February 28, 2021

Acerca da vida

 


É uma estrada de sentido obrigatório.


Miúdos com um discurso tão... adulto

 


Já interiorizaram a necessidade de trabalho, de disciplina, de ter uma atitude motivada. É claro que é uma escola de elite e os miúdos sabem ao que vão, daí o discurso tão maduro, mas mesmo assim, se os alunos das escolas tivessem um décimo desta atitude em relação ao trabalho, a vida deles seria tão diferente...


A pensar

 


Se vivesse no futuro, onde é provável que a certa altura haja maneira de viajar ao passado, quereria ir a todas as épocas da história conhecer os sítios e as pessoas, mas pensando bem, para querer ir a esses sítios teria primeiro que amá-los como amo e isso requer meia vida, o que não me daria tempo para tanto, a não ser que no futuro já pouco se morra, quer dizer, vai-se substituindo orgãos e partes do corpo por outras biónicas e só se morre se a cabeça desistir ou falhar e mesmo assim, pode reparar-se, durante muito tempo, estruturas inteiras com peças implantadas para fazer boost da memória ou do cortex motor ou frontal ou outro para reavivar a actividade das zonas.

É claro que pode acontecer estarmos já no futuro e sermos uma simulação, nesse futuro, para se saber como era a vida do passado, o nosso presente, como diz Nick Bostrom. Podemos até ser robots de um futuro distante onde se criaram robots bioquímicos muito sofisticados que em tudo se parecem a humanos e que eles próprios [nós] não sabem serem robots postos aqui para investigar o passado... quem sabe...?


This old world...

 


When this old world starts getting me down
And people are just too much for me to take
I climb way up to the top of the stairs
And all my cares just drift right into space . . .

~Caol King & Goffin





Mesmo planeta, outro mundo

 


Parece uma cena bíblica. É o peso da Natureza -a força indomável do deserto e a concentração de milhares de animais- e o ritmo lento de vida que se adivinha. O andar dos camelos é lento e ondulante. Tem uma sensualidade que imita as cores e o calor das dunas quentes e que é realçada pela frescura dos oásis dispersos. A nossa vida urbana é tão distante destes cenários. Há tanta vida nesta cena. Quase conseguimos ouvir o linguajar arábico destas pessoas, a excitação de um dia que chega ao fim, onde podem descansar da viagem e falar à volta da fogueira, primeiro, e depois, ficar em silêncio a olhar o céu.  A noite no deserto é linda de morrer. Aquele céu infinito pejado de brilhantes. Como não haviam os antigos de acreditar em deuses e nos céus eternos com estes espectáculos diários e inalteráveis.


George Steinmetz, National Geographic

Enquanto as multas não forem a valer isto não pára


 

abate-ilegal-de-3-mil-azinheiras-em-monforte-obriga-intervencao-da-gnr


O Comando Territorial de Portalegre, através do Núcleo de Proteção Ambiental (NPA) de Elvas, detetou esta semana durante uma ação de patrulhamento o corte rente e a poda mal executadas em cerca de 3 000 azinheiras, em Monforte, no Alto Alentejo.

O caso abrange uma área aproximada de 42 hectares, onde foram contabilizadas 1 939 azinheiras abatidas em bom estado vegetativo e a poda mal executada de 1 058 azinheiras.

A GNR despoletou um auto de contraordenação por falta de autorização do corte de azinheiras adultas e de poda mal executada e um auto de notícia por danos contra a natureza, ambos remetidos para o Tribunal Judicial de Portalegre.




Billie Holiday - Strange fruit

 



Billie Holiday foi perseguida até ao leito de morte e presa, mais que uma vez, pelo FBI, por causa desta música que fala dos linchamentos de negros no Sul dos EUA. Uma coisa vergonhosa. O indivíduo que a perseguiu com ódio implacável, Anslinger, que já se tinha destacado, durante a lei seca, forjou provas e tudo o que arranjou para a destruir. Foi condecorado por Kennedy.

Billie Holiday, que teve uma infância e adolescência terríveis, não tinha a melhor voz do mundo nem a melhor técnica mas canta tudo com uma emoção crua e verdadeira.




Southern trees bear a strange fruit
Blood on the leaves and blood at the root
Black bodies swingin' in the Southern breeze
Strange fruit hangin' from the poplar trees

Pastoral scene of the gallant South
The bulgin' eyes and the twisted mouth
Scent of magnolias sweet and fresh
Then the sudden smell of burnin' flesh

Here is a fruit for the crows to pluck
For the rain to gather
For the wind to suck
For the sun to rot
For the tree to drop
Here is a strange and bitter crop.


Lady Day

 




Humanos, sendo humanos

 


O facto das figuras não terem rosto nem expressão facial torna-os universais.







Alex Gardner


Infográfico de hoje - quantos países cabem am África?

 




Fotografias a p&b

 


Andávamos montes de vezes vestidas de igual, tipo irmandade de Santo Onofre.



Uma vida bem vivida

 


... a que não faltaram traumas e tragédias, erros de percurso, passos mal dados, mas também muita inteligência, convicção, coragem e espírito de luta. Uma mulher extraordinária e um ser humano sempre presente e engagée, como dizem os franceses.


Então e Biden já deixou de perseguir Assange por denunciar crimes?

 


Hã... oops, nope... Biden e liberdade de imprensa 0 - crimes institucionalizados 1




Para quem pensa que o trumpismo está morto, acordem para a realidade T



... ou acordem só. Eu vou ver se durmo uma horinha.


A poluição não nos deixa sonhar

 


Aceitando o princípio de que os céus estrelados nos fazem sonhar e desenvolver a imaginação, a poluição impede-nos, entre outras coisas, também de sonhar.



nasa

Tree huggers





A origem do termo, Tree hugger

Os primeiros abraçadores de árvores foram 294 homens e 69 mulheres pertencentes ao ramo Bishnois do hinduísmo, que morreram, 
em 1730, enquanto tentavam proteger as árvores da sua aldeia de serem transformadas em matéria-prima para a construção de um palácio. Eles agarraram-se às árvores, enquanto eram massacrados pelos silvicultores, mas a sua ação levou a um decreto real proibindo o corte de árvores em qualquer aldeia Bishnoi. E agora essas aldeias são oásis arborizados virtuais no meio de paisagens desérticas.

