September 30, 2020

❤️

 




Nocturna - Clair de Lune

 






Morri a rir 😁

 



🤣 🤣

 


O caso do texto de Francisco Aguilar é mais grave do que parece

 


 O artigo que ele escreve foi aceite por um 'coordenador científico' e publicado numa revista de 'Ciências Jurídicas'. Quem lê o artigo fica estupefacto que esteja incluído numa revista 'científica' e tenha sido aceite por um 'coordenador científico' que mesmo sem pretensão de fazer um trabalho de peer review, revisão de pares, tem como função a manutação da qualidade académica e científica das publicações, melhorar a sua performance e, sobretudo, a sua credibilidade. Digo eu, porque o contrário seria impensável.

Quem lê o artigo do senhor Aguilar vê claramente que o artigo não tem nenhuma credibilidade científica: é um desarrazoado de ideias ao melhor estilo talibã, dum sectarismo muito à direita do Ventura, sem um único fundamento científico a suportar a linguagem ordinária os insultos que profere: nunca vi em lado algum que os termos que aplica indiscriminadamente às mulheres -nazis, porcas, assassinas, sociopatas, narcisistas, opiáceas, egoístas, desonestas, hipócritas, misandrícas, invejosas do pénis dos machos, destruidoras da civilização ocidental, futuras assassinas dos homens, etc., etc., sejam considerados científicos. Mas isto são conceitos científicos? O único argumento que o senhor oferece é a crença em Deus e as mulheres são julgadas com base na crença que ele tem numa entidade divina qualquer? Desde quando Deus é um argumento científico numa discussão qualquer? 

O que me parece muito grave neste caso, para além de ficarmos a saber que a Faculdade de Direito de Lisboa, que assumíamos ter dignidade e prestígio ser governada por homens que detestam mulheres e acham normal divulgar textos que denotam um machismo primário ao nível do Trump, ou pior, é os próprios pensarem que este tipo de textos têm, 'densidade cultural' e qualidade científica suficiente para serem publicados numa revista de 'Ciências Jurídicas' com um coordenador 'científico'. 

Não admira o descrédito em que andam as ciências humanas e sociais, se os indivíduos que deviam cuidar da qualidade do conhecimento são os primeiros a dar podium a pessoas e textos de crendice popular. A quantidade de vezes que já discuti com pessoas que dizem que as 'ciências humanas e sociais são só conversa de cultura geral sem objectividade ou operacionalidade' e que argumentei a favor da seriedade e objectividade do trabalho das ciências humanas e depois ficamos a saber que os decanos da faculdade são os primeiros a minar o seu próprio campo de estudo dando voz a parolos beatos sem cabeça. 

António Menezes Cordeiro, professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e diretor da revista onde o artigo foi publicado diz que este é um "texto assinado que responsabiliza apenas o seu autor" [não senhor, foi aceite numa publicação da faculdade que se arroga científica, logo quem o aceitou é responsável] e que esta é uma "revista científica de circulação estrita", com critérios definidos para a publicação de textos: " têm que ter nível científico, devem ser autênticos, originais, e ter determinada apresentação gráfica". Exigências que já levaram à recusa de "vários textos".

"Ninguém levou a sério aquela conversa, o texto tinha uma certa densidade cultural, foi interpretado como uma crítica de tipo literário a algum extremismo no setor do feminismo"

"Ninguém levou a sério aquela conversa". Isto é, o homem é um tonto que ninguém leva a sério mas os seus textos, abaixo de qualquer critério mínimo de cientificidade e reveladores de uma mente beata, sem um mínimo de objectividade, são publicados numa revista pretensamente 'científica'. 
Se calhar ainda é aconselhada aos alunos que mesmo confusos, com o nível brejeiro e carroceiro da linguagem do senhor em causa, ficam na dúvida, dado que o texto vem legitimado pelo professor catedrático que o aceitou e pôs em divulgação, mesmo que restrita.

Se o director da revista aceita este texto por ter valor e diz que já recusou outros nem quero pensar o que seriam os outros.

E se este é o nível da mentalidade dos professores que orientam os destinos da faculdade, estamos tramados em termos de futuros advogados e juízes.
"Os decanos da faculdade queixam-se que o pedido de demissão do coordenador científico por parte do ex-director é ofensivo para o grupo das 'ciências jurídicas'. Estes decanos argumentam que o "debate de ideias, quando oportuno, deve processar-se com elevação universitária..."
Porque o senhor Aguilar é mestre em 'elevação universitária'...

Nunca pensei que o nível da faculdade estivesse neste patamar. Isto é o resultado do primismo de que sofrem as nossas universidades? Metem lá os primos, amigos e amantes, em vez de seleccionarem pessoas com nível intelectual e cultural. A decadência das universidades, sobretudo as de ciências sociais e humanas, vai de vento em popa.

a-miopia-moral-da-femea-e-o-assalto-feminista-ao-estado-a-teoria-de-francisco-aguilar

Jorge Duarte Pinheiro, docente e antigo diretor da Faculdade de Direito (em 2014/2015), diz ao DN que o tipo de pensamento expresso neste texto "não é um caso isolado" na instituição. "Há aqui uma escola", embora habitualmente seja "mais subtil", diz ao DN, questionando que "magistrados e advogados vamos ter" com este tipo de formação, para mais numa universidade pública prestigiada. Duarte Pinheiro ressalva que "não se pode tomar a parte pelo todo, nem a maioria dos alunos, nem a maioria dos professores tem esta forma de pensar", mas diz que "quem tem o poder material" na Faculdade de Direito"tem um pensamento anacrónico".

Jorge Duarte Pinheiro adianta que já pediu a demissão do decano coordenador científico do Grupo de Ciências Jurídicas e diretor da revista - António Menezes Cordeiro - e voltou a insistir no pedido. "Normalmente sou ignorado", acrescenta.

