November 30, 2019

A touch of blue




Aini Tolonen

Os psiquiatras a fazer o trabalho dos políticos




A ministra da Saúde, Marta Temido, avançou hoje que o Orçamento do Estado para 2020 irá ter um “reforço claro” na saúde mental, reconhecendo a existência de um “bom programa nacional” com necessidade de ser implementado.


Os estudos mostram que há uma ligação entre as condições sociais de vida e a doença mental. Setúbal, por exemplo, é o distrito do país com maior incidência de doenças mentais. É também o distrito mais pobre. A vida demente das pessoas em trabalhos com condições deprimentes atira-os para situações de cansaço extremo e dificuldade em gerir a vida de modo equilibrado, o que por sua vez atinge os filhos, danos colaterais de uma vida vivida no limite das forças físicas e mentais. Compensam com a bebida, com a droga... 
Os miúdos vão para as escolas compensar os desequilíbrios das famílias e acabam medicados, seja por perturbarem a normalização do ambiente e serem diagnosticos com síndrome de hiperactividade, seja por não aguentarem a pressão do sucesso e viverem vidas de ansiedade constante. Depois encaminham-se para os psiquiatras para que lhes diagnostiquem depressões que não têm -pois o que têm é tristeza e a frustração de não conseguirem adaptar-se a um sistema de louca competição-, para os mediquem de maneira a conseguirem sobreviver num sistema social doentio. Eles e os pais.
É claro que, se os políticos fizessem o seu trabalho, melhoravam as condições de vida das pessoas e os serviços públicos de apoio às famílias: a saúde, a educação, a assistência social.
Do que as pessoas precisam, em primeiro lugar, é de uma vida decente que não seja só trabalho, casa, trabalho, em condições execráveis e a ganhar tão mal que precisam de dois empregos para alimentar a família. Mas como os políticos não fazem o seu trabalho, são os psiquiatras e os psicoterapeutas quem acaba por remediar essa falha. Não resolvem a vida das pessoas mas medicam-nas para que consigam produzir num sistema que fomenta a patologia mental.

Livros - Philosophy for Life: And other dangerous situations





“Socrates declared that it’s our responsibility to take “care of our souls,” and this is what philosophy teaches us the art of psychotherapy, which comes from the Greek for “taking care of the soul.” It’s up to us to examine our souls and choose which beliefs and values are reasonable and which are toxic. In this sense, philosophy is a form of medicine we can practice on ourselves.


The first-century roman statesman and philosopher Marcus Tulles Cicero wrote: "There is, I assure you, a medical art for the soul. It is philosophy whose aid not to be sought, as in bodily deseases, from outside ourselves. We must endeavour with all our resources and strength to became capable of doctoring ourselves."

Jules Evans in Philosophy for Life: And other dangerous situations




"A thing of beauty is a joy for ever", Endymion, Keats





Os pequenos partidos e os seus protagonistas




Podemos dizer dos partidos o que Montesquieu dizia dos países: quando surgem são sustentados, em primeiro lugar, por uma sucessão de líderes excepcionais; depois pela fortaleza e justiça das suas instituições.

Isto explica porque é que há países que desaparecem -a corrupção corrói-lhes as instituições que os haviam de sustentar-, porque é que alguns partidos nunca passam de uma promessa e morrem antes de crescer -falta-lhes os líderes excepcionais- e porque é que outros que cresceram não se sustêm e desaparecem à primeira grande crise -não se enraizaram em instituições fortes e justas.

In praise of poetry - Rain





"Rain" 


Suddenly this defeat.
This rain.
The blues gone gray
And the browns gone gray
And yellow
A terrible amber.
In the cold streets
Your warm body.
In whatever room
Your warm body.
Among all the people
Your absence
The people who are always
Not you.

I have been easy with trees
Too long.
Too familiar with mountains.
Joy has been a habit.
Now
Suddenly
This rain.


by Jack Gilbert (1925–2012)































Adrian Borda

November 29, 2019

O que gosto nesta pintura?




A luz. Os contornos. A pressão dos contornos. Não é um corpo real, quer dizer, excepto o cabelo na cabeça é um corpo sem pelos. E sem poros. Uma espécie de golfinho. É estranho. Mas é isso que atrai o olhar. Parece mais a memória de um corpo que o próprio corpo.


Angela Reilly

A instrução de um processo não serve para ver se há matéria para ir a julgamento? Mas ainda há dúvidas...? Quantos cofres vão ser precisos...?





carlos-anjos
prendam-os-jornalistas
Nos últimos dias, no âmbito do chamado Processo Marquês, houve duas declarações que me deixaram perplexo; Assim, o Dr. Carlos Pinto de Abreu, à porta do Tribunal de Instrução Criminal, terá pedido a detenção dos jornalistas, que publicitavam as declarações de Carlos Santos Silva.