Além disso, os Bishnois inspiraram o movimento Chipko (chipko significa “agarrar-se” em hindi) que começou na década de 1970, quando um grupo de camponesas nas colinas do Himalaia no norte da Índia lançou os braços à volta de árvores escolhidas para serem derrubadas. Em poucos anos, essa táctica, também conhecida como satyagraha de árvores, espalhou-se por toda a Índia forçando reformas na silvicultura e uma moratória no corte de árvores nas regiões do Himalaia.


Photo: The village women of the Chipko movement in the early 70's in the Garhwal Hills of India, protecting the trees from being cut down.




Eirik Duke

Uma bela metáfora da vida

 


Não sei de quem é esta imagem nem onde a fui buscar, ao certo, mas gostei dela. Vê-se ali uns anéis de madeira apodrecida que mostram que a árvore passou por uma crise séria, mas também se vê que a árvore continuou o seu crescimento saudável. Uma bela metáfora da vida.



do FB

Pedras - wavellite

 


Verde esperança.







Wavellite - Mineral de fosfato com fórmula Al323 · 5H2O.

origem: County Pit, Mauldin Mt., Montgomery Co., Arkansas

Photo: Weinrich Minerals, Inc

Realidade 1.2.




As escolas estão fechadas por luto e não por razões sanitárias

Em janeiro, a discussão sobre fechar ou não escolas era apenas sobre as crianças mais velhas. Ninguém pedia que se fechassem as creches, o pré-escolar ou os primeiros dois ciclos do ensino básico. Grosso modo, e falando em idades, discutia-se o encerramento de escolas para crianças e jovens com mais de 12 anos. Mesmo os mais radicais, como Manuel Carmo Gomes, nas famosas reuniões do Infarmed, era isso que defendiam.

Defendiam-no por preverem cenários assustadores, com vários milhares de casos de covid por dia, durante várias semanas. Com base nestes cenários infernais, calculavam que só no início de abril, a seguir à Pascoa, portanto, é que seria possível reabrir as escolas. E, repito, reabrir as escolas para os maiores de 12 anos, porque as outras não teriam sequer fechado.

Em que ponto estamos? Com todas as escolas fechadas e sem planos de reabertura. Especula-se que depois da Páscoa comecemos a reabri-las de forma muito faseada. Não faz sentido: do ponto de vista sanitário, não só estamos muito melhor do que o previsto, como estamos melhor do que no início de janeiro, quando a discussão começou. Na verdade, estamos melhor que alguma vez estivemos, de acordo com alguns indicadores, como o Rt, que está nos valores mais baixos de sempre. O número de novos casos está em níveis de setembro. O excesso de mortalidade diária desapareceu.

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O excesso de mortalidade diária desapareceu, pela razão de as escolas terem fechado e deixar de haver por aí mais quase dois milhões de pessoas a circular à conta disso. 

Àqueles que repetem que nas escolas quase não há contágios, era bom que pensassem: é-nos dito todos os dias que não se sabe a origem de 85% dos contágios. Sendo assim, como se pode concluir que a escola tem, ou não, mais ou menos contágios? Se respondem com os números do ME, sabem que estão a contar com aldrabices porque não apenas o ministro se recusou a dizer como sabemos que os números oficiais são uma ponta do iceberg, já que nem os pais avisam quando os filhos estão doentes, para não ficarem todos em isolamento, nem os próprios muitos vezes sabem porque não têm sintomas e não são testados. De facto, mesmo com este desconhecimento, antes de fecharem, as escolas estavam cheias de Covid e quem está nas escolas sabe: 30 professores em isolamento, seis turmas em isolamento, escolas onde todo o secundário foi para casa, ou o básico; turmas com 30 alunos, sem nenhum distanciamento. Etc.

Porque é que, em vez de defenderam que se abra as escolas sem segurança, não defendem a segurança nas escolas: turmas com um número razoável de alunos, testes, equipamento, professores vacinados, horários desfasados, equipamentos informáticos? Sei que este ano já não vamos a tempo porque os dois ministros da educação que estão no ministério não fazem o seu trabalho, como se viu por este ano, mas talvez se pressionassem muito a equipa do ME, eles começassem a preparar o ano lectivo que vem, que ainda há-de ser em pandemia, pelo menos no 1º período.

Realidade 1.1

 


Certas realidades não mudam. Os economistas portugueses continuam medíocres. No dia em que tiverem uma ideia útil em vez de despejarem a cassete, cai um santo do altar. Esta por exemplo, tem como solução, não o impedir que mais de mil milhões fujam, por ano, ao fisco, para offshores, não que empresas como a EDP paguem pela roubalheira de preços e os lucros de centenas de milhões livres de impostos, não que os banqueiros deixem de receber milhões de prémios absurdos depois de um mau trabalho, mas ir taxar os professores, por exemplo, que ganham fortunas, como se sabe, que já pagaram com cortes de salário e roubos de anos de trabalho prestado a crise de 2008 e depois a de 2011 e pagam os materiais com que trabalham e também o salário desta medíocre intelectualmente desinteressante que é contratada para despejar a cassete de PPC e de Costacenteno na 1ª página do jornal. 




Realidade 1.0

 


Face à la crise, «le jour d’après» se fait toujours attendre. À l’espoir s’est substitué un certain fatalisme, voire une angoisse sourde et diffuse.

Encore une fois, le prophète Houellebecq avait vu juste. «Nous ne nous réveillerons pas, après le confinement, dans un nouveau monde ; ce sera le même, en un peu pire», pressentait-il. Le premier confinement avait pourtant laissé subsister l’espoir d’un sursaut après le chaos. Neuf mois plus tard, «le jour d’après» se fait toujours attendre et l’état d’exception tend à se banaliser. Toute illusion lyrique s’est dissipée...

~ Alexandre Devecchio

Reality. OUCH...

 


Uma pedra nos rins vista ao microscópio. Por isso é que parecem facas?




Escaping reality

 




Say what? A polar bear??!

 


“Never stay up on the barren heights of cleverness, but come down into the green valleys of silliness.” (Wittgenstein )


February 27, 2021

Acho que as minhas macrófogos estão de quarentena ou de greve

 

Quem é que me deu uma sova?