A posição deste professor abriu, entretanto, um novo foco de controvérsia na Faculdade, com o grupo de decanos (os professores mais antigos da Faculdade) a emitir um comunicado em que referem que Jorge Duarte Pinheiro emitiu "dentro e fora da Faculdade de Direito de Lisboa uma série de afirmações gratuitamente ofensivas em relação ao Decano da Escola e do Grupo de Ciências Jurídicas".

"Os problemas internos da Faculdade resolvem-se nos seus órgãos próprios, democraticamente eleitos", refere o comunicado, acrescentando que o "debate de ideias, quando oportuno, deve processar-se com elevação universitária e nunca na base da intriga, da injúria ou da difamação".

Como credibilizar os anti-vacinas e os das teorias da conspiração?

 



Durão Barroso nomeado presidente da Aliança Global para as Vacinas

Durão Barroso iniciará funções como presidente do Conselho de Administração da GAVI em janeiro de 2021
Atualmente, Durão Barroso é Chairman e diretor não-executivo da Goldman Sachs International, sediada em Londres.


Tirinhas da Mafalda

 


... e uma de Nagú... Morreu o Quino...











Passeio higiénico em fim de tarde

 


Rowan Atkinson acerca da liberdade de expressão - é isto mesmo

 


"... with the reasonable and well-intentioned ambition to contain obnoxious elements in society, has created a society of an extraordinarily authoritarian and controlling nature. What you might call the new intolerance..."


Quando as pessoas pensam que estão a ser progressistas e contribuem para a decadência das democracias

 


Agora as escolas em Inglaterra estão proibidas de falar no socialismo como uma forma de organização social, com o argumento de serem teorias radicais e extremistas. Este governo, que é de direita, está a usar os mesmíssimos argumentos da esquerda para fazer proibições, só que no espectro oposto. Quando as pessoas da esquerda pedem para que se calem e impeçam de falar aqueles que defendem ideias contrárias às suas, esquecem-se que um dia são os de direita que estão no poder e usam esses mesmíssimos argumentos para calar os da esquerda. 

Este estado de coisas, que se vê na Hungria, na Inglaterra, nos EUA, no Brasil, etc. já cá chegou: Ferro Rodrigues está constantemente a tentar impedir que o Ventura possa falar, em vez de o desarmar de argumentos (porque os da esquerda só têm um argumento que é chamar fascista, o que é patético. Ainda há duas semanas o Ascenso Simão andava aos gritos a chamar fascistas a populares...) e o recente debate sobre a disciplina de cidadania, onde chegam já ao ponto de dizer, 'eu até seria de acordo se não fosse certas pessoas terem assinado o documento' - sendo que os da esquerda não percebem, e julgam que estão a ser muito avançados, que no dia em que gente da direita com elementos do género do Chega chegarem ao governo, proíbem (como agora em Inglaterra) que se ensine certas matérias com o argumento de que são da esquerda radical ou então mudam o programa à disciplina de cidadania e obrigam a que se fale da família tradicional e dos valores da sociedade portuguesa-cristã. Usando exactamente os argumentos que agora a esquerda usa que é chamar os de direita extremistas e radicais.

E tribalizaram o debate: ou estás comigo ou contra mim. Aqui no meu blogzinho, onde digo o que penso e não me identifico com valores e obediências tribais, tanto me chamam direitista radical por denunciar o espírito catequético, pseudo-avant-garde do SE, como me chamam esquerdista radical por dizer que uma das duas pessoas em que considero votar é a Marisa Matias.

Se fosse inglesa envergonhava-me da cena de tirarem o nome de Hume da torre da universidade só porque algumas pessoas negras se ofenderam de ele ser racista: que diabo, quem não era racista nesses tempos? É difícil encontrar um exemplar. Gostava de saber se essas mesmas pessoas advogam que não se homenageie indivíduos negros no caso de terem sido machistas... quem sobrava...? Quem...? 

Uma coisa é retirar estátuas de esclavagistas ou, por exemplo, no futuro, de dirigentes muçulmanos que mandam matar mulheres por serem mulheres, outra coisa é censurarem machistas ou racistas. David Hume não está a ser homenageado por ser racista, como acontece a algumas estátuas do Sul americano onde personalidades são homenageadas por terem lutado para manter a escravatura. O racismo não define Hume ao contrário do esclavagismo que é exactamente o que definia, Robert E. Lee. É preciso pensar um bocadinho e não ir logo com as catanas para cima do adversário.

A mim o racismo e o machismo parecem-me uma desinteligência mas reconheço aos outros o direito de o serem e o que tento é ter um argumento e uma maneira de ser melhores que os deles.

Hoje leio no jornal que na tropa passa a ser proibido dizer, 'porta-te como um homem' ou, 'não sejas maricas' para não ofender gays e mulheres... epá, a sério...? Não sou assim tão estúpida ao ponto de me ofender com essas coisas. Toda a linguagem está carregada de preconceitos: denegrir, mercado negro, latim de cozinha... se me pusesse aqui a enumerar eram milhares de expressões... então não era mais inteligente fazerem uma formação com os dirigentes e explicarem-lhes que certas atitudes e linguagem podem ser mal-entendidas em certos contextos e que devem pensar antes de usar? Estas coisas levam o seu tempo a desaparecer. 

Também hoje vi no jornal que vandalizaram a estátua dos soldados do ultramar em Coimbra e fiquei a saber que fizeram o mesmo ao D. Diniz. Então, nesta escreveram, 'abaixo a monarquia'... não se dão conta que vivemos em República? E na outra, 'porcos assassinos'. Então os indivíduos que foram recrutados para a guerra passaram a ser assassinos? 

O que vejo é muita intolerância própria de falta de valores democráticos a passar por progresso e iluminismo.


Schools in England told not to use material from anti-capitalist groups

Idea categorised as ‘extreme political stance’ equivalent to endorsing illegal activity.

The government has ordered schools in England not to use resources from organisations which have expressed a desire to end capitalism.