Quase em simultâneo, também o Dr. Pedro Delille criticava a publicitação do interrogatório de José Sócrates. Caramba, como é isto possível? É que na sala, além do arguido, do juiz e do procurador, só estavam os advogados de todos os arguidos. Também é verdade que o juiz Ivo Rosa chegou a retirar os telemóveis aos presentes na sala, para evitar a fuga de informações.

Será que afinal os violadores do segredo de justiça, contrariamente ao que seria de esperar, não são os polícias ou os magistrados do MP, mas sim os advogados. Não acredito. Os advogados estão acima de toda e qualquer suspeita, sendo que penso mesmo que seriam incapazes de alguma vez passarem informação a um qualquer jornalista.

Cá para mim, os malandros dos jornalistas puseram a sala de audiência sob escuta, e enquanto o juiz Ivo Rosa aperta com os arguidos, eles estão numa sala de um dos edifícios vizinhos a ouvir tudo o que se passa lá dentro. Daí o pedido de prisão para os mensageiros, oh desculpem, para os criminosos dos jornalistas.

Hoje não há aulas na minha escola devido à greve dos funcionários




Dantes (na era pré-Rodrigues e pré-troika), a escola era mais pequena (antes das obras) mas tinha mais de 40 funcionários e não costumava fechar nestas greves ou só fechava um bloco, por exemplo, porque mesmo que uma dúzia de funcionários fizesse greve, ainda sobravam bastantes. Só que agora uma dúzia é a totalidade de funcionários que temos para a escola toda.
Hoje tinha um teste marcado a uma turma, o que é uma chatice dado que estamos no fim do período e a turma tem outros testes/actvividades marcadas. Enfim, aproveitámos para fazer outros trabalhos de DT.

Nesta irracionalidade quem se trama é o perú...




Nos EUA celebraram ontem o Thanksgiving Day. Esse é o dia em que juntam a família para agradecer a Deus o que têm. Hoje é a Black Friday, o dia em que vão desembestados para as lojas gastar o dinheiro em excessos que não precisam.


dia 28










dia 29


Joana Mortágua, essa revolucionária de gabinete, grande especialista em educação, culpa os professores pelos chumbos. Que original...




... e vem dizer-nos que em Portugal se chumba porque os professores (já que somos nós quem damos as notas) têm uma cultura de retenção. Pois claro, nós até temos umas cadeiras no estágio onde fazem a apologia do chumbo e nos ensinam como chumbar alunos.

Esta revolucionária de rabo sentado no gabinete, que assinou de cruz todos os decretos de desinvestimento que o seu companheiro de geringonça decidiu, tanto para a educação como para a saúde, vem agora culpar outros de não ter feito o seu trabalho e ter sido cúmplice do abandono em que as famílias são deixadas para engordar a banca e os amigos (sendo a condição social a principal causa do insucesso escolar, como todos os documentos nacionais e internacionais mostram à exaustão) e a educação também.



Chumbar ou não chumbar?

Porque se chumba tanto em Portugal? Porque o verdadeiro facilitismo reside numa cultura de retenção que liberta o sistema da difícil tarefa de elevar os alunos mais desafiantes. Essa conclusão é repetida há anos pelo CNE, desde os tempos em que David Justino era presidente. É também um alerta constante de todas as instituições internacionais, incluindo a OCDE e a Comissão Europeia (Eurydice), para quem “não basta a alteração da legislação em matéria de retenção para mudar esta convicção, que deve ser suplantada por uma abordagem alternativa para responder às dificuldades de aprendizagem dos alunos”.

O Patinhas e os metralhas, AKA, Sócrates, a mãe, o amigo, o outro amigo, o irmão, a Fava, as amantes, os amigos da política que ainda nos governam...




... é um circo e nós somos os palhaços que pagamos isto tudo.
Todos os dias aparecem cofre com milhões de euros e vemos que estas pessoas vivem para esbulhar o próximo em proveito próprio. E nem sequer têm grande pudor em escondê-lo. Aparecem com as mentiras mais infantis que se possa crer. Lê-se e não se acredita. No entanto, é a verdade que fomos governados por estes indivíduos. É verdade que enquanto o amigo Sócrates governou não podíamos dizer o [já então e não apenas agora] óbvio sobre o indivíduo sem que fossemos logo apelidados de perigosos direitistas. E também é verdade que somos governados pelos amigos do homem dos cofres, os mesmos que se sentavam com ele na mesa do conselho de ministros, mais os seus secretários de Estado, os mesmos que se sentavam com ele nos almoços e jantares que oferecia com os milhões dos cofres recheados. Os mesmos que faziam as negociatas em seu nome e o defendiam como cães aos donos. Só quem não quer ver não vê.