Passado, presente e futuro

 





Olga Yurchenko

Marte é nosso? 🪐



Projecção de uma cidade em Marte. Elon Musk já pôs no espaço satélites que se confundem com estrelas, toda a gente atira lixo para o espaço e agora vários bilionários que têm mais dinheiro que a NASA querem apropriar-se de Marte. Marte é nosso? É deles, para o reclamarem como seu? Existe legislação ou, pelo menos, regras de etiqueta internacionais acerca da conquista do espaço? Há proprietários de Marte ou é um pouco como a conquista do Farwest, quem chega primeiro, avia-se? Não que isto seja do meu tempo ou que me interessasse ir para lá, mesmo que fosse, mas já bastam as guerras terrestres, não precisamos de guerra espaciais, porque sobram para nós.


@Astronomiaum

Uma visão de Marte 🪐

 


Quando a lua se disfarça de Saturno

 




 Francisco Sojuel 

Leituras pela manhã - lembrando Popper

 


Lembrando Karl Popper


by David Cohen

É o fim do dia de trabalho em tempo de guerra no 14a Westenra Terrace, em Port Hills of Christchurch, Nova Zelândia, bem acima do extremo sul das ruas da cidade. O apartamento de um quarto oferece uma vista deslumbrante de uma região moldada pela agitação da crosta terrestre e pelos ventos secos que sopram do noroeste e através da cordilheira alpina do sul. Mas para o austríaco e sua mulher que vivem aqui, não há muito tempo para contemplar estes elementos naturais. Estamos na década de 1940, e o seu foco continua a ser a elevação da sua crosta nativa europeia e as tendências calamitosas da história intelectual que deformam a sua pátria.

No seu interior, o jovem Karl Popper olha, com os seus olhos escuros, para as suas notas manuscritas. Hennie, espera, uma folha de papel fresco enrolada na máquina de escrever atrás da qual está sentada. Lentamente, começa a ditar os seus últimos pensamentos para um trabalho que teme receber tão pouco entusiasmo de futuros editores como o recebeu de muitos colegas na sua casa adoptiva. "Grandes homens", diz num inglês gutural, "cometem grandes erros". E com isso, começou a trabalhar no que seria um dos livros mais importantes do século.

Durante os oito anos que viveu na Nova Zelândia, Karl Popper raramente foi tomado por um grande homem. Os três filósofos de The Open Society and Its Enemies, foram-no e ainda são: Platão, Hegel, e Marx. O falecido, Isaiah Berlin, biógrafo de Marx e professor de filosofia na Universidade de Oxford, contava-se entre os primeiros admiradores do livro, chamando-lhe "a crítica mais escrupulosa e formidável das doutrinas filosóficas e históricas do marxismo por parte de qualquer escritor vivo"

Avisos como estes fizeram com que  Popper fosse encostado à direita política, o que foi um exagero, pois ele era simplesmente um social-democrata clássico que desprezava o Utopianismo. Sim, ele foi atrás de Marx, o pai da esquerda moderna, com um zelo impressionante, mas o seu principal desprezo estava reservado a Platão, a quem ele culpava por influenciar fatalmente os outros dois "grandes" homens (Hegel e Marx)e demasiados outros. A República, dizia, foi um projecto para gerações de "pequenos fascistas". Sobre o seu contemporâneo Martin Heidegger, dizia: "Apelo aos filósofos de todos os países para que se unam e nunca mais mencionem Heidegger ou falem com outro filósofo que defenda Heidegger. Este homem era um demónio... e [teve] uma influência demoníaca na Alemanha".

Popper sabia uma ou duas coisas sobre o clima intelectual alemão da sua época, tendo fugido para a Nova Zelândia no seu 35º aniversário  (ainda tenro em termos académicos mas agarrado a um currículo impressionantemente variado). Já se tinha virado para uma variedade de actividades. Inicialmente, era um marceneiro treinado e depois trabalhou com crianças delinquentes na sua Áustria natal; ao mesmo tempo, estava a ensinar matemática a si próprio e de alguma forma a arranjar tempo para exprimir o seu entusiasmo pelo socialismo em várias actividades políticas. Tinha recebido o seu doutoramento em filosofia nove anos antes na Universidade de Viena, pouco antes de casar com Josefine Anna Henninger (Hennie). Era também um pianista razoavelmente realizado e um professor formado.

Politicamente falando, Popper tinha vivido muito. Tinha visto a dissolução da antiga monarquia austro-húngara. Fez parte da revolução intelectual subsequente que, entre outras coisas, produziu o Círculo de Viena, do qual era uma parte periférica. Testemunhou em primeira mão a ascensão dos nazis e, com igual consternação, a ascensão do comunismo, que de certa forma absorveu ainda mais a sua atenção do que o nacional-socialismo. "Eu estava desde o início um pouco céptico em relação ao 'paraíso' resultante da revolução", reflectiu ele mais tarde.

Não gostava certamente da sociedade existente na Áustria, na qual havia fome, pobreza, desemprego, e inflação galopante - e especuladores monetários que conseguiram lucrar com isso. Mas sentia-me preocupado com a intenção óbvia [do comunismo] de despertar nos seus seguidores o que me parecia instintos assassinos contra o inimigo de classe. Disseram-me que isto era necessário e que numa revolução apenas a vitória era importante uma vez que todos os dias eram mortos mais trabalhadores sob o capitalismo do que seriam mortos durante toda a revolução. Aceitei isso com relutância, mas senti que estava a custar muito em termos de decência moral.

Popper escapou ao que ele chamou de "a armadilha marxista" por volta do seu 17º aniversário e quando aterrou no meu próprio país, a experiência já era claramente evidente no seu trabalho. O seu repúdio pelo marxismo informou a crítica ao historicismo que produziu no ano anterior à sua chegada, a sua crença na importância das ideias e na nossa responsabilidade de adoptar uma atitude crítica em relação às mesma e o seu individualismo fervoroso. Estes pontos seriam reunidos sob a ruúbrica do que ele apelidou de, sociedade aberta.

Provavelmente a maior influência em tudo isto tinha sido o seu pai, Simon Popper, um advogado e polimata que escrevia sátira nos seus tempos livres. Compreensivelmente, a multidão nazi aterrorizava Simon, nascido judeu. Mas ele também não teve muito tempo para a nascente escola sionista dirigida por Theodor Herzl, mesmo quando a sua importância cresceu sob as nuvens de tempestade que se reuniam. Viena foi também onde Herzl, nascido na Hungria, conseguiu um lugar como correspondente de Paris para o Neue Freie Presse. Esta experiência iria convencê-lo (sobretudo depois de cobrir o julgamento de Dreyfus) de que os judeus não - "não podiam pertencer à Europa".

