, poderia temer que não durasse, mas como penso que és muito sério e muito profundo, estou inclinado a acreditar que durará.  
Mas se se tornasse possível para ti ver em mim algo que não fosse um ocioso do tipo mau, eu ficaria muito satisfeito com isso.
E se alguma vez puder fazer algo por ti, ser-te útil de alguma forma, sabes que estou ao seu serviço. Uma vez que aceitei o que me deste, poderias igualmente pedir-me algo se eu pudesse ser útil de uma forma ou de outra; isso far-me-ia feliz e eu considerá-lo-ia um sinal de confiança. Estamos bastante distantes uns dos outros, e em certos aspectos podemos ter formas diferentes de ver, mas mesmo assim, um de nós poderá, um dia ou outro, ser útil ao outro. Por hoje, aperto-te a mão, agradecendo novamente a gentileza que me demonstraste.
Agora, se quiseres escrever-me um destes dias, o meu endereço é C. Decrucq, rue du Pavillon 8, Cuesmes, perto de Mons, e fica sabendo que, ao escreveres-me, me farás bem.

Yours truly,
Vincent

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van Gogh punha amor em tudo o que pintava e daí as suas obras serem tão comoventes. 

Três livros. Dois deles quase se confundem com o fundo de cor terrena, de chão. Estão muito lidos, gastos, as pontas reviradas. São livros de uso, coisas técnicas, talvez. Ah, mas o outro? O da capa cuidada? Esse é um romance de amor - vermelho vivo como o coração.



O infinito

 


Júpiter e Saturno.




NASA
Mustafa Sultani

Quotes I like

 


“[...] não tenho coragem de dizer muitas coisas de que estou persuadido, mas não direi coisa alguma de que não esteja convencido”.

Immanuel Kant

Visionários

 

- O que vês?

- O que vês.

- O que vejo?

- Sim.

- E quando não vês o que vejo?

- Vejo o que vêem e o que vêem do que vejo.

- E quando não vês?

- Estou sempre a ver o que estou a ver.

- E o resto?

- O resto não vejo. Às vezes vejo mas não vejo que vejo.

- Logo, não vês.

- Mais tarde vejo que vi.

- Como sabes que o que vês é aquilo que vês?

- Não sei. Estou sempre de óculos. 

- Os óculos não são bons?

- Os óculos são o que são. Lentes. Aumentam, coloram, distorcem...

- Estamos todos de óculos? 

- Sim, mas alguns não se apercebem. Estão colados à cara.

- Então ninguém vê.

- Não, todos vêem. O difícil é ver o que se vê.

- Como se chamam esses que vêem o que vêem?

- Visionários.


jon foster

Infográfico de hoje - Are you dealing with a toxic boss?

 




byu/elviejozuloqi

Masters of disguise

 


Can you see it?






Nicolet Meesen-Visscher

Exercícios para fazer a seguir ao almoço

 




Mesmo planeta, outro mundo



Como acabar com os tiroteios nas escolas e universidades? Proibir os instrumentos que matam? Não, aumentar e incentivar o seu uso. Que lógica é esta que me escapa?E, quem é que quer ser professor numa escola ou universidade onde os alunos -e os seus pais- vão armados para as aulas? Loucuras de gente, não louca, mas vendida aos fabricantes de armas.


Montana Universities Prepare for Guns on Campuses

By Nell Gluckman


Last week, the state’s House of Representatives passed a budget that includes $1 million to help the university system implement the law. The money is meant to help fund firearms training, metal detectors, gun safes in dorms, and awareness campaigns. But the university system won’t get the funding if they challenge the law in court.

Enquanto a maior parte do país ainda está a recuperar dos tiros em Boulder e Atlanta, este mês, as universidades de Montana estão a preparar-se para permitir armas nos seus campus.