São pelo menos quatro os cofres que guardavam o dinheiro dos arguidos do processo Marquês. Sócrates tinha dois; Santos Silva outros dois. (CM)

O ex-primeiro-ministro tinha um no BPI e outro, que era da tia-avó, onde a mãe guardou a herança do pai; Santos Silva, por seu turno, disse na quarta-feira que tinha um cofre para guardar as luvas que recebia ‘por baixo da mesa’: Esta quinta-feira revelou que tinha outro, desta vez para guardar o dinheiro que precisava para fazer lóbi. Esse estava em casa de Gonçalo Trindade Ferreira, advogado, e esta quinta-feira o amigo de Sócrates revelou que servia para que quando se encontrasse fora do País pudessem ser feitos pagamentos a lobistas.


Sobre a casa de Paris, o discurso de Santos Silva foi o esperado. Disse que a casa era sua e que a emprestou ao ex-governante. O mesmo respondeu sobre o dinheiro que frequentemente fazia chegar a Sócrates: também eram empréstimos, no quadro da amizade "fraterna".

Quando o juiz o confrontou com vários negócios das suas empresas, Santos Silva foi respondendo "não me lembro, não sei". O empresário explicou ainda que era frequente andar com muito dinheiro vivo, mas que isso sempre foi uma prática corrente dos construtores civis. Tal como os cofres.

23 milhões na Suíça
Santos Silva garantiu que Sócrates não sabia que ele tinha repatriado 23 milhões da Suíça, ao abrigo do RERT II, um programa do governo de Sócrates.



November 28, 2019

Nocturna - Salvador Bacarisse - Romanza for guitar and orchestra














AC/DC




AC - Antes dos Chocolates
















DC - Depois dos Chocolates

In praise of poetry III




Up from the wayside damp and cold
Cut of the early Kansas mold
Blossomed the sunflowers, green and gold,

Lottie Brown Allen




























GianCarlo Stigliano

In praise of poetry II




imagine
satin and lace
and slowing the pace
D.L.C.


Elisa Rossi

In praise of poetry




To the Muses

Whether in heaven ye wander fair,
Or the green corners of the earth,
Or the blue regions of the air,
Where the melodious winds have birth;
Whether on crystal rocks ye rove,
Beneath the bosom of the sea
Wand'ring in many a coral grove,
Fair Nine, forsaking Poetry!

- William Blake (born today in 1757)


O afundamento da civilização já começou e as rebeliões são o seu sintoma e podem ser o seu antídoto salutar





Enfrentamos, hoje-em-dia, dois perigos mortais: a transformação da Terra numa fornalha e a violência dos Estados ineficazes para lhe fazer face.
O aquecimento climático já começou. O lago Tchad está praticamente seco e o Sahara avança 600 metros todos os anos. Os ciclones estão cada vez mais violentos, as tempestades tornaram-se um hábito em França e o Reno, com a sua falta de água já não é uma auto-estrada fluvial da economia europeia.

A inacção dos Estados ao mesmo tempo que o seu zelo em cumprir todas as exigências de um capitalismo destrutivo e é cada vez mais evidente e insuportável. Dizer que a justiça social e a justiça climáticas estão ligadas é um eufemismo. A injustiça social e a incúria climática são duas faces da mesma lógica de exploração devastadora do planeta e de tudo o que vive. A corrida para o abismo é ao mesmo tempo climática, ambiental, económica, social e política pois é o produto de um dispositivo global. O da governança pelos números de uma imensa máquina algorítmica e financeira.

Que importam os relatórios dos especialistas e as promessas nas cimeiras mundiais? Como diz Ken Loach, "já não é preciso um patrão para explorar as pessoas pois a tecnologia encarrega-se disso."
O capitalismo financeiro devasta o trabalho e o ser humano com a mesma aplicação com que devasta o planeta. E a cada minuto que passa nós próprios nos entregamos ao Leviatan numérico digital todas as informações necessárias para a nossa transformação em mercadoria.

A lógica da financeirização, por ser algorítmica, impõe-se a todos: ao Estados, prisioneiro dassuas dívidas soberanas que representam 75% do PIB mundial. É as mercados e não ao povo que os governos prestam contas. À medida que se reduz a sua margem de manobra e que a corrupção se torna mais visível, desesperam os povos de caminhos políticos colectivos possíveis e, esta desesperança é a mãe das rebeliões.