Viena parecia indicar o contrário para uma família relativamente próspera como os Poppers. Chamavam-lhe a Cidade dos Sonhos. Os judeus constituíam 10% da população da cidade e estavam bem representados na lei, medicina, e jornalismo. Um futuro feliz acenou. O próprio Simon Popper sentia-se confortável por se ter convertido ao luteranismo numa idade precoce, sem quaisquer escrúpulos aparentes. Para ele, a emancipação judaica não estava em nenhuma nova pátria - e certamente não na loucura do nacionalismo alemão - mas na assimilação cultural. Simon deu esta lição a Karl e parece ter sido absorvida com sucesso. Karl quase não conseguiu sair da sua amada cidade antes da implementação da Solução Final, que levou ao assassinato de cerca de 56.000 judeus - judeus progressistas, suponho que lhes chamaríamos, hoje - que tinham tomado a decisão catastrófica de permanecer na cidade.

Felizmente, em meados dos anos 30, Karl viu a escrita publicada e fo para a Grã-Bretanha, o que serviu de aquecimento para a sua viagem aos Antípodas. A relação frágil que Popper por vezes experimenta com colegas na Grã-Bretanha é memoravelmente capturada no improvável bestseller Wittgenstein's Poker. Os jornalistas David Edmonds e John Eidinow conduzem uma investigação excêntrica sobre uma célebre disputa entre Popper e Wittgenstein, que teve lugar numa sala de aulas na Universidade de Cambridge durante uma reunião do Clube de Ciências Morais normalmente polivalente. Wittgenstein teve problemas com Popper. Não gostou das ideias científicas que Popper expôs primeiro no seu livro, A Lógica da Descoberta Científica - suponho que, em grande parte, elas contradiziam as suas próprias ideias.

Como Adam Gopnik explicou no New Yorker, Popper acreditava que a ciência não era tanto uma forma de prova como um "estilo de discussão". Ciência não era o nome do conhecimento que tinha sido provado como verdadeiro, mas sim o nome de suposições que poderiam ser provadas como falsas. Até Popper, os cientistas tinham tendência a acreditar que a sua tarefa era encontrar o maior número possível de exemplos para confirmar as suas teorias. Wittgenstein, autor do Tractatus Logico-Philosophicus, parecia concordar com isto. Popper, contudo, acreditava que os cientistas deviam procurar exemplos aparentemente inconsistentes com uma teoria; "falsificação", sustentava ele, e não "indução" era a única base credível para a investigação científica. Esta é a ideia a que ele daria uma reviravolta política na The Open Society: "Nenhum número de avistamentos de cisnes brancos pode provar a teoria de que todos os cisnes são brancos". Mas o avistamento de apenas um negro pode refutá-la".

Quer admitam ou não, sempre que os cientistas hoje em dia procuram cisnes negros e, não encontrando nenhum, se pronunciam razoavelmente seguros da sua teoria, estão a fazer um arco na direcção de Popper. De acordo com Malachi Haim Hacohen, professor associado de história intelectual europeia na Duke University e autor de Karl Popper: The Formative Years, 1902-1945, a promulgação desta ideia marcou um divisor de águas filosófico. Isto é amplamente aceite, mesmo por aqueles não convencidos de que Popper conseguiu resolver o problema de como melhor validar o conhecimento científico.

Wittgenstein estava entre os que não estavam impressionados. E Popper, 13 anos mais novo que o eminente filósofo, reconheceu mais tarde nas suas memórias Unended Quest que tinha chegado de Londres nessa noite "para provocar Wittgenstein... e para o combater nesta questão". De facto, conseguiu provocá-lo. O livro Edmonds-Eidinow aborda a questão de saber se Wittgenstein ameaçou realmente Popper com um atiçador em brasa na presença de Bertrand Russell, que se diz ter extinguido o seu cachimbo e depois separado os estudiosos da rixa. Popper, desafiado a dar um exemplo duradouro de uma regra moral, terá respondido: "Não ameaçar os conferencistas visitantes com atiçadores".

Como muitos grandes argumentos, no casamento e na amizade, bem como na política e cultura, o diferendo não era sobre o que discutiam. Edmonds e Eidinow concluem que Wittgenstein provavelmente ameaçou Popper com um atiçador mas, o incidente foi realmente sobre a necessidade de ambos os homens desfrutarem das graças de Russell - e, de facto, as de um mundo académico anglo-saxónico em geral que nunca aceitou nenhum dos dois. 

Alan Musgrave foi assistente de investigação de Popper's de 1963 a 1965 na London School of Economics and Political Science, onde, com Imre Lakatos, editou Criticism and the Growth of Knowledge, uma influente colecção de ensaios sobre a filosofia da ciência. Disse-me uma vez que algumas das atitudes mais recentes e menos apelativas de Popper nasceram do ressentimento de que o seu trabalho político não era suficientemente reconhecido pelos seus contemporâneos. Ele estava orgulhoso do que tinha conseguido, "mas também estava muito amargo", disse Musgrave.

Foi a 21 de Dezembro de 1936, que o Colégio Canterbury da Universidade da Nova Zelândia nomeou Popper para o cargo de docente em educação e filosofia. Em vez de ser recebido, no ano seguinte com braços académicos abertos, como se poderia supor, viu-se um pouco marginalizado como "refugiado" designado, ocupando uma posição relativamente baixa na hierarquia. A universidade teve a gentileza de lhe permitir partilhar um escritório com o organista da igreja local. A debruçar-se sobre o seu departamento estava o Professor Ivan Sutherland, um psicólogo com uma queda por jogos de poder e não muito tempo para Popper. Sutherland via a maioria das pesquisas e dos investigadores com desconfiança. Um conferencista com formação especializada em matemática e física, a escrever um livro sobre política, não era apelativo.  Sutherland proibiu a utilização de fundos institucionais em qualquer trabalho deste tipo, incluindo assistência de secretariado. Assim, os rascunhos para a The Open Society foram escrito em papel que os Poppers pagaram por si próprios.

Popper também teve o seu trabalho cortado em aspectos mais imediatos. Como Hacohen salienta, com apenas 15.000 títulos, a biblioteca Canterbury era quase do tamanho da biblioteca da família dele em Viena. A colecção de filosofia da faculdade ostentava apenas 40 volumes do século XX, o mais recente dos quais estava 10 anos desactualizado. A biblioteca subscrevia apenas um periódico filosófico (Mind), e não possuía sistema de catálogo. O colégio subscreveu o jornal local, mas a sua única página de escassa cobertura internacional aterrorizou e presumivelmente angustiou Popper cada vez que lia notícias de casa.