Em Fevereiro, o recém-eleito governador republicano de Montana, Greg Gianforte, assinou um projecto de lei que permitirá o porte de armas abertamente e de modo oculto nos campus universitários do Estado. A nova lei permite oficialmente armas em espaços públicos e despoja o Sistema Universitário de Montana e o seu Conselho de Regentes da sua capacidade de regular a posse de armas de fogo.

Na semana passada, a Câmara dos Representantes do Estado aprovou um orçamento que inclui $1 milhão de dólares para ajudar o sistema universitário a implementar a lei. O dinheiro destina-se a ajudar a financiar p treino em armas de fogo, detectores de metais, cofres de armas de fogo em dormitórios e campanhas de sensibilização. No entanto, se o sistema universitário desafiar a lei em tribunal, não terá acesso ao
 financiamento .

Leituras pela manhã - a instrumentalização da arte para fins políticos é própria de Estados totalitários

 


Cuidado com os Livros!

Um novo moralismo está a dominar o mundo literário, tratando os adultos como crianças

Otis Houston 

A literatura costumava ser um lugar de ideias transgressoras, um lugar para questionar tabus e para procurar percepções despidas de preconceitos sobre a humanidade. Já não é.

Críticos, escritores e editoras estão hoje a impor uma nova visão que trata os livros menos como um veículo de expressão artística do que como um produto a ser inspeccionado em termos de segurança e salubridade. Nos últimos anos isto ganhou ímpeto, com muito do que se escreve sobre literatura, antiga e nova, a tornar-se uma série de pronunciamentos morais.

O novo moralismo literário apareceu cedo na ficção 'jovem adulto'. Em 2017, a revista, Kirkus Reviews revogou uma prestigiada crítica do romance American Heart após denúncias online. O crítico castigado publicou a crítica, mas revista, considerando agora "problemático" que o autor tivesse escrito sobre uma rapariga muçulmana do ponto de vista de uma protagonista branca. Desde então, outros autores de literatura de Jovem Adulto, retiraram livros da publicação pelo pecado auto-confessado de escrever sobre personagens marginalizadas sem pertencerem a esses grupos de identidade.

Talvez seja compreensível que as pessoas das editoras sentissem um dever de prudência: os adolescentes são vulneráveis e ainda não formados. O problema é que no mundo do livro - muitas vezes com um desejo sincero de abordar a desigualdade - se expandiu tanto a noção do que é "ofensivo" que a literatura passou a ser moralmente patrulhada, não apenas a dos jovens mas a dos adultos também.  

Tomemos a reacção do ano passado ao romance mais vendido de Jeanine Cummins, American Dirt, sobre uma mulher mexicana e o seu filho que escapam a um cartel e se encontram entre os migrantes e refugiados que tentam chegar aos Estados Unidos. As principais publicações foram muito elogiosas, muitas sugerindo que o valor do romance residia no seu potencial para humanizar os imigrantes. A escritora Sandra Cisneros disse, num tom geral, "Este livro não é simplesmente o grande romance americano; é o grande romance de las Americas. É o grande romance mundial"! A atenção ainda aumentou mais quando Oprah Winfrey anunciou que o iria apresentar no seu clube de leitura.

Mas um post da escritora e activista Myriam Gurba surgiu no seu blog: "Pendeja, You Ain't Steinbeck: My Bronca with Fake-Ass Social Justice Literature"(mais ou menos isto: idiota, não és nenhuma Steinbeck: minha bronca com literatura de justiça social de merda) 
Gurba relatou que a simples leitura da carta de uma editora para a American Dirt a tinha enfurecido tanto que o seu "sangue até fervilhou". Ela continuou a argumentar que Cummins, uma mulher americana branca com um fundo porto-riquenho, não tinha nada que escrever sobre um grupo cultural e identitário ao qual não pertencia.

O consenso crítico inverteu-se rapidamente.