A rebelião é o momento em que o ser vivo se re-materializa exige o seu direito. Sem argumentos e sem legitimidade, a resposta dos governos é sempre a mesma: repressão cada vez mais feroz. Se a política é, como dizia Foucault, a guerra continuada por outros meios, a sua falência abre a possibilidade de uma guerra dos poderes contra os povos. No dia 21 de Outubro o Presidente do Chile, Piñera, disse, "Estamos em guerra contra um inimigo poderoso e implacável que não respeita nada nem ninguém e que se presta a fazer uso da delinquência e da violência sem limites." O mesmo dizia o ministro francês do Interior sobre a mobilização dos gillets jaunes. A violência da reacção dos governos às insurreições de 2019 é a medida do pânico que inspiraram.

Esse pânico foi visível em França, na Algéria, em Hong-Kong. Os governos vão alternando entre repressão e cedência.















Os povos gritam a sua cólera na Venezuela, no Sudão, no Haiti, no Senegal, na Algéria, no Chile, na Bolívia, nas Honduras, na Guiné Conakry, na Catalunha, em Teerão, como antes na Tunísia e n o Egipto. As semelhanças são idênticas. São rebeliões sem preparação, massivas e largamente populares, resilientes face à violência do Estado.
Surgem ligadas a práticas governamentais sentidas como ameaças à sobrevivência e ao modo de vida ou à liberdade das pessoas e famílias. Não têm, nem ideologia subjacente, projecto político conhecido ou estratégia revolucionária. São movimentos que exigem democracia, justiça, igualdade e moralidade pública.

Vivemos num tempo marcado pelo aumento das rebeliões civis no mundo que parecem ligadas à mundialização numérica e financeira e às suas três lógicas sócio-políticas dominantes: acentuação considerável das desigualdades, financeirização dos dispositivos de governança que alimentam a corrupção das elites e crise dos sistemas políticos, nomeadamente de representação. Este último ponto é essencial. Por culpa do falhanço do sistema de mediação, todas os sofrimentos, tensões sociais e conflitos se tornam potencialmente explosivos. É por isso que as rebeliões, em partes do mundo tão diferentes, se assemelham tanto.

O acentuar das desigualdades e a visibilidade crescente da corrupção minam irremediavelmente a legitimidade dos Estados que já só têm a violência para se fazer respeitar.