Listas dos principais problemas a resolver

 

... por ordem de prioridade. Apenas 5:

- do mundo: 

1. A questão ambiental - recursos e perda de diversidade biológica

2. A questão da desigualdade de riqueza inter e intra-países

3. O excesso de população.

4. A decadência das democracias/ascensão do autoritarismo 

5. Os direitos humanos

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- de Portugal:

1.  A questão ambiental - recursos e perda de diversidade biológica

2. A falta de população (este artigo de hoje é muito elucidativo: "Ser pai/mãe é um luxo", Miguel Pinto Luz)
3. A desigualdade de riqueza

4. A corrupção -  decadência da democracia/ascensão do autoritarismo 

5. A decadência do ensino


É caro que cada um dos problemas contém em si mesmo uma série de outros problemas. Esta listagem de problemas leva em conta as consequências imediatas de alguns problemas, como o ambiente que precedem a possibilidade de se poderem atacar os outros, mas também as consequências a longo prazo - há problemas que a longo prazo põem em causa, até soluções já encontradas para os outros problemas, como é o caso da corrupção ou da decadência do ensino.

A frase política mais interessante que li nos últimos tempos

 


Não li este artigo porque não tenho acesso ao Público de modo que não sei, nem o contexto nem o desenvolvimento desta frase mas só por si já vale a pena e até acrescentaria (se é que a jornalista não acrescentou já),  que 'a causa dos seus eleitores existirem também fica e enquanto ficar, a tendência é para que aumentem'. O problema principal aqui são as causas que levam as pessoas a votar em aldrabões e ser capaz de revertê-las ou alterá-las antes que seja tarde demais: veja-se a Húngria, a Polónia, a Turquia e por aí fora. Nós aqui tivémos o Sócrates que desmantelou o Estado de direito até onde pôde e este governo que lá está, que é constutuído, mais ou menos, pelos seus companheiros e seguidores, está a alicerçar esse desmantelamento com a ajuda do Presidente e da AR. Logo, podemos concluir que Sócrates perdeu mas que os seus eleitores cresceram e estão agora a engordar o Chega, seu sucessor natural.

Estou a ler a biografia de Salazar de Tom Gallagher e uma coisa que ele diz na Introdução é que Portugal se tornou um democracia parlamentar mas que os partidos (nestes dias) não se diferenciam muito uns dos outros a não ser na maneira de chegar ao poder, por assim dizer. Ora aí está uma das causas dos eleitores dos aldrabões permanecerem e aumentarem, apesar dos próprios caírem em desgraça.


Trump pode perder, mas os seus eleitores ficam

Maria João Marques


Bem... sou mesmo despistada em certas coisas

 


Ontem estive na Fundação e achei que estavam com um protocolo de segurança demasiado apertado para o que é costume e pensei, 'bem, estão mesmo com medo da 2ª vaga de Covid'. Afinal estava lá a PCE com o primeiro-ministro. Bem achei estranha a confusão à porta do auditório mas como vou para o outro lado não liguei nenhuma.

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A presidente da Comissão Europeia falava na Fundação Champalimaud, em Lisboa, onde ouviu, logo a seguir, o primeiro-ministro António Costa a anunciar que Portugal quer ser um dos primeiros países a acordar com a Comissão Europeia o seu Plano de Recuperação e Resiliência. O objetivo é entregar a 15 de outubro um primeiro esboço, em Bruxelas.

Leituras pela manhã - um argumento evolutivo contra a classificação da ansiedade e depressão como doenças mentais




Este artigo é um bocadinho grande mas é muito interessante - também está de acordo, globalmente, com aquilo que penso há muito tempo e talvez por isso o tenha achado tão interessante :)


A maioria dos casos de ansiedade não são uma doença mas uma resposta evolutiva à adversidade

Kristen Syme e Edward H Hagen

A psicologia fala de aflições como a depressão e a ansiedade como doenças, mas nós como biólogos antropologistas, pensamos ser um grande erro. Nós estamos treinados pensar os humanos como pensamos os chimpanzés, macacos e outros animais do planeta e reconhecemos que os humanos, tais como outros animais, evoluíram num meio que lhes põe obstáculos e desafios como a fome, a predação e a doença. A psicologia humana adaptou-se a esses desafios. No entanto, a psiquiatria tem ignorado as implicações da evolução humana na saúde mental - existe uma sub-disciplina de psiquiatria evolucionista mas sem grande influência.

Com o tempo as espécies adaptam-se ao meio através do processo de evolução natural. Todas a mutação genética cujo efeito físico ou psicológico tende a aumentar as chances de reprodução tem mais probabilidade de ser transmitida e de aumentar a sua frequência de geração em geração. Estes genes ou complexos de genes aumentam as chances de reprodução e não de bem-estar. Uma mutação genética que aumentasse a tendência para experimentar paz ou tranquilidade sem atentar nos perigos não aguentaria muito tempo no capital genético. 

Acreditamos que esse processo incessante tem muitas ramificações para a investigação em saúde mental.
Em primeiro lugar, a evolução não moldou os humanos para serem perpetuamente felizes ou livres de dor. Pelo contrário, desenvolvemos circuitos neurais de dor porque os nossos ancestrais que experimentaram dor física como resposta a ameaças ambientais foram mais capazes de escapar ou mitigar essas ameaças, superando os seus pares que não sentiram dor. Nós evoluímos para experimentar sofrimento tanto quanto evoluímos para experimentar bem-estar.

Em segundo lugar, outros membros de uma espécie são frequentemente adversários ferozes por comida, companheiros e transmissores de doenças. Para evitar adversários, muitas espécies, incluindo 70 por cento das espécies de mamíferos, são solitárias. Mas a maioria das espécies de primatas, incluindo os humanos, vivem em grupos. Os benefícios de cooperar na defesa contra predadores superaram os custos de vida em grupo, nomeadamente o conflito social. Esses conflitos sociais são fonte de muito sofrimento emocional humano ou do que a psiquiatria frequentemente vê como transtornos mentais comuns.