Já a romancista Lauren Groff -no New York Times Book Review em Janeiro de 2020- parecia incomodada. "Tinha a certeza que era a pessoa errada para rever este livro", escreveu Groff, observando que nem ela nem a autora eram imigrantes mexicanos. "Nos círculos literários contemporâneos, existe uma sensibilidade séria e legítima para as pessoas que escrevem sobre heranças que não são suas porque, no seu pior, esta prática perpetua os males da colonização, roubando as histórias de pessoas oprimidas em proveito dos dominantes".

Cerca de 142 escritores assinaram uma carta aberta implorando a Winfrey que rescindisse a sua selecção do clube de livros, alegando, 'o prejuízo que este livro vai fazer". Aparentemente, o livro já não era um remédio urgente para a xenofobia americana. Pelo contrário, Cummins era uma apropriadora cultural e o seu livro uma colecção de estereótipos nocivos.


O romancista premiado com o Pulitzer, Viet Thanh Nguyen, que é presidente da Universidade do Sul da Califórnia, pressionou os seus colegas autores a reorientarem os seus escritos para uma advocacia progressiva. O único objectivo respeitável da literatura contemporânea, sugeriu ele num ensaio do New York Times, em Dezembro passado, é trazer a mudança através "do tipo de trabalho crítico e político que perturba a brancura e revela os legados do colonialismo". Poesia e ficção que não conseguem fazer avançar a política (especificamente, a sua política) derivam de um legado de brancura, conquista e genocídio, disse ele e são pouco mais do que idiotices sobre as flores e a lua.

Esta mentalidade não se limita a escritores e críticos. Cada vez mais, agentes literários e editores estão a avaliar nervosamente os tipos de autores e histórias com que se sentem confortáveis, e as editoras procuram proteger-se empregando "leitores sensíveis", que vasculham ficção não publicada em busca de temas, caracterizações ou linguagem ofensivos. Esta moral, mais do que artística, significa que alguns livros nunca chegam sequer perto o suficiente para serem publicados, quanto mais cancelados.

O escritor Bruce Wagner - autor de sucesso de numerosos romances e guiões, tais como Maps to the Stars - diz que o seu editor da Counterpoint Press se opôs ao seu último romance devido a "linguagem problemática" em relação a um protagonista que pesa mais de 500 libras e se refere a si própria como "gorda". Wagner preferiu publicar o seu livro, O Universo Maravilhoso: Histórias de Origem, online, gratuitamente. 

Em Março de 2020, o pessoal da editora Hachette em Nova Iorque, incluindo funcionários da Little Brown e da Grand Central Publishing, abandonou a publicação prevista das memórias de Woody Allen, Apropos of Nothing, porque o realizador de cinema foi acusado de molestar sexualmente uma filha, pela qual foi investigado e ilibado, duas vezes. Hachette cedeu às exigências dos empregados e cancelou o lançamento, que Allen publicou mais tarde noutro local.

Em Novembro, a divisão canadiana da Penguin Random House realizou uma reunião em plenário para defender a sua decisão de publicar o psicólogo e autor conservador de auto-ajuda Jordan Peterson. Apesar de vários funcionários se terem desmoronado em lágrimas, o livro seguiu em frente.

Mais recentemente, a editora dos livros do Dr. Seuss anunciou que deixaria de imprimir seis das obras do falecido autor por causa de ilustrações racialmente estereotipadas. O crítico de livros do Washington Post, Ron Charles, aprovou, acrescentando: "Teremos de nos livrar também de outras coisas". Dias depois, o eBay anunciou que já não permitiria a venda desses livros na sua plataforma, e a Biblioteca Pública de Chicago disse que iria suspender o empréstimo dos livros.

Os casos acima referidos são distintos. Pode concordar com a forma como o mundo do livro reagiu nalguns casos, e discordar noutros. Mas o que estes casos transmitem é o quanto a indústria literária está a lutar com um pavor de "prejuízo", relacionado tanto com o conteúdo como com os próprios autores. Fala do sentido difundido de pensar em si próprio como levando a cabo uma missão moral, cujos padrões são os do activismo progressivo.