Duas décadas de rebeliões:
    2001 : 19-20 décembre soulèvement en Argentine contre le FMI, la dette et l’austérité. « Que se vayan todos »16
  • 2005 : 27 octobre-17 novembre : émeutes en France après la mort de deux jeunes, Zyed et Bouna.
  • 2006 : Mars : mobilisation et blocages contre le Contrat Première Embauche en France.
  • 2008 : émeutes contre la vie chère au Burkina Faso, au Cameroun, au Mozambique (février), au Sénégal (mars), au Bangladesh, en Côte d’Ivoire, en Égypte, à Haïti (avril), en Somalie (mai).
  • Du 6 au 31 décembre : émeutes en Grèce après la mort d’Alexis Grigoropoulos tué par la police.
  • Mars : émeutes au Tibet Chinois.
  • 2009 : 13 juin jusqu’à fin juillet : soulèvement en Iran après la victoire annoncée de Mahmoud Ahmadinejad à l’élection présidentielle.
  • Janvier-mars : grève générale contre la vie chère aux Antilles françaises.
  • Juillet : soulèvement Ouïghours dans le Xinjiang (Chine)
  • 2011 : année du « printemps arabe » : soulèvements en Tunisie, en Égypte, en Libye, au Yémen, en Syrie, au Bahreïn, en Algérie, en Jordanie, au Maroc.
  • 15 mai : lancement du mouvement des Indignés en Espagne.
  • Juin : manifestation et émeutes contre la réforme constitutionnelle au Sénégal.
  • 6-11 août : émeutes en Angleterre (Londres, Birmingham, Leeds, Liverpool, Bristol, Salford, Manchester et Nottingham) après la mort de Mark Duggan, tué par la police.
  • Octobre : lancement d’Occupy Wall Street.
  • Septembre : début de la révolte contre la corruption de Wukan (Guangdong) en Chine.
  • 2012 : « Printemps érable » : mobilisation étudiante au Québec.
  • Janvier mars : révolte contre la corruption de la ville de Wukan  (Guangdong) en Chine.
  • Février-avril : révolte contre les projets hydroélectriques en Patagonie (Aysen).
  • 2012- 2015 : montée exponentielle des attentats djihadistes dans le monde.
  • 2013 : Mai-juin : occupation de la place Taksim à Istanbul et affrontements dans toutes les villes du pays.
  • 21 novembre : début de l’occupation de la place Maidan à Kiev.
  • Juin-juillet : mobilisation contre le prix du bus puis contre la corruption au Brésil.
  • 2014 : Janvier- février : occupation de la place Maidan à Kiev.
  • Mai à juillet : manifestations et émeutes contre le Mundial à Rio de Janeiro, Recife, São Paulo, Guarulhos, Brasília, Belo Horizonte, Salvador de Bahia, Fortaleza, Curitiba.
  • Novembre décembre : mouvement des Ombrelles à Hong Kong.
  • Août : émeutes à Ferguson après la mort de Michael Brown, tué par la police.
  • Octobre : soulèvement au Burkina Faso contre la réforme constitutionnelle et le cinquième mandat de Blaise Compaoré.
  • 2015 : Avril : émeutes à Baltimore après la mort de Freddie Gray, tué par la police.
  • 2016 : Mai : affrontements lors de la mobilisation contre la loi Travail en France. Nuit debout.
  • Émeutes contre la pénurie au Venezuela.
  • 2017 : Janvier : 69 émeutes au Mexique en raison du prix du carburant.
  • Avril à juin : 109 pillages et émeutes au Venezuela contre la pénurie et le régime.
  • 2018 : Janvier : 26 émeutes en Tunisie liées à la vie chère.
  • Janvier : 32 pillages et émeutes au Venezuela contre la pénurie.
  • Avril-mai : résistance de la ZAD de Notre-Dame-des-Landes
  • Mai-septembre : violente mobilisation contre Ortega au Nicaragua.
  • Juillet : violentes manifestations contre la corruption en Irak.
  • Novembre-décembre : soulèvement des Gilets Jaunes et mobilisation lycéenne.
Affrontements lors de mobilisations sociales, urbaines et écologiques
2014
2015
2016
2017
2018
Afrique
85
63
88
128
187
Amérique
131
140
187
200
161
Asie
56
52
35
51
49
Europe
88
31
140
36
174
Total
360
286
450
415
571
Estas vagas sucessivas de revolta não têm escatologia revolucionária nem vontade anarquizante de destruição das instituições. São rebeliões contra a corrupção e a incompetência. A corrupção não tem cor política e alimenta a desesperança global.

A crise profunda da governabilidade combina-se com a perda da visão de um futuro comum. A ameaça da guerra de todos contra todos já se manifesta na crise dos migrantes no Mediterrâneo. O medo das minorias como germes de destruição de uma identidade nacional. Germes de uma desagregação bélica da humanidade num momento em que mais necessitava de unidade. Como dia Harald Welzer, "É necessário um renascimento do pensamentos político enquanto crítica de todo o limite das condições de sobrevivência do outro."

O que faz a Humanidade é a consciência de si mesma e a sua consciência do tempo, da capacidade de sonhar, de esperar, de inventar e de se inventar. O consentimentos dos pobres alimenta-se de uma esperança ou de um medo. A mobilização política tanto capta os sonhos como as cóleras. Ora, os poderes não estão em condições de desenhar um futuro. Os chilenos gritam, "eles roubaram-nos tudo, até o medo." Se hoje-em-dia governar cada vez mais se assemelha à guerra é porque a abolição de um futuro está a tornar os povos ingovernáveis.











O desafio hoje não é o de salvar a democracia representativa mas o de reunir o povo na procura de um futuro comum, uma ética comum.

Ao contrário do que dizem os colapsólogos, o afundamento tanto anunciado não será um afundamento técnico-económico que, de um dia para o outro, porá fim à nossa civilização e, consequentemente, à política. O afundamento anunciado já começou. É no terreno político que ele se manifesta numa escala planetária e as rebeliões não são a causa desse afundamento. Elas são o seu sintoma e podem ser o seu antídoto salutar.

Alain Bertho in le-ffondrement-a-commence-il-est-politique/?
(tradução -sintetizada- minha)

O esgotamento deste modelo político





« Il faut bien avoir à l’esprit que

l’épuisement des possibilités de ce monde

signifie tout autant celui de l’action politique

qui allait de pair avec lui. »



Marcello Tari

(citado por Alain Bertho)

A way to blue

































Wonders of Universe

November 27, 2019

A chatice dos factos




Estado gasta hoje menos 700 milhões de euros na Educação do que há 10 anos
Numa perspetiva que abrange toda a despesa do Estado com educação exceto o ensino superior, os números apontam para um aumento de 108 milhões de euros face ao ano anterior e uma diminuição de cerca de 12% (menos 867 milhões de euros), em comparação a 2009.