Mas se as actividades de Popper eram um mistério para alguns dos barões do colégio, o mesmo não se poderia dizer de muitos colegas e estudantes. "Ele pensava em voz alta e falava fluente e lentamente, sem notas, e nunca vacilou", escreveu o falecido Peter Munz, um dos dois únicos estudantes que estudaram com Wittgenstein e Popper.

As ideias pareciam brotar dele na sua própria sucessão lógica interior. A combinação de seriedade e lucidez, por vezes interrompida por toques de humor aparentemente improvisado, foi completamente persuasiva. Falou com um forte sotaque austríaco, mas sempre inteligível. Tomou infinitos cuidados com estudantes individuais, sobre muitos dos quais deixou uma impressão duradoura.

Munz tinha nascido em Itália e foi um Platonista de primeira linha nos seus anos de graduação, antes de ter fugido da Europa para uma nova vida em Down Under. Foi o primeiro a avistar Popper na mal abastecida biblioteca do campu. O homem mais velho acenou-lhe e 'Perguntou-me se eu gostaria que ele me explicasse porque estava errado sobre Platão', disse-me Munz uma vez. "Ele não se ofereceu para discutir a questão, ou para trocarmos pontos de vista - apenas para me dizer porque estava errado. Soube mais tarde que esse era o seu estilo".

Acontece que Popper conseguiu convencer Munz de que Platão estava errado sobre como as sociedades deviam ser organizadas e de que a ideia de controlar as ideias a que as pessoas estão expostas é uma tirania em grande escala. Assim começou o que Munz, que viria a ser professor de história na Universidade de Victoria em Wellington, descreveu como a sua própria aurora intelectual, apesar das suas diferenças ao longo da vida sobre o tema da história. "Popper pensou que pessoas honestas se tornam cientistas, mas pessoas desonestas se tornam historiadores, sociólogos, etc., porque eram pessoas que podiam convencer os outros do que quisessem".

Outros filósofos têm vindo e ido desde então, é claro, mas é difícil pensar em muitos que produziram algo tão duradouro como A Sociedade Aberta e Seus Inimigos. Popper tinha prometido que seria o seu esforço em tempo de guerra. Infelizmente, chegou demasiado tarde para a guerra em curso (ele tentou, sem sucesso, alistar-se no exército da Nova Zelândia durante este período) e certamente demasiado tarde para muitos dos seus parentes, 18 dos quais foram assassinados nos campos de concentração.

Em The Open Society, Popper lembra-nos que a vida é sobre pessoas normais que fazem pequenas escolhas sem fim e se esforçam todos os dias para "minimizar o sofrimento evitável". Ele rejeita a ideia de Nietzsche da história moldada pelos grandes planos dos grandes homens. Em vez disso, é o produto da "engenharia social fragmentada" de pessoas comuns que fazem coisas comuns - desde que o governo, ou as multidões, não se metam no seu caminho. Penso no que ele alcançou com, A Sociedade Aberta como uma rifa filosófica galopante sobre o que um dos meus escritores favoritos, James Baldwin, disse uma vez: "A história não é uma procissão de gente ilustre. É sobre o que acontece às pessoas normais. Milhões de pessoas anónimas é sobre o que a história é".

A ideia de uma sociedade aberta não era um produto da imaginação filosófica de Popper - algo que ainda pode ser criado. Era algo que já existia, mas que podia ser destruído. No final da sua vida, Popper disse o mesmo. Olhando para o seu maior feito literário no final das suas memórias, escreveu que qualquer pessoa preparada para comparar a vida nas democracias liberais ocidentais com a vida noutras sociedades será forçada a concordar que temos "as melhores e mais equitativas" sociedades abertas da história humana.

Não só há poucas pessoas que sofrem de falta de alimentos ou de falta de habitação, como há infinitamente mais oportunidades para os jovens escolherem o seu próprio futuro. Há uma riqueza de possibilidades para aqueles que desejam aprender e para aqueles que desejam divertir-se de várias maneiras. Mas talvez o mais importante é que estamos preparados para ouvir críticas informadas e estamos certamente satisfeitos se forem feitas sugestões razoáveis para a melhoria da nossa sociedade. Pois a nossa sociedade não só está aberta à reforma, como está ansiosa por se reformar a si própria.


Apesar de tudo isto, a propaganda para o mito de que vivemos num mundo feio foi bem sucedida.


Abre os olhos e vê como o mundo é belo, e como somos afortunados por estarmos vivos!

(tradução minha - texto um bocadinho propagandístico... mas interessante)

Steinbeck quotes

 


“And this I believe: that the free, exploring mind of the individual human is the most valuable thing in the world. And this I would fight for: the freedom of the mind to take any direction it wishes, undirected. And this I must fight against: any idea, religion, or government which limits or destroys the individual. This is what I am and what I am about.” 
― East of Eden


“Anything that just costs money is cheap.” 
― John Steinbeck


All war is a symptom of man's failure as a thinking animal.” 

― John Steinbeck


“I was born lost and take no pleasure in being found.” 
― Travels with Charley: In Search of America


“It's so much darker when a light goes out than it would have been if it had never shone.” 
― The Winter of Our Discontent


“It has always seemed strange to me...The things we admire in men, kindness and generosity, openness, honesty, understanding and feeling, are the concomitants of failure in our system. And those traits we detest, sharpness, greed, acquisitiveness, meanness, egotism and self-interest, are the traits of success. And while men admire the quality of the first they love the produce of the second.” 
― Cannery Row


“Try to understand men. If you understand each other you will be kind to each other. Knowing a man well never leads to hate and almost always leads to love.” 
― John Steinbec


“I believe a strong woman may be stronger than a man, particularly if she happens to have love in her heart. I guess a loving woman is indestructible.” 
― East of Eden


“A sad soul can kill you quicker, far quicker, than a germ.” 
― Travels with Charley: In Search of America


Steinbeck Jr. nasceu no dia de hoje, em 1902

 


Photo Restoration by Grant Kemp - Esta é minha versão colorida de um retrato de Steinbeck tirado em 1935, por Sonya Noskowiak.


Ganhou o Prémio Nobel de Literatura em 1962 As suas obras são consideradas clássicos da literatura ocidental.