Não há nada de novo na denúncia de ideias e autores em nome da moralidade. É um poder que tem sido sempre utilizado por aqueles que procuram afirmar o domínio cultural.

Dois mil anos antes do advento da publicação impressa em massa, Sócrates foi condenado a beber veneno por ter corrompido as mentes dos jovens de Atenas. Desde meados do século XVI até 1966, a Igreja Católica manteve o seu Index Librorum Prohibitorum, uma lista de livros proibidos. Durante o século passado, utilizou-se leis anti-obscenidade para proibir Ulisses e Lady Chatterley's Lover. Norman Mailer não podia retratar os soldados dizendo palavrões no seu romance da Segunda Guerra Mundial The Naked and the Dead porque seria "obsceno". Native Son e One Flew over the Cuckoo's Nest foram eliminados dos currículos escolares pela sua subversividade política e obscenidade percebidas. Todos os estados totalitários suprimiram a escrita transgressiva, por vezes tentando fazê-lo através das fronteiras, como quando o Ayatollah Khomeini do Irão emitiu a sua fatwa contra Salman Rushdie's The Satanic Verses em 1989.

Quando cresci, nos anos 80 e 90, os conservadores sociais da Maioria Moral patrulharam a virtude do público leitor americano. Foram especialmente exercitados pelo sujeito de bruxaria e feitiçaria e encontraram um némesis em Harry Potter. Alguns organizaram queimadas públicas dos livros de J.K. Rowling. Tal censura de direita não desapareceu: os ataques conservadores à literatura ainda são comuns no que respeita a livros para jovens que apresentam personagens e temas LGBTQ de uma forma positiva.

O que é novo, porém, é a tendência de policiamento dos livros para a bondade social a partir da comunidade literária de esquerda - as próprias pessoas em quem se confiava para dirigir a cultura artística e intelectual.

Aqueles que actualmente queimam os livros de Rowling não são a direita religiosa, mas sim membros da esquerda progressista, enraivecidos pelos seus comentários sobre questões de género e trans. Numerosos artigos têm perguntado se ainda é permitido, em boa consciência, apreciar não só Harry Potter, mas também o último thriller policial de Rowling, Troubled Blood. Os revisores têm vasculhado o texto em busca de sinais da sua alegada transfobia, muitos notando que uma personagem, como salientou um revisor do Los Angeles Times, é "um assassino em série masculino conhecido por ter usado um vestido".

"Será isso suficiente para dizer que o autor é transfóbico?" perguntou o revisor, citando vários elementos do romance. "Talvez". Uma pergunta melhor é esta: Será o papel de um crítico de livros analisar os textos para obter informações sobre a moralidade de um autor? Falta pouco para se começar a procurar mensagens satânicas no rock 'n' roll. E mesmo que as canções heavy-metal estivessem a torcer pelo diabo, será que as pessoas deveriam ter sido impedidas de as ouvir?

Este novo moralismo literário não está apenas a examinar a escrita contemporânea em busca de provas de pecado; está também a olhar para o passado. #DisruptTexts, um grupo dedicado a ajudar os professores a "desafiar o cânone tradicional", fala de "representações problemáticas" em Shakespeare e queixa-se de, 'O Grande Gatsby' ser definido pelo olhar masculino branco. Se aplicada na íntegra, essa objecção eliminaria inúmeras obras de literatura - incluindo muitas contendo mensagens morais que os progressistas endossariam.

O cânone dos clássicos sofre de uma falta de diversidade? Absolutamente. Mas os cânones expandem-se com cada geração. Não deixamos simplesmente que obras antigas caiam por terra. E um cânone inclui livros não porque sejam virtuosos, mas porque estão em diálogo complexo uns com os outros, ou porque são poderosos nos seus próprios termos. Os escritores que quebraram a barreira canónica da cor - de W.E.B. Du Bois a Toni Morrison - não o fizeram rasgando o que veio antes, mas afirmando que também eles tinham um lugar nessa longa conversa.