O que o governo tem atirado para cima de nós, professores




Hoje resolvi, ou melhor, deixei encaminhado um caso de um aluno com um passado muito difícil e muito, muito complicado, não só em casa mas em situações escolares e sociais e sem apoio capaz de o ajudar a um nível satisfatório. Só este caso levou-me duas semanas a pensar o que fazer, desde que o processo (gigantesco) dele chegou à escola e mais duas a resolver. Metia problemas de saúde física e psicológica. Telefonemas para contactos que tenho e que arranjam consultas e acompanhamento, conversas com o aluno (que começou por não querer ajuda), com a mãe, evidentemente, que quer muito ajuda para o filho, etc.

A questão é que não sou, não somos, nós professores, assistentes sociais. Dantes, não éramos nós que tratávamos dos processos dos alunos, agora somos. É claro que uma pessoa pode ignorar o que lê no processo e fazer só o que a lei manda que é encaminhar para a equipa de apoio e lavar as mãos mas, porque vemos que elas são poucas e também não são especialistas (a não ser uma pessoa que é psicóloga mas não tem formação para casos assim complicados) e porque uma pessoa não consegue ler aquilo e ficar de braços cruzados, acaba por ter uma trabalhão que não lhe pertence. O trabalho que fiz é para uma assistente social, não é para mim. Assim como o trabalho de sinalizar alunos para a CPCj também é para uma assistente social e não para mim. Isto não é o trabalho de um professor.

E não tenho tempo para gastar assim semanas a tratar de um caso porque tenho quase sessenta alunos nas duas DTs e tenho o trabalho regular das turmas para fazer: preparar aulas, fazer fichas, testes, classificar... Cheguei a casa, estou a receber emails das turmas do 10º ano que têm teste esta semana. Já respondi... Epá! Ninguém nos paga para isto... Não admira que as pessoas andem exaustas. Os governos tratam-nos muito mal e abusam de nós. Nós somos o contentor para onde atiram tudo e mais alguma coisa que não querem ver nem tratar e em doses cavalares. Carradas de alunos, de turmas, de trabalho extra...

Não admira que todos queiram ir embora e ninguém queira ser professor.

Compensações




... que a vida não pode ser só frustrações, esperas, incertezas, distâncias, doenças e negações. Por cada negação, frustração, distância, espera e incerteza, vou passar a compensar com um marcador somático positivo, como este aqui... este são vários... oito bombons e duas orangettes 🙂 é suposto durem três dias mas não estou a ver que durem tanto, não...



Este governo socialista




O fisco leva-nos quase tudo, o Centeno gaba-se de ter 1000 milhões a mais (13.7 milhões por dia...) mas para onde vai o dinheiro? Para pagar as dívidas aos hospitais de modo a termos acesso aos medicamentos e podermos tratar-nos? Não... vai para a banca porque eles merecem como diz o Presidente que, como alguém dizia outro dia, é um Américo Tomás dos nossos tempos. Já nós, os doentes, não merecemos nada e o grande presente de Natal que dávamos ao país era mesmo finarmo-nos, se possível antes do Natal, para o Centeno poupar ainda mais dinheiro. Para a banca e os amigos.



Fisco saca 137 milhões por dia

Cofres do Estado recebem mais 4,5 milhões por dia do que em igual período de 2018
Finanças revelam excedente de quase mil milhões 
Presidente da República admite possibilidade de nova injeção de capital no Novo Banco este ano

November 26, 2019

O nosso país é isto...




Quando me ligam do hospital a dizer que não vale a pena aparecer lá amanhã para fazer o tratamento oncológico porque não têm o medicamento. Talvez para a semana, não há a certeza...

Optimismo III - realizar que há pessoas que vivem para construir em vez de destruir






Carlos Lopes Pereira é moçambicano e venceu o prémio "Príncipe William para a Conservação da Natureza em África", atribuído anualmente como reconhecimento de quem pela sua dedicação ao longo de vários anos contribui para a conservação da vida selvagem em África.

Este veterinário ajudou a fomentar o estabelecimento de leis de proteção da vida selvagem de Moçambique, a restaurar o Parque Nacional da Gorongosa após décadas de guerra civil e, mais recentemente, a impedir a caça furtiva de elefantes na Reserva Nacional do Niassa.