Em terceiro lugar, a evolução moldou o curso de vida dos primatas em fases distintas e reconhecer isso tem implicações para a compreensão de diferentes manifestações de conflito e transtorno mental. Para simplificar as coisas, a "fase juvenil" envolve o crescimento rápido do corpo e do cérebro. Durante esta fase, as mães fornecem alimento e proteção enquanto os jovens adquirem informações sobre o seu ambiente ecológico e social. À medida que os indivíduos atingem o tamanho do corpo adulto, passam por uma profunda transição fisiológica e neurológica para a fase de "adulto reprodutivo". Finalmente, após atingir a fase reprodutiva adulta, o corpo, incluindo o cérebro, começa a senescer - envelhecer. Mesmo um indivíduo que fez a transição para a fase reprodutiva adulta e conseguiu evitar predadores, agentes patogénicos e fome acabará sucumbindo à falha de um ou outro órgão crítico.

Todos os transtornos, incluindo transtornos mentais em psiquiatria, são causados ​​por mutações genéticas, falhas de funções fisiológicas devido ao envelhecimento e / ou fatores ambientais - o risco relativo de cada factor causal varia nas diferentes fases da vida. Os distúrbios causados ​​por mutações genéticas tendem, por natureza, a ser altamente hereditários; no entanto, se forem prejudiciais ao sucesso reprodutivo, prevemos que também serão relativamente raros no início da vida porque a seleção natural os terá eliminado com o tempo. Os distúrbios causados ​​pela senescência devem obviamente ser raros em idades mais jovens, mas comuns em idades mais avançadas e, também podem ser altamente hereditários. Finalmente, distúrbios causados ​​por fatores ambientais comuns, como germes, toxinas ou lesões, devem ser relativamente comuns ao longo da vida, mas não podem ser altamente hereditários. Da mesma forma, condições como dor física ou emocional, que são defesas contra os desafios ambientais, devem ser comuns ao longo da vida e não altamente herdáveis.

Para testar a lógica dessa abordagem, usámos dados de um grande estudo recente do Consórcio Brainstorm com mais de um milhão de participantes para categorizar os transtornos comuns por, idade de início, prevalência e herdabilidade. Distúrbios como a doença de Alzheimer e Parkinson (a castanho na Figura 1 abaixo), geralmente categorizados como distúrbios "neurológicos" em vez de "mentais", são esmagadoramente mais prevalecentes em adultos mais velhos (entre os quais são relativamente comuns) e, portanto, provavelmente devido a senescência. Esquizofrenia, bipolaridade e autismo (a vermelho, Fig. 1), por outro lado, são relativamente raros, altamente hereditários e iniciam-se tipicamente durante a fase juvenil ou adulta precoce, sugerindo que são causados ​​por mutações nos genes que regulam o desenvolvimento.




Figure 1: Mental health conditions by their prevalence, heritability, and age of onset. Figure from Syme and Hagen (2020)


Finalmente - e mais importante para o nosso argumento - condições como depressão, ansiedade e transtorno de stresse pós-traumático (PTSD; a azul, Fig. 1) e transtorno de déficit de atenção e hiperactividade (TDAH; a verde, Fig. 1; não discutido aqui), são, em contraste, relativamente comuns ao longo da vida. Na verdade, a depressão e a ansiedade são os principais contribuintes para o fardo dos problemas de saúde mental (ver Figura 2 abaixo). Também têm baixa herdabilidade e podem surgir em qualquer idade. Isso sugere que essas aflições são causadas, em grande parte, por factores ambientais comuns - talvez os conflitos sociais que foram endémicos ao longo da história evolutiva de nossa espécie.


Figure 2: The global disability-adjusted life years (DALYs) imposed by mental health conditions by age. DALYs are a standard measure of disease burden. Figure from Whiteford et al (2013)


Consistente com as nossas previsões, as evidências de estudos longitudinais nos Estados Unidos e na Europa indicam que a depressão maior, o PTSD e a ansiedade, seguem principalmente eventos adversos na vida, o que implica que frequentemente são uma reação ou defesa contra esses eventos. Normalmente, esses eventos adversos envolvem perdas, como a morte de um ente querido ou perda de renda e outros recursos. Outros eventos adversos comuns envolvem conflito social intenso, como agressão física e sexual, conflitos conjugais e divórcio.

Antropólogos biológicos e outros investigadores de saúde mental estenderam essas descobertas a culturas não ocidentais. Um estudo no Nepal, por exemplo, descobriu que a exposição a conflitos violentos estava associada a uma maior ansiedade subsequente numa relação, dose-resposta; enquanto isso, baixo nível socio económico e eventos stressantes não relacionados a conflitos foram associados a um risco aumentado de depressão posterior. Da mesma forma, um estudo longitudinal na Etiópia identificou a insegurança alimentar como um fator de risco para sintomas posteriores de depressão e ansiedade elevados. Em todo o mundo - das ilhas do Pacífico ao Ártico - as populações colonizadas enfrentam riscos elevados de depressão, suicídio e abuso de substâncias que vários estudos relacionam com a pobreza, perda de cultura e mudanças perturbadoras nos papéis sociais tradicionais. A nossa própria pesquisa, baseada em dados de centenas de culturas diversas do mundo, indica da mesma forma que pensamentos e comportamentos suicidas seguem os conflitos sociais, como casamentos forçados, abuso e perda de status.

Em diversas culturas, as pessoas que procuram os serviços de xamãs e outros curandeiros locais costumam queixar-se de problemas somáticos, como dor física e fraqueza, mas é revelador que em muitos casos estão lidando com stresse social e mostrando sinais clássicos do que a psiquiatria ocidental veria como ansiedade e depressão. Nos cultos de transe e possessão do Norte da África e do Oriente Médio, como Zär no Sudão e Stambali na Tunísia, mulheres e homens de baixo status social sofrendo de stresse social - incluindo conflitos com esposas ou pais - exibem sintomas somáticos e depressivos que são interpretados como possessões. O padrão em toda essa variada pesquisa global é o mesmo: experiências emocionais difíceis, patologizadas pela psiquiatria ocidental tendem a ocorrer como resposta a stressores ambientais que ameaçam a capacidade de sobreviver e se reproduzir.