Mesmo os tradicionalistas literários como Harold Bloom tinham frequentemente pontos de vista mais expansivos do que activistas como os de #DisruptTexts. Como escreveu o vencedor do Prémio Nacional do Livro, Andrew Solomon, após a morte de Bloom, o crítico "admirava a obra de Toni Morrison, Chinua Achebe e outros escritores de cor; e dizer que alguém que loava Hart Crane, Walt Whitman, Elizabeth Bishop e Tony Kushner estava a ignorar as vozes LGBT parece na melhor das hipóteses perigosamente ingénuo".

Um ponto que quase todas estas controvérsias, cancelamentos e análises críticas partilham é que eles estão ostensivamente à procura de justiça, particularmente em relação à raça. O fanatismo e os males sociais conexos merecem uma atenção séria. Mas tratar a literatura de acordo com objectivos políticos - e fazê-lo com receio da justiça sumária de uma multidão online - desvaloriza a arte de modo significativo. Faz com que os escritores tenham medo de explorar perspectivas fora das definições simplistas da sua própria identidade, ou de habitar personagens ou temas moralmente complexos. E diminui também as perspectivas do leitor, restringindo o âmbito dos livros a concepções restritas de poder e privilégio.

Se esperamos que a literatura resolva problemas sociais, imaginamo-la erroneamente como uma chave inglesa que pode torcer o mundo para uma posição mais agradável. Isto é interpretar mal a arte, que desafia e expande o nosso sentido do mundo, em vez de o simplificar. A arte obriga-nos a ver com complexidade. Em troca, temos de aceitar que nenhuma solução fácil nos espera. A escrita profusa nunca é apenas uma resposta.

Nada disto quer dizer que as desigualdades do nosso tempo não possam devam ser abordadas por outros meios - através da economia e das eleições, através do debate e do compromisso. Mas temos de nos perguntar a nós próprios: se este frenesim de censura moralizante for uma expansão aparentemente interminável da definição de dano, como iremos corrigir as disparidades actuais e os injustiças históricas? É assim que pretendemos falar de arte a partir de agora? Se for, preparamo-nos para falar apenas de política e quase nada de arte.



Pode ler as críticas de 
Otis Houston na Los Angeles Review of Books.

Inglaterra - violência sexual nas escolas

 


Isto é em Inglaterra. Aqui no rectângulo não fazemos a mínima ideia porque estes problemas nem sequer são abordados. São um não-assunto. Muitos pais vêem a adolescência dos filhos como um problema e só querem que passe rapidamente com poucos sobressaltos. Por isso, deixam para a escola a resolução de muitos problemas. A tutela tem a mesma visão: os professores que resolvam tudo e de preferência em silêncio para não incomodarem o resto da sociedade.


Ministers dropped the ball on sexual violence in schools, says Labour

A violência sexual é endémica nas escolas e o governo tem de lançar um inquérito para estabelecer a sua amplitude, afirmou o ministro-sombra da violência doméstica.
(...)
A grande escala do assédio nas escolas tem sido destacada por um sítio na web no qual os alunos partilham relatos de violação, assédio e agressão. O número de denúncias ultrapassou as 8.000 e a polícia disse que as revelações de cultura de violação nas escolas poderiam levar ao maior aumento de denúncias de abuso sexual desde o escândalo Jimmy Savile.

Phillips disse que se o problema fosse tão generalizado como o website indicava, então havia "rapazes nas escolas que precisavam que os seus pais interviessem, incluindo levar os seus filhos para a esquadra da polícia".

Robert Halfon, o presidente do comité de selecção da educação, disse que havia uma "cultura do Senhor das Moscas" em algumas escolas e que o aconselhamento deveria ser dado às vítimas de violência sexual.

"É bastante deprimente apenas ler através do website "Todos Convidados", o seu coração vai para todas as pessoas que sofreram o abuso, o assédio sexual, as ameaças, o abuso online", disse ele à BBC Breakfast.