Ao aceitar o seu prémio das mãos do duque de Cambridge, Carlos Lopes Pereira disse: "Todos nós temos a responsabilidade de difundir conhecimento, conscientização e educação sobre a natureza e sobre como dependemos dela. Devemos desafiar quaisquer mitos e crenças culturais que ponham em perigo a vida selvagem, e devemos enfrentar a escuridão do crime organizado".

Optimismo II - realizarmos a pregnância da História




... e a capacidade de sonho, talento e perseverança por detrás de tantos edifícios por que passamos todos os dias, materializações dos sonhos de alguém, com um pé no seu tempo e outro na eternidade.
Passado, presente e futuro.




Architetto David Napolitano

Holkham Hall, obra-prima de William Kent e da arquitetura palladian no Reino Unido.
[as colunas são jónicas]


Optimismo é realizar que as árvores com os troncos cheios de cicatrizes também florescem lindas 🙂

































Savitri Ari Ernaningtyas‎

Citação deste dia





As revoluções não são factos que se aplaudam ou que se condenem. Havia nisso o mesmo absurdo que em aplaudir ou condenar as evoluções do Sol. São factos fatais. Têm de vir. De cada vez que vêm é sinal de que o homem vai alcançar mais uma liberdade, mais um direito, mais uma felicidade. Decerto que os horrores da revolução são medonhos, decerto que tudo o que é vital nas sociedades, a família, o trabalho, a educação, sofrem dolorosamente com a passagem dessa trovoada humana. Mas as misérias que se sofrem com as opressões, com os maus regímens, com as tiranias, são maiores ainda. As mulheres assassinadas no estado de prenhez e esmagadas com pedras, quando foi da revolução de 93, é uma coisa horrível; mas as mulheres, as crianças, os velhos morrendo de frio e de fome, aos milhares nas ruas, nos Invernos de 80 a 86, por culpa do Estado, e dos tributos e das finanças perdidas, e da fome e da morte da agricultura, é pior ainda. As desgraças das revoluções são dolorosas fatalidades, as desgraças dos maus governos são dolorosas infâmias.


Eça de Queirós, in 'Distrito de Évora'


Estar a chegar o tempo dos políticos e outros 'especialistas' irem para as escolas, pessoalmente, testar as suas ideologias de estimação




Já agora se vão buscar professores sem formação para certas disciplinas críticas para as quais se tornou muito difícil encontrar professores. Outro dia, uma aluna disse-me que este todo o oitavo ano sem professor de português. Vários da mesma turma estiveram sem professor de Geografia no ano passado. Quase todos os alunos já têm experiência de estar períodos extensos sem professor de alguma disciplina. Daqui a uns anos, segundo a lei da oferta e da procura, dado o desinteresse por uma profissão tão maltratada, qualquer um, mesmo, é professor. É então que os políticos podem ir, pessoalmente, testar as suas ideologias in loco.



Na página 51 do Estudo do CNE é apresentado um quadro com a previsão anual de aposentações até 2030, por grupo de recrutamento.

*foram apenas considerados os grupos de recrutamento com 500 ou mais docentes com 45 ou mais anos a 1 de setembro de 2019

Amanhece





A poética do espaço










~John Sell Cotman (1782–1842)

Arches in the West Side of the Cloister of Saint. Georges de Bocherville, near Rouen, Normandy, circa 1818 Graphite and brown wash and brown ink on medium smooth cream wove paper. Height: 238 mm (9.37 ″); Width: 337 mm (13.26 ″) Yale Center for British Art

Leituras pela madrugada - Saudade: the untranslatable word for the presence of absence




Saudade: the untranslatable word for the presence of absence

Michael Amoruso



Writing in 1912, the Portuguese poet Teixeira de Pascoaes defined saudadeas ‘desire for the beloved thing, made painful by its absence’. It is an acute feeling, often described as occurring in the heart. The language of saudade is evocative. Portuguese speakers complain of ‘dying of saudades’ (morrendo de saudades), or wanting to ‘kill saudades’ (matar saudades) by fulfilling desire. Though hyperbolic, the word’s morbid poetics throw light on how affective ties make for a meaningful human life....
...
Are there culturally specific emotions? At issue is whether the emotions signified by words such as saudade are unique to particular cultures, or instead whether humans everywhere can experience the same range of emotions but recognise and emphasise those emotions differently based on the cultural availability of certain emotion concepts. The psychologists Yu Niiya, Phoebe Ellsworth and Susumu Yamaguchi suggest that ‘emotions named by a language may act as magnets for emotional experience, attracting undefined feelings’ toward well-known concepts. This would also mean that emotion words such as nostalgia or saudade take on different affective shadings in different places and historical periods.