Do ponto de vista evolutivo, é lógico que as pessoas exibam hoje fortes respostas emocionais negativas a formas de adversidade que eram comuns durante a nossa história evolutiva, como perda de status, morte de parceiros sociais e ataque físico. Para sobreviver, reproduzir-se e transmitir os seus genes, os organismos devem responder de forma adaptativa a ambientes perigosos, geralmente escapando deles e aprendendo a evitá-los. Em muitos animais, são as emoções que orientam os comportamentos. Medo, ansiedade, tristeza e desânimo são formas de dor psicológica que provavelmente têm funções análogas à dor física - informando ao organismo que está sofrendo danos, ajudando-o a escapar ou mitigando danos e estimulando-o a aprender a evitar danos semelhantes. A dor psicológica, como a dor física, provavelmente evoluiu por seleção natural e portanto, em muitos ou na maioria dos casos, não é uma doença.

Argumentos contra o "modelo de doença" da depressão e da ansiedade, como o nosso, muitas vezes são recebidos com hostilidade ou consternação. Os defensores do modelo de doença argumentam que a sua abordagem reduz o estigma ao mostrar que a pessoa não é culpada e ao transmitir a gravidade da sua condição; consideram que os modelos alternativos colocam a culpa no sofredor. Mas, na verdade, as evidências mostram que as explicações biológicas das doenças mentais não reduziram o estigma. Em vez disso, o que a perspectiva da doença fez foi distrair-nos de falar sobre a fonte da maior parte da angústia mental: a adversidade, muitas vezes causada por conflitos com outras pessoas poderosas ou valiosas, como patrões, companheiros e parentes.

Existem vozes proeminentes na psiquiatria que compartilharam as nossas preocupações. Por exemplo, o psiquiatra americano Robert Spitzer, presidente da task-force DSM-III (o órgão encarregado de compilar a versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais publicado na década de 1980), escreveu sobre as suas preocupações de que os critérios diagnósticos para humor, os transtornos, resultaram num número substancial de 'falsos positivos': isto é, indivíduos saudáveis ​​que estão respondendo normalmente a conflitos e perdas, mas que são inadequadamente diagnosticados com um transtorno mental. Allen Frances, presidente da última task-force do DSM-IV, também chamou a atenção de que o DSM cada vez mais medicaliza as reações emocionais normais aos eventos da vida.

Globalmente, a depressão é o maior contribuinte, de longe, para o fardo da "doença" mental. Se a nossa hipótese de que a depressão é uma defesa adaptativa evoluída, for verdadeira, ela não oferece muita esperança de uma "solução rápida" ou cura médica. A nossa linhagem ancestral tem enfrentado adversidades desde antes do amanhecer do Homo sapiens. É verdade que o conhecimento científico moderno reduziu drasticamente algumas formas de adversidade, como a morte de crianças. Além disso, a melhoria das normas sociais, preconizada pelos movimentos MeToo e Black Lives Matter, pode reduzir as adversidades causadas por abusos de poder. Mas a realidade é que algumas adversidades são uma parte inevitável da vida humana, causadas por conflitos de interesse intratáveis. Se uma pessoa abandona o seu parceiro romântico por outro, por exemplo, isso é para seu benefício e prejuízo para seu ex-parceiro. Não há como, pelo menos no curto prazo, tornar isso melhor para o parceiro abandonado; nem existe uma maneira prática ou justa de evitar que tais conflitos ocorram.

Nas sociedades tradicionais, os curandeiros ajudam a resolver o sofrimento psicológico resolvendo conflitos sociais, em vez de tratar "distúrbios mentais". Acreditamos que a sabedoria da sua abordagem é apoiada pela teoria da evolução e uma riqueza de dados antropológicos. Só porque a dor psicológica é desagradável para si mesmo e para os outros, isso não a torna uma doença e não devemos procurar, em primeira instância, amenizá-la com drogas ou outras intervenções médicas. Em vez disso, devemos olhar para as raízes sociais da adversidade - para as desigualdades, injustiças e o egoísmo individual - e considerar se, e como, podemos aproveitar a angústia mental para ajudar a mudar para melhor, nós mesmos, a nossa vida e a vida de outras pessoas.

(tradução minha)

September 29, 2020

E no entanto, tanto...

 




Emily Dickinson, POEMAS ENVELOPE, tradução de Mariana Pintos dos Santos e Rui Pires Cabral, Edições do Saguão

A kind of peace

 


photo by Volker Birch



2016 - estava tudo dito

 


Trump em 6 linhas:

1. Herda dinheiro do pai milionário - não paga impostos

2. Estampa o dinheiro todo 

3. Consegue um programa em que faz de bilionário - não paga impostos

4. Aparece cheio de milhões ninguém sabe de onde. Quando lhe perguntam o filho diz que os russos têm muito dinheiro para emprestar - não paga impostos

5. Concorre a Presidente para aumentar a rede de negócios. Não está à espera de ser eleito. É eleito - não paga impostos.





"In terms of high-end product influx into the US, Russians make up a pretty disproportionate cross-section of a lot of our assets," Donald Trump Jr. said at a New York real-estate conference that year. "Say, in Dubai, and certainly with our project in SoHo, and anywhere in New York. We see a lot of money pouring in from Russia."

Hoje em dia encomenda-se tudo pela internet...




 


imagem da net

Por falar em bárbaros... notícias da erdogânia




Erdogan acha-se o Putin da região.


Time to end 'occupation' of Nagorno-Karabakh, Turkish leader Erdogan tells Armenia as border clashes with Azerbaijan continue

Peace will be achieved in Nagorno-Karabakh only if Armenia ends its "occupation" and vacates the inherently "Azerbaijani land," Turkish President Recep Tayyip Erdogan has declared as fighting over the disputed region continues.

"The crisis in the region that started with the occupation of Karabakh must be put to an end," Erdogan said in Istanbul on Monday. Calling it "Azerbaijani land," the Turkish leader suggested the region "will regain peace and serenity" once Armenians abandon it.



A propósito das interpretações acerca da queda do Império Romano

 


Afinal quem são os bárbaros? E o que é que as interpretações dizem de nós?