Durante a sua carreira de escritor, escreveu 27 livros, incluindo 16 romances, seis livros de não ficção e duas coleções de contos. É muito conhecido pelos romances cómicos Tortilla Flat (1935) e Cannery Row (1945), o épico East of Eden (1952) e as novelas Of Mice and Men (1937) e The Red Pony (1937). Vencedor do Prémio Pulitzer com The Grapes of Wrath (1939), considerada a sua magnun opus

A maior parte das obras de Steinbeck passam-se no centro da Califórnia, particularmente no Vale Salinas e na região das cordilheiras da Califórnia. Frequentemente exploravam os temas do destino e da injustiça, especialmente quando aplicadas a protagonistas oprimidos ou comuns.

John Steinbeck morreu na cidade de Nova York em 20 de dezembro de 1968, de doença cardíaca e insuficiência cardíaca congestiva. 

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Estava aqui a fazer um mapa mental da cronologia da minha relação com a literatura. Depois da literatura infantil portuguesa e inglesa que me lembro de ler antes dos 10 anos de idade, o que li a seguir (entre os dez e os onze anos) foi a literatura inglesa e americana: o Dickens (a começar pelo David Copperfield que teve uma grande influência em mim), o Mark Twain, a Harriet Beecher Stowe ( A Cabana do Pai Tomás, outro livro que me marcou muito); Steinbeck e Pearl Buck - li vários livros deles da editora Livros do Brasil - os dela na colecção Dois Mundos. Dele, lembro-me de ter lido A Pérola, A Um Deus Desconhecido e o Diário Russo. As grandes obras dele só as li mais tarde. Dela li quase duas dezenas de livros. A minha mãe tinha os livros quase todos da editora Livros do Brasil e da coleção Dois Mundos e foi com essa editora que li quase toda a literatura clássica ocidental, entre os dez e os quinze anos. A seguir aos americanos passei-me para os russos e os franceses.

Foi o Diário Russo de Steinbeck que, em grande parte, me levou ao Dostoievsky e à literatura russa e foram os livros da Pearl Buck que me fizeram interessar pelo Oriente e tomar consciência das questões do sentido da existência e do sofrimento.
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Socialism never took root in America because the poor see themselves not as an exploited proletariat but as temporarily embarrassed millionaires.

~Steinbeck, citado por Ronald Wright, em A Short History of Progress


A escada polissémica

 


Anjo subindo a escada de Jacob, Abadia de Bath (pormenor). Há duas escadas de anjos ascendentes esculpidas nos pilares norte e sul da frente oeste. Foram feitas quando a Abadia estava ainda sob controle monástico, no final do século XV e não fazem parte da reconstrução e restauração posteriores, que se seguiram à dissolução da Abadia, em 1539. 
A Escada de Jacob é o nome dado à escada que aparece no sonho do Patriarca Bíblico, Jacob. No entanto, a escada também passou a simbolizar uma conexão entre a Terra e o Céu (ou o cosmos), bem como a história da humanidade, na qual os degraus da escada representam a sucessão de reinos que governaram o mundo.




Good morning



February 26, 2021

Ishtar

 


Ishtar – a deusa mesopotâmica da guerra, do erotismo e do amor sexual, tinha o poder de atribuir o género.

Conhecida como a "Rainha do Céu", adorada na Suméria, na Acádia e na Babilónia, estava associada ao planeta Vénus. Era a divindade mais alta do panteão e os seus símbolos eram o leão e a estrela de oito pontas. 

Esta grande placa de Ishtar data do séculos VVIII ou XIX AEC e a figura da deusa alada estava originalmente pintada de vermelho.

Está no British Museum. Para saber mais: http://ow.ly/xLXD30rwmIs



A Porta de Ishtar - a oitava porta da cidade da Babilónia. Foi construída por volta de 575 AEC pelo rei Nabucodonosor, no lado norte da cidade. Está decorada com os símbolos da deusa.






O problema da literatura

 


... é que temos que suspender o juízo. Quando ele diz que é alguém que busca (saber) mas já não nas estrelas (no mundo físico, exterior, portanto) ou nos livros (na sabedoria dos outros), mas no sangue que corre nele, portanto, na sua intuição, na 'sabedoria' do corpo, naquilo que a vida lhe ensinou (diz que não teve uma vida fácil e limpa - quem teve?) e que isso é a marca das pessoas que já não mentem a si próprias, ficamos a perguntar se, quando lia os livros para saber da sabedoria dos outros ou quando olhava o mundo fora de si à procura de respostas, digo, ficamos a perguntar se isso significava que mentia a si mesmo. Mais, quer ele dizer que aqueles que não estão voltados para si mesmos e presos nas suas intuições, mentem a si mesmos e aqueles que confiam nas suas intuições e impressões internas são mais sábios? As duas coisas são exclusivas: ou procuramos a sabedoria nas estrelas e nos livros ou em nós mesmos? Não é sempre melhor alargar as fontes de conhecimento para não cair em ilusões e falsos raciocínios internos? Não está ele a cristalizar-se num momento da sua experiência interna? O confronto com o saber dos outros e o mundo não nos mantém no caminho da sabedoria? Por exemplo, de vez em quando, nos dias piores, tenho a impressão que alguém está sentado, pacientemente, à espera que esta doença faça o seu curso e me leve, mas depois penso que as minhas impressões internas já me enganaram muitas vezes, o que sei quando as confronto, justamente, com os factos ou a sabedoria dos outros - o facto de deixar de olhar o mundo exterior ou a sabedoria dos outros (se o fizesse), não faz com que eles cessem a sua existência, só faz com que cesse eu de me pôr à prova e me torne dogmática, egotista e mais permeável ao erro, não? 

O problema da literatura é pensarmos. Por outro lado, é verdade que a literatura, aqui, fez pensar, o que significa que ler os livros (neste caso o dele próprio) adianta, de facto, qualquer coisa, na busca do saber, ao contrário do que ele diz quando afirma que já não lê livros porque não adianta. Embora os escreva para serem lidos, quer dizer, para outros fazerem o que ele desvaloriza. Paradoxal ou só algo incoerente ou ainda, confuso. Se calhar foram frases que escreveu na intuição do momento, não sei.


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“I have no right to call myself one who knows. I was one who seeks, and I still am, but I no longer seek in the stars or in books; I'm beginning to hear the teachings of my blood pulsing within me. My story isn’t pleasant, it’s not sweet and harmonious like the invented stories; it tastes of folly and bewilderment, of madness and dream like the life of all people who no longer want to lie to themselves.”