Brazilian intellectuals have often distinguished their saudade from that of the Portuguese. In 1940, the Brazilian writer Osvaldo Orico described Brazilian saudade as ‘more happy than sad, more imagination than pain … a saudadethat does not cry, but sings’.

November 25, 2019

A kind of graffiti




Não sei ao certo se disseram isto mas podiam tê-lo dito.

Maks Viktor Antiquarian Books


Antecipando a noite








Estava sol e de repente ficou assim e a temperatura baixou imenso



Precisava de um inventor ajudante




Já inventei tanta proposição lógica, tanto argumento e tanto exercício que já falha a imaginação e começam a sair parvoíces. Fui ali ler uma página de Padre António Vieira para voltar à realidade. Vi lá argumentos mesmo a jeito para pôr num teste. Não sei se os alunos vão gostar :) just saying...





Tudo que respeita à educação entrou numa espiral de insanidade...




Fui ver a informação de exame de Filosofia, que agora se chama prova... enfim, dou com isto escrito:

Objeto de avaliação

A prova tem por referência os documentos curriculares em vigor para os 10.º e 11.º anos (Programa de Filosofia e Aprendizagens Essenciais) e permite avaliar a aprendizagem passível de avaliação numa prova escrita de duração limitada. 


A sério que escreveram isto??? "Avalia a aprendizagem passível de avaliação"e "numa prova de duração limitada"... isto para quê? Porque os novos pais podem queixar-se que pensavam que a prova era até à eternidade? E que avaliava o que é não é avaliável? Ou os novos alunos do, 'aprender a aprender' poderiam alegar que pensavam que o teste, digo, a prova, podia levar-se para casa e acabar quando desse jeito, num ano mais conveniente?
Já agora porque não acrescentam que a prova dirige-se a seres humanos bípedes e mortais? Ou outra lapalissade do género?
Qualquer dia incluem na informação do exame o significado da palavra informação não vá alguém pensar que a informação é já a prova.
O pior é que depois nas escolas toda a gente se põe a imitar estas parvoíces com medo que lhes caia o céu na cabeça...

(já agora que estamos aqui: o meu PC não deixa abrir os documentos do IAVE. Diz que o site é inseguro. Calculo que não tenham pago o domínio...?)

Acerca do 25 de Novembro, das datas que dividem e dos que defendem a censura




Só faço notar duas coisas:

1. O 11 de Março dividiu-nos, cerceou-nos a liberdade e pôs-nos à beira de uma guerra civil, o 25 de Novembro pacificou-nos e devolveu-nos a liberdade;

2. Os que defendem e tentam silenciar, ostracizar, censurar, calar, proibir não são os que estão do lado da liberdade.



Porquê a arte? Não sei, mas tem de ser. É como o café da manhã, sem ele não funcionamos de modo são




Ontem a Manuela e eu fomos ver a Bela Adormecida. Uma companhia de ballet russa mas da 2ª divisão... teve partes boas e partes cómicas. Foi de menos a mais. Se o bailado tivesse mais um acto acabavam a dançar muito bem. Ou estiveram a aquecer durante o primeiro acto ou, como diz a Manuela, levaram um puxão de orelhas ao intervalo porque vieram de lá a dançar consideravelmente melhor. Aquilo é difícil porque o bailado é quase todo dançado em pontas mas, mesmo assim, o primeiro acto foi um desatino. Salvou-se a fada má que por acaso era um homem, um feiticeiro espectacularmente expressivo.
A plateia estava cheia de pais, enfim, mais mães que pais, com mais filhas que filhos. Estávamos rodeadas por miúdas entre os 6 e os 10 anos. Todas numa grande excitação. Algumas via-se que devem praticar ballet, outras mesmo só pela magia que são os espectáculos que se passam num palco iluminado com bons cenários, dança, cores alegres e boa música numa sala escura. Foi giro.

Citação deste dia




“My faith in realism and my faith in critical rationalism are not, however, commitments, but merely conjectures, since I am quite ready to give them up under the pressure of serious criticism. Yet with respect to realism I feel very near to Parmenides. For should I have to give up realism I think I should lose all interest in ideas, since the only reason for my interest is my desire to learn something about the world, and for this we need ideas, especially theories about the world. It seems to me almost miraculous that we have learnt so much about the world, even though all this knowledge is conjectural, and beset with unsolved problems, which constantly remind us how little we know.”

― Karl Popper, 'The World of Parmenides'.

The stars within

















Deb Garlick