Ondas de obscurantismo

 



Sotoudeh e Maryam Lee : duas mulheres entre o véu e a morte

Par Martine Gozlan



A iraniana Nasrin Sotoudeh e a malaia Maryam Lee arriscam a vida por terem contestado o uso obrigatório do véu, ao mesmo tempo que, em França, a onda de obscurantismo ameaça o laicismo e os direitos das mulheres: a sua história devia fazer reflectir.

Duas mulheres que nunca se encontraram partilham o mesmo destino a 6000 km uma da outra: a recusa do véu islâmico e as ameaças de morte. A primeira, Nasrin Sotoudeh, 57 anos, tem o rosto emaciado pelos 45 dias de greve de fome e pelas condições da prisão de Evine, próximo de Teerão. Encarcerada várias vezes desde 2010 por ousar defender os direitos das mulheres e das crianças, Nasrin tornou-se o símbolo da inumanidade do regime dos mollahs. Depois de ter assumido a defesa de uma mulher que recusava usar o véu islâmico voltou a ser encarcerada e condenada a 12 anos de cadeia por "incentivar ao deboche".

A segunda, Maryam Lee, 28 anos, vive na Malásia. Em 2017 decidiu retirar o véu que trazia desde os 9 anos de idade. No seu país, maioritariamente muçulmano o 'tudung', como chamam a esse pedaço de pano que tanto sangue faz correr não é obrigatório mas, a pressão social por parte dos muçulmanos é tal que o adoptaram. No seu livro, 'As escolhas desveladas' ela conta como tomou consciência que descobrir os cabelos e a face não era um pecado. Desencadeou a fúria do ministro dos assuntos religiosos que abriu imediatamente um inquérito sobre ela. O resultado são milhares de ameaças de morte nas redes sociais e nas mesquitas.

« Mesmo sem justificações legais as mulheres são consideradas criminosas se quiserem tirar o véu e presas por atentado contra a sociedade.» explica Maryam Lee à l’AFP. A Malásia tem mais de 60% de muçulmanos. Os casamentos entre muçulmanos e não muçulmanos é estritamente interdito. O primeiro-ministro é um dos dirigentes mais anti-semitas do mundo. Tudo está ligado: a exclusão das mulheres e a cultura de mentira e ódio.

Ambas as mulheres, uma na teocracia dos mollahs xiitas, a outra na monarquia parlamentar onde o islão sunita dita os comportamentos, são reféns de um sistema judiciário e mental que faz do véu o sinal supremo da adesão ao islão e da sua rejeição uma prova de traição que merece a flagelação -Nasrin foi condenada a 148 chicotadas- ou a morte.

Estes dois dramas são apenas mais um episódio da sinistra saga do véus islâmico. Um trapo reivindicado há 40 anos, em todas as terras muçulmanas como o estandarte do islão político. Entretanto em França todo o franzir de sobrolho face à instrumentalização deste emblema é acusado de islamofóbico por parte de certas pseudo-feministas - melhor era que olhassem as vidas martirizadas das mulheres em Teerão e Kuala-Lumpur.

(tradução minha)

O que é que o reitor de uma universidade sabe de escolas?

 


... para dizer uma coisa destas? Nem sequer percebe o que são adolescentes, para já não falar de crianças. Mesmo dentro das salas têm dificuldade em não tocar uns nos outros, emprestar material, tossir e espirrar, etc., mas assim que chegam aos intervalos, tiram selfies, partilham sandes, cremes, telemóveis, empurram-se, abraçam-se. Depois, as escolas já têm professores com covid mais do que se fala nas notícias. E isto tendo em conta que há escolas, onde os professores, depois de dar as aulas vão para os corredores e pátios fazer o trabalho dos funcionários que não existem, durante 5, 6 ou mais horas atribuídas no horário e espera-se que andem a separar alunos, que é para aumentar ainda mais as possibilidades de apanharem o vírus.

Portanto, dizer que os maiores riscos estão fora das escolas, só se está a falar da festa de Fátima e da festa do Avante, mas bem, isso é pôr a fasquia no ponto mais alto.

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Mais ainda se compararmos as escolas com grandes superfícies comerciais, espaços de diversão ou mesmo a via pública. São comuns os ajuntamentos potencialmente propagadores do vírus em locais sem o controlo sanitário e as regras de higiene das escolas. Em ambiente escolar, há maiores garantias de proteção facial, higienização das mãos e distanciamento físico - regras muitas vezes descuradas em convívio fora dos estabelecimentos de ensino.

~António de Sousa Pereira, Reitor da Universidade do Porto - Maiores riscos estão fora das escolas

Portugal por aí

 


Algures no Minho.



Foto: Jorge Couto

September 28, 2020

A estratégia Nacional de Combate à Corrupção

 


É uma iniciativa positiva, mas tardia, ao ponto de não sabermos se agora poderá ter algum efeito: é que as pessoas que coordenam e desenvolvem a estratégia são as mesmas que já estão envolvidas, directa ou indirectamente, em muito casos de corrupção ou, pelo menos, dúbios, pois infelizmente chegámos a um ponto, neste país, em que não são apenas alguns políticos e alguns banqueiros e algum pessoal da administração pública que prevaricam, mas toda a máquina do Estado desde o poder nacional ao local está infectada de casos de que se fala constantemente sem que haja responsáveis a serem, efectivamente, julgados e punidos. Pior, essa mancha já chegou ao próprio fundamento que garante a manutenção do Estado de Direito que são os juízes.

Quando as batatas começam a deitar um cheiro que já não se consegue disfarçar é porque estão completamente podres. Ora, a justiça já deita um cheiro nauseabundo que vem da impunidade de redes de políticos que se cruzam com juízes, banqueiros, tipos da bola e outros.

A estratégia de combate à corrupção tem de passar por atribuir meios e recursos a entidades/pessoas independentes para levarem os casos até ao fim. Permitir que 'Ruis Pintos' não tenham medo de falar e de denunciar. Impedir o castigo e a vingança dos denunciantes. Não sendo assim, esta estratégia só vai servir para se cobrir com um véu de legitimidade (tendo passado aparentemente incólumes pelo crivo da estratégia) as pessoas que deviam estar a ser investigadas.