(...)
"Um terço dos jovens de 16 a 18 anos de idade declarou que tinha sofrido um toque indesejado, por isso, agressões sexuais na escola, e dois terços dos jovens de 13 a 21 anos disseram que tinham sofrido assédio na escola. Isto foi há quatro anos e o governo não fez absolutamente nada para mudar isso".


Filmes - O desapego é humanamente impossivel



No filme, vemos a realidade de uma escola comum pelos olhos dum professor substituto (representado por Adrien Brody). Contratado por um mês, pensava poder viver desapegado de tudo e de todos, para não se magoar. Daí escolher ser um professor substituto: nunca está muito tempo numa escola, não tem tempo de se apegar aos alunos, só tem que ocupá-los até que o professor permanente chegue. Uma impossibilidade anunciada. Rapidamente o professor descobre que o desapego é humanamente impossível.

O que ele vê: pais ausentes e desinteressados da vida dos filhos que só aparecem na escola para ameaçar e fazer queixas, com alunos à deriva, vítimas sem o saberem, a precisarem urgentemente de um guia; com diretores exaustos e desmotivados; com assistentes fartos de ouvir os alunos dizerem que não querem nada da vida nem têm expectativas, apenas querem andar por aí; com representantes autárquicos ignorantes que falam em dinheiro e gestão e números; com uma sociedade demissionária das suas responsabilidades que alimenta os jovens com violência, pornografia, superficialidades e futuros de prazer e felicidade ao virar da esquina e que pensa a escola como um laboratório 'behaviorista' onde se emendam todos os erros e disparates que os alunos trazem dos agentes de socialização exteriores à escola, como se os alunos fossem máquinas cheias de botões onde os professores carregam e eles, quais autómatos, transformam-se milagrosamente em jovens responsáveis, curiosos, assertivos, profundos, trabalhadores, inventores, líderes, etc. Tudo isto ele vê pelas emoções dos alunos e o desapego torna-se uma impossibilidade humana.

Este trailer não mostra nada do que o filme é. Até parece que é sobre um romance entre ele e uma aluna, o que não é.

Quem disse que os animais não sonham?

 



imagem da net

March 29, 2021

Plug in

 


Cool! 



Neil Armstrong's suit

NASA

via Mustafa sultani


O problema dos filmes policiais

 


... é já termos visto muitos e já termos lido milhares deles de todos os estilos e autores e ser muito difícil que um nos supreenda. Este filme parecia bom. A cena inicial do filme, uma retrospectiva violenta da infância do assassino e do seu motivo, está muito bem feita. Dada a quantidade de bons actores pensamos que o filme vai ser bom. Aí a 15 minutos de filme, quando se percebe que há um assassino em série, embora mal amanhado, quer dizer, esses indivíduos são metódicos e seguem padrões, mas dizia, a primeira vez que o assassino aparece no filme vejo logo que é ele. Não é suposto percebermos, mas é tão gritante, quer dizer, o indivíduo é tão inconsistente no cenário que é como se tivesse uma seta a apontar para ele. Enfim... que chatice, porque gosto de um bom policial.

Entretanto, a BBC está a dar há duas horas, o julgamento dos acusados da morte de George Floyd, em directo de Minneapolis e como o filme se tornou desinteressante vi as duas coisas ao mesmo tempo. Um julgamento deste é muito interessante. Ver os passos da construção do argumento e da estratégia de ambas as partes.


E também isto



It is unimaginably hard to do this, to stay conscious and alive in the adult world day in and day out.


    — David Foster Wallace

Sobre a arte

 


"Art is man’s constant effort to create for himself a different order of reality from that which is given to him."

– Chinua Achebe


O que vejo aqui

 


Vejo aqui uma grande e profunda ferida que camadas de compressas e panos não conseguem secar e cicatrizar. Dois fios de sangue ainda escorrem dela, cheios de vida. Tudo é escuro e cheio de camadas de textura sombria. Também há palavras que sangram. É a própria vida que sangra.