~Demian, Hermann Hesse

Cenas sem interesse nenhum

 


Só tenho coisas que me arreliam, como dizia a minha avó Beatriz. 

Quando uma pessoa faz análises raras à procura de doenças raras, o preço depois é... raro...

E enviaram-me a outra junta médica com dois dias de antecedência... por acaso calha em cima de exames médicos e pude adiar... ...não percebo esta maneira dos serviços funcionarem. Piorei logo daquela porcaria que se calhar é rara.... ou se calhar é só a anomalia 505 (sequelas da químico, da radio, imuno), sei lá... 

Estou cansada. 


Quem tem ódio ao algoritmo ponha o braço no ar 🙋‍♀️

 


Primeiro foi o FB. Sigo páginas de arqueólogos egiptólogos porque o assunto me interessa. A maioria deles, embora não todos, são árabes. A porcaria do FB está sempre a meter na minha página 'aláuakebares' a cantar orações... que chatice... ... eu até gosto de ouvir a chamada para a oração mas já estou farta.

Agora, andava à procura de um sítio para ver um filme que estreou há pouco tempo. Só que o filme tem um nome facilmente confundível com o título de um filme qualquer pornográfico. Resultado: só me aparecem filmes e sites de pornografia. Que chatice...



Uma iniciativa positiva da AR

 




Espero que esta procuradora não seja um exemplo do que são os Procuradores da República

 


A comentar as declarações do Presidente do Comité Olímpico Japonês que se declarou contra a participação de mulheres no comité (não por acaso ele não as leva para lá) e decidiu, depois das críticas, que as mulheres poderiam participar mas 'no seu lugar', caladas e sem direito de intervenção (a senhora esquece-se deste pormenor) a Procuradora insurge-se contra o que denomina de castigo à liberdade de expressão, compara este caso aos neonazis, aos que querem o revisionismo histórico e diz que o Presidente do Comité Olímpico Japonês é de um tempo em que havia liberdade de expressão e por isso falou. 

Vejamos, ninguém prendeu o Presidente do Comité Olímpico Japonês ou sequer o proibiu de falar. Acontece que as palavras dele, mesmo que não tivessem sido seguidas do acto de fazer o favor de deixar as mulheres assistir desde que caladas, expressam uma vontade convicta de descriminar mulheres, por serem mulheres, baseado na sua opinião pessoal de que os homens, por serem homens, são melhores. 

Ora, um organismo oficial que tem uma política expressa de não discriminação e, até, de paridade, tem o dever de acautelar que as pessoas que o dirigem e, desse modo, lhe imprimem uma dinâmica operativa (a sua) não sejam contra os princípios que o norteiam.

Suponha a senhora Procuradora que eu, sendo professora, declaro aqui que prefiro que os rapazes não intervenham nas minhas aulas, porque não sabem articular os pensamentos numa linguagem coerente como as raparigas (estou aqui a usar um preconceito muito difundido em certas escolas da psicologia segundo as quais as raparigas são superiores aos rapazes no discurso) e, para além disso, são mais agressivos. 

Seriam só palavras sem importância ou seriam um indicador de discriminação dos rapazes, só por serem rapazes? Acho evidente que seriam um indicador da intenção, senão da prática, de discriminar os rapazes, o que não tem que ver com liberdade de expressão. Ninguém me prenderia por dizer essas coisas, mas se calhar alguém apareceria a ver o que se passa nas aulas ou até seria suspensa, porque a escola pública tem princípios a que estamos obrigados e um deles é o de não discriminação.

Que a senhora Procuradora da República não perceba a diferença entre expressar uma opinião sobre um assunto e manifestar intenção -e prática- de discriminação e ainda que confunda isso com práticas neonazis, preocupa-me bastante e espero que a senhora não seja um exemplo do raciocínio comum dos Procuradores da República.

Esta Procuradora da República queixa-se do peso dos influencers nas redes sociais, mas não vê que é ela própria, uma influenciadora de opiniões, num meio de comunicação social, pois é para isso -para influenciar outros- que escreve o artigo no jornal. Uma página inteira. Então a sua queixa é qual? A de que os outros que pensam de modo diferente tenham acesso a dizer o que pensam nas redes sociais? Esse direito devia ser só seu e dos seus pares? Bem, isso a mim parece-me uma queixa da liberdade de expressão do outros.




É mais difícil encontrar um autarca limpo que uma agulha num palheiro?




o-dilema-dos-candidatos-arguidos


Operação Éter

O Ministério Público constituiu 74 arguidos, 50 dos quais autarcas e ex-autarcas de 47 câmaras do norte e centro. O processo seguiu duas linhas de investigação: a mais vasta visa as lojas de turismo interativas, instaladas maioritariamente através de contratos de ajuste direto com empresas da confiança de Melchior Moreira, ex-presidente do Turismos do Porto e Norte.

Operação Teia

Conexo com o Éter, no epicentro deste processo — que ditou a prisão preventiva de Melchior Moreira e a detenção domiciliária do autarca de Barcelos, Miguel Costa Gomes (entretanto libertado) — esteve Joaquim Couto. O presidente da Câmara de Santo Tirso renunciou ao mandato em 2019 e é suspeito de pressionar autarcas e responsáveis de entidades públicas a contratar serviços, por ajuste direto, a empresas do seu universo familiar, detidas maioritariamente pela mulher. O Turismo do Porto e Norte e Câmara de Barcelos eram os maiores clientes.

Operação Dennis

Em 2018, a PJ deteve quatro homens e uma mulher suspeitos de crimes de associação criminosa, fraude fiscal qualificada e participação económica em negócio. Entre os arguidos, está o presidente da Câmara de Santo Tirso, Alberto Costa, que assumiu o cargo após a saída de Joaquim Couto.

(Expresso)

Aspectos do capitalismo actual que têm que mudar

 


Este vídeo é de um site idiota, mas o vídeo é real. 

Donald Trump, em 2017, chama Gates à Casa Branca e pergunta-lhe se deve formar uma comissão para investigar efeitos secundários de vacinas. A propósito de quê? Gates é biólogo, epidemiologista, médico, farmacêutico, químico? Não. Não é nada disso. É só um tipo que fez muito dinheiro a vender computadores. Isto é o que tem que mudar. É preciso deixar de substituir a opinião fundamentada dos especialistas pela opinião dos bilionários, só porque têm muito dinheiro, acerca de assuntos que têm impacto na nossa vida. Este tipo de acumulação obscena de riqueza destes bilionários é sustentado por um desrespeito pelos outros, seja nos empregos, nos direitos ou no acesso a bens. São pessoas de um egoísmo implacável e não podem ser os nosso decisores políticos.