A Assembleia da República e o Presidente não estão a fazer o seu trabalho. É preciso melhorar e tornar transparente o trabalho dos orgãos de soberania: sabermos quem é quem, quem trabalha para quem e o que andam a fazer. A Assembleia da República, que tem políticos sérios, como diz António Barreto, tem de ter a coragem de dar mais voz e poder à população, não menos - seja que mudem o sistema de eleição de deputados ou o modo de trabalho ou que criem canais de representatividade. Não se pode aceitar que pessoas que cometem crimes continuem no Parlamento a legislar. 

E os juízes sérios têm que tomar posição e intervir. São orgãos de soberania, não podem comportar-se como amanuenses.




Right

 


 Truth or Dare (2018)



#SaveEarthAlliance - 1º passo - evitar o que é fácil de evitar


 




















Sometimes

 



Sometimes (September 1904)

Sometimes, when a bird calls,
Or a wind moves through the brush,
Or a dog barks in a distant farmyard,
I must listen a long time, and hush.

My soul flies back to where,
Before a thousand forgotten years begin,
The bird and the waving wind
Were like me, and were my kin.

My soul becomes a tree, an animal,
A cloud woven across the sky.
Changed and unfamiliar it turns back
And questions me. How shall I reply?

Hermann Hesse
tradução: Anne E.G. Nydam




imagem Pinterest
via Akademisches Lektorat


Ici c'est la même chose

 



On mesure l'abrutissement général au peu d'intérêt pour la question éducative. En quelques années, le niveau à l'écrit s'est effondré et on en rajoute une couche avec le "grand oral". Les citoyens ne savent pas à quel point le mensonge médiatique est profond sur ce sujet.

Citação deste dia

 



"Totalitarianism in power invariably replaces all first-rate talents, regardless of their sympathies, with those crackpots and fools whose lack of intelligence and creativity is still the best guarantee of their loyalty." — Hannah Arendt

Poesia pela manhã

 


Anselm Kiefer


(...)
Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.
Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas pequenas.
Verdade, não me dê excessiva atenção.
Seriedade, me mostre magnanimidade.
Ature, segredo do ser, se eu puxo os fios das suas vestes.
Não me acuse, alma, por tê-la raramente.
Me desculpe tudo, por não estar em toda parte.
Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada uma.
Sei que, enquanto viver, nada me justifica
já que barro o caminho para mim mesma.
Não me julgues má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas,
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.

Sob uma estrela pequenina | de Wisława Szymborska ( rodrigomocz)


September 27, 2020

Esta frase encerra toda uma política



Este ano, dado os exames terem sido feitos à balda por causa do Covid-19, entraram dezenas de milhar de alunos para o ensino superior. O ministro sabe disso, tanto que vem a terreiro dizer que é preciso ter menos abandono, ou seja, ele sabe que estas entradas são fictícias e que o mais certo é os alunos não passarem do 1º ano. Então vem avisar os professores que não quer 'abandonos', ou seja, não quer chumbos, porque dificilmente terão outra oportunidade de relaxamento como esta para enfiarem um canudo na mão de milhares de jovens. 

Esta frase encerra toda uma política: as universidades servem, ou para dar certificados ou para se construir uma rede de 'ligações perigosas' com vista à Dona Cunha. As universidades, pese embora sempre tenham tido redes de cunhas, eram, acima de tudo, instituições onde se avançava no conhecimento. Agora são uma espécie de fronteiras onde se carimba um passaporte.

Não admira que nas escolas já comecem a substituir o trabalho sério sobre o conhecimento por disciplinas de catequese embuçada. De facto, se é tudo um embuste, para quê ter professores que trabalhem os assuntos no contexto dos conhecimentos se podemos ter um único mestre-escola a proselitar sobre tudo e mais um par de botas?


“Hoje temos mais estudantes, no próximo ano temos que ter menos abandono”

O Governo estima que cerca de 95 mil estudantes entrem no ensino superior este ano, conjugando todas as vias de acesso, tanto no ensino público como no privado. É “uma oportunidade única” para qualificar os mais jovens, defende o ministro Manuel Heitor.


Como se faz um pincel?

 


Os Pincéis de Raphaël. Desde 1793 a fazer pincéis. Infelizmente o vídeo tem música e não nos deixa ouvir os ruídos próprios da profissão que a artesã ouve ao trabalhar. Há qualquer coisa de alienante na repetição dos gestos mecânicos que deixa a mente liberta para vaguear e há qualquer coisa de imediatamente gratificante na completude do trabalho realizado. 

O trabalho da educação não tem, nem essa faceta alienante dos gestos repetidos que deixam a mente vaguear, nem o prémio da gratificação imediata de termos feito um trabalho bem feito, pois os seus efeitos na pessoa só mais tarde se verificam. Ou não. 
Mesmo quando vemos a pessoa mais tarde não podemos inferir que há uma relação directa entre o nosso trabalho e o que a pessoa é ou se tornou (a não ser em casos em que sabemos que tivémos um muito grande impacto na pessoa), seja no sentido positivo ou negativo. 
Bem, hoje-em-dia, graças às redes sociais continuamos em contacto com muitos alunos que doutro modo nunca mais veríamos e isso dá alguma satisfação, quer dizer, as pessoas lembrarem-se de nós positivamente, mas isso não é igual à satisfação de um trabalho bem feito. Nesse campo estamos, cada um de nós, sozinhos e só contamos com a nossa consciência e honestidade intelectual.

Há uma grande satisfação reconfortante em observarmos uma pessoa que é boa no seu trabalho a fazê-lo: a mestria dos gestos, o domínio dos processos, a confiança que exala da pessoa e que se encaixa perfeitamente no que faz e como o faz, como a mão e o martelo que se encaixam e se pressupõem mútua e perfeitamente (seguindo Heidegger).


Um dose de alienação diária?