Ecos dos crimes soviéticos

 

Uma sentença vitalícia: crianças do gulag lutam para regressar do exílio

Milhões de cidadãos soviéticos foram enviados para uma vasta rede de campos de prisioneiros sob o regime de Estaline. Agora os seus descendentes procuram uma recompensa.

Alisa Meissner está a pagar até hoje pela decisão da União Soviética de exilar toda a sua família de Moscovo. Ainda vive numa cidade a apenas 30 milhas da aldeia gulag, para onde a sua família foi enviada na década de 1940, após o início da segunda guerra mundial. E apesar da reabilitação da sua família exilada, da denúncia de Joseph Stalin e do colapso da União Soviética, ela nunca pôde partir.

"Tem sido uma sentença vitalícia", diz ela durante uma entrevista de uma pequena cidade na região de Kirov, a 600 milhas a leste de Moscovo. "A minha mãe morreu aqui. Foi exilada e nunca mais pôde regressar. E eu estou a envelhecer. Mas eu quero viver. E eu quero viver em Moscovo".

Milhões de cidadãos soviéticos foram exilados para a vasta rede gulag de campos de prisioneiros sob Stalin por crimes reais e imaginários, dissidência contra o governo, e mesmo, como os Meissners, como castigo por pertencerem a grupos étnicos "não confiáveis", como os alemães.


Agora, ela e 1.500 outros descendentes de exilados sob Stalin, os "filhos do gulag", estão a seguir uma batalha legislativa que poderá decidir se lhes é dada alguma pequena compensação pelas vidas que lhes foram tiradas.

No caso de Meissner, isso significaria um apartamento na capital da Rússia onde, antes da revolução russa, os seus familiares possuíam uma famosa farmácia que alberga agora uma loja de cristais e um restaurante francês.

É uma luta que se arrasta há 30 anos, expondo disfuncionamentos burocráticos e arrastamentos políticos, uma vez que muitos dos que esperam por ajuda envelheceram até aos seus 70 anos.

"Todos eles pensam que somos velhos e estão à espera que desapareçamos da face da terra", diz ela. 

Havia pouca esperança para os filhos dos prisioneiros de gulag até ganharem um processo judicial constitucional em 2019, numa decisão surpresa que os ajudaria a acelerar os pedidos de alojamento. Mas essa vitória poderia ser minada por nova legislação que os coloc em filas de espera de décadas por habitação.

A ONG Memorial, uma organização de direitos humanos que investiga crimes no âmbito da União Soviética, juntamente com activistas civis apresentaram legislação alternativa. É provável que a Câmara Baixa da Duma da Rússia venha a tomar uma decisão no próximo mês.

Grigory Vaipan, um advogado que representou Meissner e outros requerentes no tribunal constitucional, diz que muitos políticos não querem discutir os problemas enfrentados pelas vítimas das repressões soviéticas.

"As repressões soviéticas são um tema incómodo para o actual governo russo", diz Vaipan. "As pessoas que estão agora no poder na Rússia querem sublinhar os êxitos e realizações do período soviético e não falar dos momentos mais sombrios da história russa no século XX".

Roman Romanov, o director do Museu de História Gulag de Moscovo, que se expandiu consideravelmente nos últimos anos, diz que tem havido progressos no reconhecimento das repressões sob Stalin, mas que a burocracia continua a ser uma das principais razões para o atraso na ajuda às suas vítimas.

"O facto de estarem a empatar é indicativo de onde estamos neste momento", diz ele. "Os deputados dizem que se trata de um problema económico. Mas não há o desejo de resolver esta questão".

Após o início da segunda guerra mundial, a família de Meissner foi exilada para o Cazaquistão em 1941, onde o seu avô morreu no espaço de um ano. A sua mãe foi enviada para a região russa de Kirov, em 1943, para trabalhar numa cidade madeireira. Foram transferidos para a cidade de Ozhmegovo, na mesma região, em 1949. "Havia uma esquadra de polícia onde tinham de se apresentar constantemente", diz ela sobre a cidade, onde nasceu em 1950. "Havia muitos exilados. Mal havia onde viver".

Meissner foi autorizada a deixar Ozhmegovo em 1954, quando tinha quatro anos, e a sua mãe foi autorizada a partir em 1956. Mas nunca conseguiram mudar-se porque o seu pai era o único ferreiro da cidade e as autoridades soviéticas não o deixaram partir.

Ele morreu em Ozhmegovo em 1977 e a sua mãe morreu lá em 1988, quando a cidade e a sua quinta colectiva se transformaram numa cidade fantasma que agora mal pode ser alcançada por estrada. "As únicas pessoas que lá restam são aquelas que não podem partir", diz ela.

Outros descendentes de sobreviventes de gulag estão também presos em cidades e aldeias à espera de apoio do governo. Os activistas têm procurado promover as histórias das crianças do gulag, incluindo um projecto especial chamado Back Home, patrocinado pela ONG Memorial.

O interesse de figuras públicas, incluindo Yury Dud, um dos mais populares jovens jornalistas russos, renovou o interesse público nas repressões sob a União Soviética. Dud lançou no ano passado um vídeo sobre os campos gulag em Kolyma, legendado "Birthplace of our Fear", que foi visto mais de 24m vezes.

Ao mesmo tempo, Romanov diz que houve uma queda do interesse nas repressões entre os russos mais jovens. As sondagens indicam um apoio renovado a Estaline como uma figura positiva na história russa. "Este é um capítulo traumático que está a levar muitas décadas para que os russos o processem", diz ele.

Meissner e o seu marido conseguiram deixar Ozhmegovo e mudar-se para uma cidade vizinha no final dos anos 80. Ela tem visitado Moscovo ocasionalmente, diz ela, para passar pelo apartamento que a sua família costumava possuir - não lhe era permitido entrar - e visitar um cemitério alemão onde a sua avó e os seus familiares da famosa família Ferrein estão enterrados.

Os documentos que confirmam que ela e a sua família foram reabilitados "não significam nada, apenas se recebe 50% de desconto nas suas utilidades", diz ela. Mas mesmo aos 70 anos, diz ela, ela está pronta para mudar de casa o mais depressa possível.

"Estou à espera de que vamos ganhar", diz ela. "Não quero muito que tenhamos passado por tudo isto em vão".