Porque é que Wittgenstein lia apaixonada e obsessivamente policiais americanos? Várias razões, como se diz aqui neste longo artigo (uma delas porque o inspiravam negativamente) que não me apetece traduzir, justamente por ser muito longo. Também ia ao cinema ver filmes de cordel, para desanuviar a cabeça. 


He’s 52 years old, small and thin, not to say frail. He writes in a letter that sometimes after work he can “hardly move.”

Wittgenstein’s time at Guy’s Hospital is an especially lonely period in a lonely life. Socially awkward in the extreme, he does not endear himself to his coworkers. 
...
SEPTEMBER 24, 202- 0

Iniciativas positivas

 



Tudo o que possa fazer-se para sair deste 'mesmismo' sem debate e sem participação da população é bem-vindo. E já que os políticos em exercício não fazem a sua parte e tentam, sempre que podem, fechar os canais de participação da população, a população que abre brechas no muro e os obriga a ouvir, tem mérito.


Personalidades criam associação para debater problemas dos portugueses

Esta associação, que nasceu devido à falta de participação cívica dos portugueses, tem como objetivo "a reflexão, elaboração de estudos e a promoção de debates que contribuam para reforçar a sociedade civil portuguesa para uma maior intervenção desta junto dos poderes públicos sobre temas que tenham a ver com desígnios nacionais".

Na conferência de imprensa de apresentação da associação, Vítor Ramalho sublinhou que os portugueses "estão arredados da participação", como foi o caso da alta taxa de abstenção nas eleições legislativas de outubro de 2019 (45,5%).

"Preocupados com o crescente abstencionismo nas eleições que sobe de eleição para eleição e atinge patamares que não é aceitável quando se exige participação", disse, para justificar a criação desta associação.

A primeira iniciativa da associação vai acontecer a 05 de outubro, na Fundação Calouste Gulbenkian, com o debate subordinado ao tema "Portugal -- que prioridades para o futuro?" e que tem como um dos oradores António Costa Silva.

Vítor Ramalho afirmou que este é o primeiro debate, mas vão acontecer outros sobre defesa, justiça, economia e educação.

Outro dos fundadores da associação, Ricardo Paes Mamede, economista e professor no ISCTE, sublinhou que "há uma falta muito grande de debate estratégico em Portugal" e "uma grande fragilidade do aparelho do Estado para conduzir esse mesmo debate".

"Assistimos isso nos últimos meses. O país perante a necessidade de fazer um esforço de utilização de fundos estruturais, como nunca se viu, sente-se mal preparado para o fazer e sente-se inseguro em relação a essa necessidade. Isto reflete um país que está mal preparado para enfrentar o futuro, está mal preparado ao nível do aparelho do Estado, mas também se tem revelado ao nível do debate público e ao nível da participação dos cidadãos", sublinhou.

O docente universitário explicou que as pessoas se juntaram em torno deste projeto para contribuíram para um debate com questões sobre o futuro coletivo da sociedade portuguesa nas várias áreas.

Segundo Ricardo Paes Mamede, os partidos políticos não se sentem muitas vezes vocacionados para fazer estes debates, porque "não têm retornos eleitorais no curto prazo, mas são decisivos para o futuro".

Vitor Ramalho recusou ainda a ideia de que esta associação poderá transformar-se num partido político no futuro.

Andava aqui à procura de uma explicação do termo 'Sublation' 😁




To sublate traduz, em inglês, um termo alemão fundamental em Hegel e que tem vários significados aparentemente contraditórios: "levantar", "cancelar", "suspender", "abolir", "preservar", "transcender". Fui dar com isto:


Slavoj Žižek - On G.W.F. Hegel
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Slavoj Žižek - On G.W.F. Hegel
9.08.49

Slavoj Žižek - On G.W.F. Hegel




Pax Rússia - Putin foi nomeado para o prémio Nobel da paz

 


Terá sido Trump que o nomeou enquanto ele nomeava Trump, que também foi nomeado?



Ou foi pelo sorriso?



Acerca da importância dos fungos no ecossistema

 




"Fungi Can Teach Us a New Way of Looking at the World"

Fungi's role in our world has been vastly underestimated, says biologist Merlin Sheldrake. They can even make decisions, just like us.
Interview Conducted by Rafaela von Bredow und Johann Grolle

Sheldrake: Fungi are of enormous importance. The basic principle of ecology is the relationships between organisms - and fungi form connections between organisms and so embody this idea.

DER SPIEGEL: If fungi are so important, why don’t we see them all over the place?


Sheldrake: Oh, fungi are everywhere. Just take this leaf: Between tens and hundreds of species of fungi live on and in it. No plant has ever been found in nature which does not have fungi in its leaves and in its shoots. Or take the roots of the grass we are walking on, the rotting twigs, the soil under our feet: There are fungi everywhere. You have yeast all over your body, in the lining of your ears, in your nostrils. Even in the air: At this moment, you are breathing fungi. Fifty million tons of fungal spores are floating in the atmosphere, the largest source of living particles in the air. And they change the weather by causing water droplets to form.
...
DER SPIEGEL: Have you personally tried the effects of psychedelic mushrooms?

Sheldrake: Yes, under their influence I realized that most of my consciousness was unknown to me. It was as if I had spent my life in a garden until then, and now I suddenly discovered that this garden has a gate through which I can enter a strange and wonderful forest, that was largely unknown to me.
...
Sheldrake: Fungi are quite active. Take hunting, for example.

DER SPIEGEL: Excuse me? Mushrooms can hunt?

Sheldrake: Yes. When food becomes scarce, some fungi can switch to a hunting mode. They build traps consisting of sticky loops or poisonous droplets. And with special substances, they lure nematodes into these traps.
...
DER SPIEGEL: We are ecosystems?

Sheldrake: Yes, very complex networks. This message from the world of fungi changes the entirety of biology.

DER SPIEGEL: Has it changed you too?

Sheldrake: Yes, I look at the world differently. I have realized that the idea of the individual as a biological unit is in question. The individual is not a clear, clean category. It's more of an assumption than a fact.

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Um autêntico gorro de Inverno